Por que o desemprego em mínima histórica não é boa notícia para o mercado e o BC

Com a taxa de desemprego em queda e atingindo mínimas históricas, o Banco Central (BC) tem mais uma variável que corrobora a expectativa de que os juros terão que subir ainda mais na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), já na próxima semana. Alguns bancos já projetam uma alta de até 1 ponto percentual, o que levaria a Selic para 12,25% ao ano.

Mas por que os bons números do mercado de trabalho não é uma boa notícia para o mercado e para o Copom?

+Taxa de desemprego atinge 6,2%, menor patamar desde 2012

Os dados divulgados nesta sexta-feira, 29, vieram dentro do que já era esperado pelos analistas e confirmam um mercado de trabalho aquecido, ou “apertado” como fala o mercado. A taxa de desemprego de 6,2% foi a menor da série histórica iniciada em 2012, e chega ao mesmo momento que o dólar ultrapassou a cotação de R$ 6 pela primeira vez na história, na esteira da frustração com o pacote fiscal apresentado pelo governo.

Na visão do Itaú, por exemplo, o pacote ficou “aquém do esperado e pode ser insuficiente para garantir o cumprimento do arcabouço até 2026, com poucas mudanças estruturais capazes de alterar a dinâmica recente das despesas, trazendo mais medidas de ganho de flexibilidade orçamentária do que de redução efetiva de gastos”.

É esse contexto de economia aquecida, preocupação com a dívida pública e de inflação em aceleração e acima do teto da meta que reforça as apostas de uma decisão mais austera – hawkish, como fala o mercado – na próxima reunião sobre taxa de juros do BC.

O cenário é análogo ao visto há meses atrás nos Estados Unidos, quando as bolsas de Nova York recuavam após dados de emprego – o Payroll – superarem as estimativas. Emprego em alto reflete uma economia aquecida, o que dá  margem para que os juros sejam mantidos altos por mais tempo, ou elevados em maior intensidade.

‘A notícia ruim é que está bom’

Nos últimos dias, analistas esperam uma alta da Selic maior do que a prevista anteriormente, com uma elevação de 0,75 p.p. nesta última reunião do ano do Copom, ante a alta de 0,50 p.p. na reunião de novembro, o que faria a taxa de juros fechar 2024 em 12% ao ano.

“Isso tudo seria motivo de comemoração – e de fato é uma ótima notícia – mas como tenho apontado há algum tempo o mercado está de tal forma que ‘a notícia ruim é que está bom’, ou seja, melhoras na atividade real são contabilizadas como pressões inflacionárias difusas que por sua vez exigem mais juros”, afirma o economista André Perfeito.

Yihao Lin, gerente de análises econômicas da Genial Investimentos, também avalia que os números de emprego, junto ao pacote fiscal, reforça uma tese de um BC que irá elevar os juros de forma mais intensa. A expectativa da casa é de uma alta de 1 p.p. para a próxima reunião, levando a Selic para 12,25%.

“Sem dúvidas esses dados pressionam [o Banco Central] Os dados de atividade, excluindo a parte fiscal, essa piora por conta do pacote, já corroboram um cenário de no mínimo uma aceleração para uma alta de 0,75p.p. na próxima reunião”, diz.

“Os números referentes ao mês de setembro surpreenderam muito o mercado. Temos um choque de realidade, a economia está desacelerando de maneira muito mais lenta do que esperávamos, o BC tem um trabalho maior a ser feito no ciclo de política monetária”, acrescenta Lin.

A tese foi endossada, inclusive, pelo próprio diretor de política monetária do Banco Central – e futuro presidente da autarquia – Gabriel Galípolo. O diretor observou, em evento na quinta-feira, 28, que a economia doméstica vai bem, com crescimento surpreendendo para cima e a taxa de desemprego em nível baixo, e que isso reforça uma condução de política monetária mais austera.

“O BC é o cara chato da festa, de diminuir o som quando as coisas parecem estar indo bem. Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse Galípolo.

‘Perspectiva para investimentos é mais preocupante’

Lin, da Genial, aponta que o Brasil teve um avanço importante na taxa de formalidade ao longo de 2024, refletindo reformas aprovadas no passado, como a trabalhista, que reduziu o custo de contratação para empresas.

“Quando olhamos o dado do trimestre, temos um recuo da formalidade, mas foi um movimento bem pequeno. A taxa de formalidade está flutuando em um nível elevado e não vemos uma mudança na trajetória. Emprego no setor privado com carteira assinada avançou e está em um patamar recorde. Mercado trabalho está bem saudável”.

Em análise sobre os dados da PNAD, Rodolfo Margato, economista da XP, aponta que o crescimento do emprego formal vem desacelerando gradualmente. Os cálculos da casa mostram que a soma das ocupações formais caiu 0,1% de setembro a outubro (3% na base anual), atingindo 61 milhões, e a a categoria de “trabalhadores do setor privado com carteira assinada” caiu 0,3% na base mensal.

“As condições do mercado de trabalho brasileiro permanecem sólidas, apoiando nosso cenário base de um pouso suave na atividade doméstica no próximo ano. O consumo das famílias continuará a tender para cima, embora em um ritmo mais moderado. Em nossa opinião, a perspectiva para investimentos é mais preocupante, especialmente devido ao maior aperto da política monetária e à maior incerteza no ambiente macroeconômico”.

Taxa de desemprego deve subir em 2025

A projeção da XP é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça 3,4% em 2024 e 2% em 2025. A taxa de desemprego, segundo a casa, deve fechar este ano em 6,3% e subir para 6,8% em 2025.

Rafael Perez, Economista da Suno Research, analisa que o mercado de trabalho está em níveis recordes nos diversos segmentos, mas que a tendência é de uma maior acomodação até o final do ano.

“Para 2025, a taxa de desemprego deve apresentar uma leve alta, por conta da desaceleração da atividade econômica, diante de uma política monetária mais restritiva e um menor impulso da política fiscal. Ainda assim, tende se acomodar em níveis bem mais baixos que nos últimos anos e deve sustentar algum avanço do consumo das famílias”, avalia Perez.

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