Selic mantida em 10,5%: 5 pontos para entender o tom mais duro do comunicado do Copom

No comunicado sobre a decisão de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central adotou um tom mais duro, com algumas mudanças em relação ao anterior, e se diz vigilante, reforçando  o compromisso de convergência da inflação à meta e não descartando uma eventual alta na taxa básica de juros.

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Esta é a segunda reunião consecutiva que termina com a decisão de deixar a taxa básica de juros inalterada. Mais uma vez a decisão foi por unanimidade. Em sua reunião anterior, em junho, o Copom interrompeu um ciclo de sete cortes consecutivos e decidiu manter a Selic em 10,5%.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, listou os principais pontos do comunicado que mostram um tom mais duro do Copom na decisão desta quarta-feira, 31.

  • Inflação: o comunicado diz que o processo de desinflação do IPCA está arrefecendo, e que as medidas subjacentes seguem acima da meta. O Copom deixou suas projeções de inflação para 2024 e 2025 como uma nota de rodapé, substituindo-as pela projeção para o primeiro trimestre de 2026 – que ficou em 3,4% no cenário de referência e 3,2% no cenário alternativo.
  • Balanço de riscos: o comitê citou 3 riscos de alta e 2 riscos de baixa para inflação, diferente das reuniões anteriores, em que falava de 2 riscos para cada lado. A novidade ficou por conta do acréscimo de políticas econômicas internas e externas com impacto inflacionário, “por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais elevada”.
  • Câmbio: o BC está preocupado com a desvalorização do real, e deixou isso em evidência no comunicado.
  • Política fiscal: o Copom diz que a percepção do mercado sobre a trajetória do endividamento do governo tem impactado as expectativas e preços de ativos, destacando que uma política fiscal comprometida contribui com a ancoragem da inflação.
  • Sinalização sobre trajetória: o comitê diz que que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.” Ou seja, não se descarta uma alta na taxa Selic. Diz, ainda, que os juros permanecerão contracionistas até que se consolidem o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas.

“Embora não tenha se comprometido com os próximos passos, o Copom trouxe, sim, uma postura ainda mais cautelosa que na decisão anterior. Ao falar de política fiscal, mercado de trabalho, desancoragem das expectativas e depreciação cambial o BC deixou bastante claro não só que os motivos de preocupação são muitos, mas também que eles cresceram desde a última reunião”, diz a economista.

Segundo ela, são duas as questões centrais que serão acompanhadas mais de perto pelo BC: a política monetária nos EUA e seus impactos no câmbio, com peso maior, e a política fiscal brasileira e seus impactos na desancoragem das expectativas, com peso um pouco menor.

“Diante da eminência de um corte de juros nos EUA, nosso cenário base, com aumento considerável de risco, ainda contempla a manutenção da taxa Selic em 10,5% até o final de 2024. Uma revisão ou não dependerá do comportamento de algumas variáveis nas próximas semanas”, acrescenta Veronese.

Veja a íntegra do comunicado do Copom

“O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A desinflação medida pelo IPCA cheio tem arrefecido, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1% e 4,0%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026* situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.**

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

* A comunicação da projeção para seis trimestres à frente, correspondendo ao primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, está em consonância com a nova sistemática de meta para a inflação estabelecida pelo Decreto 12.079/2024 com vigência a partir de 1º de janeiro de 2025.”

** Em seu cenário de referência, no qual a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,55/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom para os anos-calendário situam-se em 4,2% para 2024 e 3,6% para 2025. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 5,0% em 2024 e 4,0% em 2025. No cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025. Em ambos os cenários, o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.

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