Política econômica traz argentinos para Foz e freia brasileiros em Puerto Iguazú

Puerto Iguazú

Moradores de Puerto Iguazú iniciaram uma corrida para fazer compras em Foz do Iguaçu, e turistas brasileiros passaram a consumir menos na Argentina. As mudanças econômicas do governo Javier Milei, que neste mês completa um ano no comando da Argentina, já são visíveis na economia do país vizinho.

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Com o peso mais valorizado, a população de Puerto Iguazú voltou a frequentar supermercados e lojas de confecções de Foz do Iguaçu. A perspectiva também é que neste ano as praias do litoral catarinense recebam uma enxurrada de argentinos.

Por outro lado, as mudanças econômicas afastam os brasileiros de Puerto Iguazú. O custo das mercadorias e de restaurantes começou a pesar no bolso dos turistas, que, apesar de ainda frequentarem a cidade, passaram a consumir menos.

Aduana argentina
Brasileiros continuam indo ao país, mas consumo caiu. Foto: Marcos Labanca

Atendente de uma loja de frios e produtos típicos da Argentina, Jorge Benuzzi, 72´anos, avalia que a situação econômica no país está melhor, ao contrário do que ocorre no Brasil. Ele diz que a inflação baixou, o dólar se mantém, embora ainda seja necessário aumentar um pouco o salário.

Apesar disso, o movimento de brasileiros em Puerto Iguazú não é mais o mesmo de um ano atrás, o que resulta em menos vendas. “O preço dos produtos se manteve, o que passa é que o real baixou” , afirma Benuzzi.

O que hoje ainda compensa para os brasileiros comprar na Argentina são produtos típicos do país, a exemplo de vinho e queijo. Para quem frequenta restaurantes, a conta está bem maior que há um ano atrás.

Responsável por uma loja de roupas no centro de Puerto Iguazú, Maria Valleau, 57 anos, avalia positivamente a política econômica do governo atual, mesmo diante da queda de movimento no comércio. “Está muito apertado, mas sabemos que vai melhorar mais”, acredita.

Puerto Iguazú
Para Maria Valleau, a situação do país está melhor. Foto: Marcos Labanca

Ela a diz que as pessoas começaram a pensar em trabalhar e estudar, e não mais em depender de benefícios sociais do governo.

Para o taxista Júlio Fernandez, 63 anos, a situação no país hoje é espetacular. “Está melhorando, o salário está durando mais”, conta.

Vai e vem cambial

Com a mudança cambial, Fernandez passou a levar muitos moradores de Puerto Iguazú para fazer compras em Foz do Iguaçu. Eles buscam produtos de limpeza, macarrão, leite, achocolatado, carne e frango, revela.

Taxista argentino
Júlio Fernandez está otimista com os rumos do país. Foto: Marcos Labanca

Enquanto isso, a corrida descontrolada de brasileiros e paraguaios aos postos de Puerto Iguazú para encher o tanque não existe mais. A gasolina na cidade vizinha está custando quase R$ 6.

Profissional da área de turismo, o argentino Diego Toja informa que os preços dispararam no país. O aluguel de um apartamento em Puerto Iguazú, que custava R$ 800, hoje está em R$ 2.200.

No entanto, a equação cambial ainda favorece os argentinos. A desvalorização do real diante do dólar e a valorização do peso fazem com que o Brasil seja um refúgio econômico para os argentinos.

A expectativa, diz, é que as praias de Santa Catarina e até do Rio de Janeiro fiquem cheias de argentinos nesta temporada. Diego menciona que com o valor de uma passagem entre Puerto Iguazú e Bariloche hoje consegue ir três vez ao Rio de Janeiro. “Nós já vivemos isso nos anos 90”, lembra.

Hoje, conta, o café em cápsula em Puerto Iguazú custa cerca de R$ 80, enquanto em Foz o valor é R$ 20. Para Toja, é preciso reativar a economia argentina e o movimento industrial no país.

No ano passado, segundo ele, um real equivalia a 270 pesos, nesta época do ano. Hoje, um real está em cerca de 190 pesos argentinos.

Nas redes sociais, tiktokers e influencers fazem posts para mostrar a diferença de preços do Brasil e da Argentina para algumas mercadorias, incluindo leite, refrigerantes e cerveja.

Conformidade ideológica

A redução do consumo interno e a necessidade de cruzar a fronteira para comprar no Brasil não incomodam muitos dos argentinos, porque há uma conformidade ideológica com a política do governo atual, explica o professor de Ciência Política da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) Felix Pablo Friggeri.

Ele ressalta que o ambiente empresarial e da iniciativa privada absorve o viés ideológico de que o Estado deve deixar de apoiar as pessoas mais pobres.  

Friggeri explica que o consumo diminuiu de uma forma brutal na Argentina, que hoje tem uma inflação menor, porém ainda maior que a brasileira. Por isso, aceitar o governo Milei é ideológico e contrafático. “É uma postura mais ideológica do que real”, realca.

Na análise do professor, o plano econômico do governo produz excedentes exportáveis. O consumo interno retraiu 40%, incluindo o da carne, um dos produtos mais procurados no país. Por isso, a resposta da população é não consumir.

Na política econômica anterior havia uma equiparação entre inflação e salário. Agora, houve uma brutal subida de preços, e não do salário, destaca.

Para ele, o governo atual tem um modelo econômico ideológico que faz com que o pequeno empresário assuma o discurso de quem possui uma grande empresa.

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