Éfeso e Esmirna

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Em recente viagem à Turquia, minha amada sobrinha Izabel Souza Furtado visitou as interessantes cidades de Éfeso e Esmirna. O que esses lugares representam na história do cristianismo? No ano 431, foi realizado em Éfeso o importante Concílio de Éfeso em que a Igreja Católica reprovou Nestório (nestorianismo) que via em Cristo duas pessoas, uma humana e outra divina. Consequentemente, para Nestório, Maria não poderia ser chamada de “Mãe de Deus”, mas somente “Mãe do Cristo”.

O Concílio de Éfeso, então, explicou que Jesus Cristo é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem e definiu que as duas naturezas, divina e humana, estavam, em Jesus Cristo, unidas hipostaticamente, isto é, de maneira a constituírem apenas uma pessoa, que reunia em si não só os atributos da divindade, mas também os da humanidade. Consequentemente, em Éfeso, a Igreja proclamou que a Virgem Maria tem o direito de ser chamada “Mãe de Deus” porque Deus veio ao mundo através de Maria. Mãe de Deus não porque Jesus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional.

A palavra “hipóstase” (de origem grega) significa, neste contexto teológico, “pessoa”, isto é, em Jesus Cristo não existem duas pessoas (divina e humana) mas uma só pessoa com duas naturezas inseparáveis, divina e humana. “Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um da Trindade” (II Concílio de Constantinopla). Assim se diz em latim : “Id quod fuit remansit et quod non fuit assumpsit”, ou seja, “Ele permaneceu o que era, assumiu o que não era”. Isso significa que, através de Maria, Deus se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Cristo tem uma inteligência e uma vontade humanas em perfeito acordo e submissão à inteligência e vontade divinas, que Ele tem em comum com o Pai e o Espírito Santo.

Posteriormente, no ano 451, o Concílio de Calcedônia sintetizou assim: “Na linha dos santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, “semelhante a nós em tudo, com exceção do pecado”; gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida por sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e uma só hipóstase”.

Quanto à cidade de Esmirna, sabe-se que numa antiquíssima carta do ano 107 dirigida aos cristãos de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia fala da catolicidade da Igreja. Foi a primeira vez que se utilizou a expressão “católica” para se referir à Igreja de Cristo. É um registro histórico interessante, porque ao chamar pela primeira vez a Igreja de “católica” (do grego “Katholikos” – que significa “universal”), Santo Inácio quis defender a universalidade da Igreja de Cristo diante das várias heresias ou desvios particulares que começavam a circular naquele cristianismo primitivo. Por isso, Santo Inácio (que era bispo de Antioquia, que hoje se encontra na Turquia) é chamado de “Doutor da unidade”. Na Carta aos Esmirnenses, Inácio dizia: “Onde está Cristo Jesus, está a Igreja Católica”. A Igreja é católica porque é enviada em missão por Cristo à universalidade do gênero humano.

 

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