Dólar fecha julho com alta de 1,16%, a R$ 5,65; Ibovespa sobe 3% no mês

A disputa entre investidores pela formação da Ptax de fim de mês deu impulso às cotações nesta quarta-feira, 31, e fez o dólar fechar com alta firme ante o real, na contramão do que era visto no exterior, onde a moeda norte-americana cedeu ante a maior parte das demais divisas, em dia de decisão do Federal Reserve sobre juros.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,6558 na venda, em alta de 0,64%. No mês a divisa acumulou alta de 1,16%. Veja cotações.

Às 17h03, o dólar para setembro — que nesta sessão passou a ser o mais líquido — subia 0,81%, aos 5,6740 reais.

O Ibovespa também fechou em alta de cerca de 1% nesta quarta-feira, com o Federal Reserve avalizando o desempenho positivo no acumulado do mês ao sinalizar a possibilidade de começar a cortar os juros nos Estados Unidos em setembro.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,06%, a 127.471,61 pontos, acumulando um ganho de 2,88% em julho, de acordo com dados preliminares, tendo marcado 127.852,69 pontos na máxima e 126.139,21 pontos na mínima da sessão. O volume financeiro somava R$ 19,2 bilhões antes dos ajustes finais.

A performance do dia ainda teve como alicerce a disparada da WEG, após resultado trimestral acima das previsões, e o avanço de Vale e Petrobras, seguindo os preços de petróleo e minério de ferro no exterior.

Capital estrangeiro

Dados da B3 mostram um saldo de capital externo no mercado secundário de ações de 3,4 bilhões de reais em julho até o dia 26, marcando o primeiro mês com entrada líquida de estrangeiros em 2024. No ano, as vendas ainda prevalecem, com saída líquida de 36,7 bilhões de reais.

“Isso é explicado pela rotação do mercado de equities (ações) global reduzindo posições em momentum/crescimento — no setor de tecnologia — e colocando em mercado/setores de valor, no qual a bolsa brasileira tem um peso relevante”, acrescentou o estrategista-chefe do Itaú BBA, Daniel Gewehr.

De acordo com Gewehr, foi mais um movimento global do que propriamente um interesse no Brasil, uma vez que o fluxo ainda ficou negativo para os fundos de bolsa no país, com saídas próximas a 3 bilhões de reais em fundos ativos, além do câmbio próximo das máximas e a curva longa de juros acima de 12%.

“Se dependêssemos das variáveis domésticas, não teríamos essa performance”, acrescentou.

No exterior, o noticiário norte-americano ajudou, com dados divulgados durante o mês mostrando melhora na inflação e alguma desaceleração na atividade econômica.

“Isso aumentou a probabilidade de o Federal Reserve começar a cortar (os juros) em setembro”, observou a chefe de estratégia e ações da Santander Corretora, Aline Cardoso, destacando a forte queda do rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano, usado como referência para investimentos em todo o mundo.

No final de junho, o yield do Treasury de 10 anos estava em 4,3430%. Na véspera, fechou a pontos. Em abril, chegara a 4,7390% — máxima intradia do ano.

Nesse contexto, reforçou Cardoso, em que houve essa migração de ações de crescimento para papéis de valor, o Brasil acabou se beneficiando, uma vez que é visto como um “play” de valor porque tem o seu principal índice com forte participação de papéis de empresas de commodities e bancos.

Setores

As cinco ações com maior peso na carteira teórica do Ibovespa em vigor são Vale ON, Petrobras PN e ON, Itaú Unibanco PN e Banco do Brasil ON, representando no total uma fatia de cerca de 37% de um índice composto por 86 papéis de 83 empresas.

Entre os setores, as maiores participações são petróleo (18,83%), financeiro (17,52%) e materiais básico e mineração (13,81%), de acordo com os dados da B3.

A combinação desse movimento de rotação entre ações no mundo e o viés mais construtivo em razão da perspectiva quanto aos juros nos EUA, na visão do responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi, vem de encontro com o cenário em que a bolsa brasileira está barata.

O movimento recente, avaliou Zanlorenzi, “fortalece bastante a tese de que o mercado meio que está pronto para ter uma alta”, esperando apenas um gatilho para o fluxo. E nesse mês, acrescentou, “teve um ‘trigger’ de fluxo importante que é a questão da rotação”.

Perspectiva

Do ponto de vista externo, os estrategistas avaliam que o cenário corrobora uma expectativa mais favorável de continuidade desse fluxo, necessário para a manutenção do viés de alta das ações brasileiras, diante de um esperado corte de juros pelo banco central dos EUA em setembro.

“Acho que o movimento continua, sim, partindo do princípio que os dados de atividade e inflação continuem desacelerando”, afirmou a chefe de estratégia e ações da Santander Corretora.

A eleição presidencial norte-americana foi citada como um evento a ser acompanhado, uma vez que, conforme destacou Zanlorenzi, do BTG Pactual, “movimenta bastante o mercado”. A China também segue no radar, embora o movimento de rotação que vem ocorrendo amenizou o efeito da frustração com estímulos econômicos anunciados por Pequim.

Mas a manutenção do viés positivo no pregão brasileiro depende também de algumas variáveis macro locais, principalmente no ponto de vista fiscal.

Citando o aumento na curva de juros no Brasil, o diretor de renda variável para a América Latina do Goldman Sachs, Juliano Arruda, afirmou que é muito difícil ter um movimento sustentável de alta na bolsa se o mercado continuar com dúvidas sobre o rumo da dívida pública e o equilíbrio fiscal.

“É muito melhor um cenário em que o custo de capital ao redor do mundo está caindo do que um ao contrário, então (o cenário de queda de juros nos EUA) sabemos que ajuda”, ponderou.

“Mas um movimento sustentável de apreciação, que seja virtuoso, que continue, ele é muito difícil de ocorrer se não existe uma percepção de uma âncora fiscal, de algum tipo de posição das autoridades em ter um orçamento equilibrado… o prêmio na curva de juros não sai”, acrescentou Arruda.

Na mesa direção, o estrategista-chefe do Itaú BBA avaliou que continuidade do fluxo de estrangeiros pode se beneficiar do potencial corte de juros do Fed em setembro e um sentimento de “risk-on” se o mercado continuar com a combinação de dados que sinalizam um “pouso suave” da economia norte-americana.

Mas também citou que “sinalizações mais fortes de disciplina fiscal domésticas podem ajudar também”.

Na semana passada, os Ministérios do Planejamento e da Fazenda confirmaram a necessidade de contenção de R$ 15 bilhões em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário do governo central em 2024 a R$ 28,8 bilhões, o limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.

O dólar no dia

A “superquarta” para os investidores trouxe na agenda as decisões sobre juros do Banco do Japão, do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil, além da formação da taxa Ptax de fim de mês no mercado de câmbio brasileiro.

O dia começou com o BOJ elevando sua taxa básica de juros para 0,25% ao ano, surpreendendo boa parte dos investidores globais. Nas últimas semanas a expectativa por um aperto monetário no Japão já vinha pressionando as moedas de países emergentes, como o real, em meio à desmontagem de operações de carry trade feitas com a moeda japonesa.

Ainda que a decisão do BOJ desse força ao iene, o câmbio no Brasil era afetado pela manhã principalmente pela disputa entre comprados (investidores posicionados na alta das cotações) e vendidos (posicionados na baixa) pela Ptax.

Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros.

“O último dia do mês é em geral de muita volatilidade. Hoje a pressão pela Ptax foi compradora e tivemos um volume alto, o que não é tão esperado para dias de ‘superquarta’, quando investidores ficam aguardando as decisões (dos bancos centrais)”, comentou Matheus Massote, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

De fato, o volume no câmbio foi mais elevado que em dias normais. No fim da tarde os negócios com dólar para setembro somavam mais de 430 mil contratos.

No auge da pressão dos comprados, o dólar à vista atingiu a máxima de 6,6851 reais (+1,16%) às 10h04 — justamente numa das janelas de coleta de cotações do BC para formação da Ptax.

O avanço do dólar ante o real ocorria a despeito de, no exterior, a moeda norte-americana estar em baixa ante quase todas as demais moedas.

Com a Ptax formada no início da tarde (5,6621 reais na venda), o dólar à vista se acomodou em patamares mais baixos, mas ainda assim se manteve em alta ante o real.

“O dólar até podia cair (ante o real) acompanhando o exterior, mas tem decisão do Fed às 15h. Então, o investidor seguiu protegido no dólar”, comentou durante a tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.

Como esperado, o Fed anunciou às 15h a manutenção de sua taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50%, mas passou indicações de que os cortes podem começar em setembro.

“Houve mais algum progresso em direção à meta de 2% (de inflação) do Comitê”, disse o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed em comunicado. Para o colegiado, a inflação agora está apenas “um pouco elevada” — um importante rebaixamento em relação à avaliação que o banco central utilizou anteriormente, de que a inflação estava “elevada”.

No Brasil, o dólar reduziu um pouco sua força logo após o comunicado do Fed, mas não o suficiente para sair do território positivo.

No fim da tarde investidores também faziam os últimos ajustes antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para depois das 18h30. Com a queda das taxas futuras nesta quarta-feira, a curva a termo brasileira precificava perto do fechamento 92% de chances de manutenção da Selic em 10,50% ao ano. A probabilidade de alta de 25 pontos-base estava em 8%.

No exterior, o dólar seguia em baixa no fim da tarde. Às 17h20, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,34%, a 104,090.

Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 7.460 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.

À tarde o BC informou que o Brasil teve fluxo cambial total positivo de 937 milhões de dólares em julho até o dia 26, com saídas líquidas de 2,009 bilhões de dólares pela via financeira e entradas de 2,946 bilhões de dólares pelo canal comercial.

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