Se o gestor não usa transporte público, por qual motivo vai incomodar-se?

Ponto de ônibus em estado de abandono denuncia a falta de importância à mobilidade urbana e ao cidadão.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Os inúmeros problemas com o transporte público arcaico, relatados em matéria neste H2FOZ, que fazem o morador optar por bicicleta ou moto, não são “privilégio” unicamente de Foz. Mas refletem a falta de cuidado dos gestores públicos com a mobilidade urbana. A impressão que temos é a de que a cidade é pensada apenas para quem pode virar-se com seu próprio veículo, sendo o transporte público a última opção, quando deveria ser a primeira.

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E não é por falta de recursos, de investimentos. Há muito dinheiro destinado a esse setor. Há, inclusive, empresas que ganham rios de dinheiro explorando a exclusividade das linhas, que muitas vezes são a única opção para que o trabalhador que mora longe do trabalho chegue até ele.

Muitas cidades brasileiras e do mundo afora estão adotando a ideia do passe livre. O município estima qual é o percentual da população que vai usar o transporte coletivo e paga mensalmente esse valor. O usuário tem entrada livre, desde que possua cartão eletrônico. A entrada não é gratuita porque é com o dinheiro de seus impostos que a conta vai ser paga no final do mês, mas ao menos não sai diretamente de seu salário.

Essa é uma medida que tem sido apontada como um caminho rumo à universalização do transporte. Porém esse grande avanço não pode parar por aí, pois não pode resumir-se a isso. Apenas isso não é suficiente, se as linhas do transporte público não atingem todos os pontos da cidade com alternativas de horário que facilitem o deslocamento da população.

Mas voltemos a Foz do Iguaçu, que não tem transporte com entrada franca e sequer ponto de ônibus decente para o usuário aguardar sua condução.

Como um gestor público não se envergonha de ver uma foto como a que estampa a capa do texto? Ah sim, ele não usa transporte público e não se distancia a mais de 7km do centro da cidade para deparar-se com tal cena.

Esse ponto de ônibus, se é que podemos chamar assim, é o que recebe as linhas 120 e 105, com destino ao Loteamento Mata Verde. Provavelmente não é o único. E reflete a falta de olhar para a população. É o poder público sugando os impostos e dando as costas a quem mais precisa!

Quando o poder público não resolve os problemas da população, ela busca suas próprias alternativas. Como mostra a citada reportagem, muitos trabalhadores se obrigam a usar bicicletas ou motocicletas, situação essa que pode agravar os acidentes de trânsito. Ou seja, é uma bola de neve, um veículo sem freio que vai em direção de quem menos pode proteger-se.

Se houvesse preocupação com o bem-estar do cidadão, haveria também um mecanismo para assegurar que ao menos os pontos de ônibus tivessem segurança e conforto. Mas isso é sonho distante. Deixa o conforto reservado a quem está nos gabinetes fechados, confortáveis sob o ar-condicionado.

Gestor público, escolhido pelo voto popular, deveria passar por curso de treinamento. Deveria ser obrigatório qualquer um eleito estudar sobre a cidade, o estado e o país para o qual irá atuar e do qual vai receber seu salário. Gestor público devia não apenas tirar foto perto do povo, deveria ir vivenciar o dia a dia do centro e periferia da cidade. Melhor ainda se não tivesse uma frota disponível com motorista.

Se ele dependesse de transporte público, a foto que ilustra a matéria só seria possível com inteligência artificial. Contudo parece que o que temos mesmo, com raras exceções, são gestores artificiais, que governam para as redes sociais e esquecem a realidade das ruas e mesmo os pontos de ônibus.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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