‘Selic não está diferente do que sempre foi’, diz fundador Éxes

Artur Carneiro, fundador da Éxes
Artur Carneiro. Foto: Éxes / Divulgação

A alta da taxa Selic, que passou para 12,25% na quarta-feira (11), preocupa o mercado, mas não deve levar a um ritmo de investimentos muito diferente do que já tem sido observado nas últimas décadas. É isto o que pensa Artur Carneiro, fundador da gestora paulista Éxes, especializada em FIIs e Fiagros.

O executivo vê, inclusive, que 2025 pode representar uma oportunidade para o crédito, com a continuidade de uma migração paulatina de investidores para esse mercado, em busca de isenções.

“A gente imagina que os empresários continuem num ritmo muito parecido com o das últimas décadas, piorando a perspectiva em termos do que poderia ser, mas não muito diferente do que sempre foi”, disse o empresário ao BP Money.

Fazendo um balanço do mercado de crédito em 2024, Carneiro avalia que o assunto mais marcante do ano foi o processo de recuperação judicial da Agrogalaxy, comparando o evento, em relevância, ao caso das Americanas.

Apesar de ter tido um impacto grande nas cotas listadas em bolsa neste ano, o fundador acredita que o processo da Agrogalaxy pode gerar oportunidades, com a tendência de recuperação, como aconteceu com o mercado de fundos de crédito em 2024, após o caso das Americanas.

Confira a entrevista

Pode contar um pouco da história da Éxes?

Eu e o Bruno Licarião (cofundador da Éxes) nos reencontramos em 2027, víamos o mercado de capitais crescendo muito, com o advento de plataformas que abriam todo um espaço para o mercado sair daquela consolidação que existia, de todo mundo restrito a seu grande banco e a limitação de ativos que refletia a restrição de acesso.

A gente, por ter trabalhado muito tempo juntos em um grande banco de investimentos com uma mesa proprietária de crédito, pensamos que está na hora do mercado olhar para aquele tipo de crédito que antes só ficava dentro das mesas proprietárias dos bancos.

Na nossa leitura, faltava esse espaço para a gente conversar com o investidor final e faltava tecnologia para estruturar o acompanhamento da operação ao longo da vida dela.

Aí, com esse know how de mesa proprietária de bancos, trouxemos esse conhecimento para a Éxes, num primeiro momento com uma casa de estruturação.

Aí, em 2020, a gente começa o nosso primeiro fundo e hoje temos uma família de fundos, com quase todos os tipos de crédito, de maneira que o investidor possa escolher aquele risco que ele gosta, da maneira que ele prefere, e principalmente usufruindo das isenções.

Dentro da ideia de aumentar o caminho do acesso ao crédito e ser esse grande interlocutor entre os investidores e o mercado, a gente continuou trazendo novas empresas e dentro da gestora começamos a prestar serviços de wealth management para alguns investidores.

E então a gente constituiu uma securitizadora, que acaba sendo o ponto principal de interface ao longo da operação com alguns empresários. A gente achava que essa proximidade era importante.

Já tínhamos dentro da gestora um trabalho importante de replicar todos os controles que a securitizadora fazia, para evitar que uma falha dela acabasse impactando nossos riscos, por isso a gente decidiu começar com a nossa securitizadora.

E recentemente a gente abriu uma o coordenadora, para que pudéssemos atuar nas ofertas dos nossos fundos e também em ofertas públicas, que acessam o mercado em geral, tendo um leque quase inteiro de oportunidades para fazer esse link entre empresários e investidores.

Como estão as operações da securitizadora da Éxes?

As operações da securitizadora estão para começar. A gente tem um pipeline bem robusto de operações que provavelmente vão começar ainda neste mês. A nossa intenção é estar ainda mais perto do empreendedor e já ter um pipeline, que ainda não ensejou a primeira oferta, mas está muito próximo.

Quais foram os principais resultados da Éxes em 2024?

Neste ano a Éxes cresceu cerca de 50% no resultado da gestora e mais do que dobramos o tamanho da área de estruturação, tanto em termos de performance quanto em termos de emissões totais. Hoje, temos R$ 1,2 bilhão sob nossa gestão.

E quais foram os desafios de 2024?

O ano de 2024 teve um principal evento marcante, que foi a Agrogalaxy. Assim como 2023 ficou um pouco marcado pelas Americanas, em 2024 o grande ativo de crédito que chamou atenção foi a Agrogalaxy.

Isso certamente gerou muita preocupação e um pouco de arrefecimento de apetite pelo segmento do Agro por parte de investidores, principalmente os não profissionais.

Mas, na minha visão, para 2025 isso surge como modelo de oportunidade. Então eu gosto muito de fazer essa relação da Agrogalaxy com as Americanas, porque em 2023 essa grande preocupação que o evento das Lojas Americanas gerou no mercado como todo fez com que vários investidores resgatassem de fundos de crédito, gerando uma corrida grande pelos resgates e a busca por liquidez.

Isso fez com que os preços dos ativos subissem bastante, então quem comprou operações de crédito em 2023 conseguiu taxas muito importantes para ativos, que precisavam ser vendidos para trazer liquidez para investidores.

Vindo para 2024, a gente não tem essa questão dos resgates, mas tem um impacto muito grande nas cotas listadas em bolsa, que tendem a se recuperar com os resultados, como aconteceu com o mercado de fundos de crédito em 2024, com captação recorde por causa dos resultados acumulados durante aquele período de volatilidade das Americanas e muitas oportunidades que surgem.

Então acho que, quando tem muito capital disponível, a competição faz com que as operações acabem saindo com um risco vs. retorno mais apertado. A competição vai fazendo com que as taxas fiquem mais comprimidas, as operações tenham menos garantia e as próprias regras acabem ficando um pouco mais frouxas.

Quando o mercado fica um pouco mais receoso, como aconteceu com o agro em 2024, o cenário é o oposto, então as empresas estão em busca de capital e elas acabam colocando maiores garantias ou aceitando condições mais favoráveis aos investidores para alongar as dívidas, para continuar operando. Então a gente vê uma oportunidade muito grande dentro do segmento nesse início de 2025.

E o que você espera para 2025?

A gente termina 2024 com o Banco Central sendo o tema principal do mercado, com o aumento de juros, então a perspectiva do mercado como um todo é de um ano de menor crescimento, dada a restrição que o próprio BC pretende impor com essa política de aumento juros, cada vez mais presente.

Mas, apesar dessa desaceleração e do menor volume de operações que o mercado tende a fazer, para o mercado de capitais é um ano muito positivo, a gente vê o CDI chamando muita atenção dos investidores como um todo, que certamente vão levar muito do capital para títulos de menor risco e também vão buscar por crédito.

A gente acha que existe uma oportunidade muito grande dentro disso, já que o investidor vai estar ávido por esse tipo de ativo, em especial ativos que tenham benefícios fiscais, porque eles acabam ficando ainda mais relevantes quando há juros altos, visto que o imposto é percentual à rentabilidade, então quanto maior a rentabilidade, mais impactante é essa isenção ou esse diferimento que o crédito permite.

Então a expectativa é muito positiva do ponto de vista de captação de recursos e, para as operações, a gente acha que o cenário de juros altos não é tão diferente do que o investidor já vivenciou no passado. Dessa forma, é um nível de atividade econômica abaixo do que poderia ser, porém não é tão diferente do que já foi, juros altos no Brasil não é uma grande novidade.

De 2000 para cá os juros sempre tiveram uma média alta e, apesar de terem ficado mais baixos nos últimos anos, ficaram próximos dos 13% de média, que não é tão longe do patamar que o mercado estima que a Selic possa atingir.

A gente imagina que os empresários continuem em um ritmo muito parecido com o das últimas décadas, piorando a perspectiva em termos do que poderia ser, mas não muito diferente do que sempre foi. Já para a captação dos investidores a gente continua a ver essa migração paulatina de outras frentes de investimento para o crédito em geral.

Como deve ser 2025 para a Éxes?

A gente conseguiu concluir a abertura dessas duas novas empresas agora no finalzinho de 2024, a securitizadora e a coordenadora, então 2025 é um ano de consolidação e imagino que a securitizadora já tenha emissão neste ano, mas o ano já está chegando próximo do fim, próximo do natal, então a gente imagina que vai acelerar mesmo em 2025.

Para 2025 a gente também muda de escritório. O time cresceu bastante neste ano (de 19 para 25 colaboradores), até com as novas empresas, então em 2025 a gente já começa de casa nova.

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