Resolução CVM 179 possibilita mais transparência para investidor, diz especialista

Foto: Henrique de Barros/Divulgação

Em novembro passou a valer a Resolução CVM 179, conhecida como a “resolução da transparência”. Henrique de Barros, sócio-fundador da Invés, planejador financeiro especialista no modelo fiduciário, explica ao BP Money, a norma traz mudanças importantes para o mercado de investimentos e visa ampliar a clareza sobre as remunerações no setor, especialmente para o investidor pessoa física.

Com a nova regulamentação, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) busca tornar mais transparentes as práticas de remuneração dos intermediários financeiros no Brasil. A partir de agora, todas as assessorias de investimento são obrigadas a informar detalhadamente como são remuneradas, oferecendo ao investidor uma visão mais completa e clara sobre as comissões envolvidas.

Esse avanço significa que os investidores terão acesso a relatórios trimestrais com informações detalhadas sobre as comissões recebidas pelos assessores de investimento, facilitando o entendimento e o acompanhamento desses valores.

Confira a entrevista

De que forma o investidor vai se beneficiar com a mudança?  

A Resolução da CVM 179 entrou em vigor na última sexta-feira, dia 1/11. Ela determina novas regras para a divulgação de informações sobre os valores das remunerações dos assessores de investimentos em todo o Brasil.

Destaco aqui primeiramente as novas obrigações dos intermediários: a indicação, no mesmo ambiente usado pelo cliente para transmitir ordens de investimento, das formas e valores de remuneração, bem como o envio de extratos trimestrais sobre a remuneração auferida pelo intermediário em virtude de investimentos em valores mobiliários realizados pelos clientes. 

Entendo que a Resolução da CVM abre caminho para o modelo fiduciário, trazendo a clareza necessária para que os investidores se tornem mais bem informados diante das decisões sobre seus aportes.

Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, o atendimento ao investidor já migrou fortemente para o modelo fiduciário, enquanto no Brasil, as assessorias financeiras que trabalham com esse modelo ainda são exceção. Isso tornava o nosso mercado menos transparente e afastava o alinhamento de interesses da relação cliente assessor.   

Como a Resolução CVM 179 impacta na transparência do mercado de investimentos? 

A Resolução CVM 179 vem para trazer mais transparência ao mundo dos investidores: ela exige que as instituições financeiras disponibilizem em seus sites informações qualitativas sobre remunerações e eventuais conflitos de interesses dos assessores de investimentos.  

Na verdade, é um complemento à Resolução CVM 178, que define que os assessores de investimento têm a obrigação de fornecer um termo de ciência ao cliente, detalhando suas atividades, estrutura remuneratória e potenciais conflitos de interesse. 

A Resolução 179 será validada com o intuito de trazer ainda mais transparência na relação entre assessores e investidores que já está em vigor, e garantindo ao investidor maior conhecimento sobre como remunera a pessoa que cuida do seu dinheiro. Hoje o brasileiro não sabe sequer que paga o seu assessor financeiro, quanto mais quanto e como paga. 

A nova exigência de divulgação trimestral das remunerações dos avaliadores pode afetar a confiança dos clientes?

Com a transparência dos valores de remuneração recebida pelas instituições financeiras e assessores de investimento, o cliente identificará de forma mais objetiva que diversas alocações dos seus investimentos foram feitas pensando no comissionamento que aquele produto gera para o assessor e não pensando nos objetivos financeiros do cliente.

Com mais clareza, esse conflito de interesses deve afetar a confiança no modelo tradicional de assessoria e impulsionar modelos que trazem total alinhamentos, como o que já praticamos na Invés desde sua fundação, há mais de dois anos. A grande vantagem para o investidor é que agora ele poderá identificar esse conflito existente com maior facilidade e procurar um serviço de assessoria que realmente foca em seus objetivos. 

Como a Resolução CVM 179 influencia a transição para o modelo fiduciário de assessoria financeira no Brasil?

Podemos dizer que o modelo fiduciário é o que garante a confiança nas relações. É aquele no qual o assessor não é remunerado por comissões diferentes para cada produto em que seu cliente investir, mas sim pelo trabalho técnico desenvolvido, por meio de uma taxa fixa mensal previamente definida, independentemente do produto financeiro consumido pelo cliente. 

Para o cliente consumir o produto financeiro mais adequado para os seus objetivos, a única forma de se relacionar um um expert financeiro é através do modelo fiduciário. Pensa comigo, entre financiamento imobiliário e consórcio as remunerações para a instituição financeira são absurdamente diferentes, portanto o direcionamento dado pelo gerente banco tende a ter como foco o produto que traz mais receita para a instituição e não o produto que é melhor para o cliente. Ao trabalhar com uma taxa fixa, quando o cliente enriquece, o assessor de investimentos também passa a ganhar mais, afinal ganha uma porcentagem sobre seu patrimônio”, ressalta o planejador financeiro especialista no modelo fiduciário. 

Investir é algo muito contraintuitivo. Por isso, os clientes são muitas vezes traídos pelos seus vieses e facilmente enganados pelos vendedores de produtos financeiros. O papel do bom assessor financeiro é trazer clareza e racionalidade para esse processo de maneira estruturada por meio de um bom planejamento financeiro. Brinco que sirvo de óculos para os meus clientes, faço eles enxergarem o mundo real à sua frente antes de cada decisão. 

O Brasil começa então a experimentar um ajuste rumo a democratização do acesso de serviço financeiro de qualidade para investidores e, um movimento até então disponível apenas para quem tinha dezenas ou centenas de milhões de reais. Investir priorizando os seus objetivos e não das instituições financeiras onde seu dinheiro está guardado será o novo normal da próxima década. 

Quais são os desafios que o Brasil pode enfrentar para alcançar um padrão dos mercados mais concolidados?

A empresa celebra essa nova etapa com a mudança do nome, reafirmando seu lugar de atuar na contramão das assessorias do setor, apostando no modelo fiduciário, já amplamente utilizado no exterior, mas ainda pouco aplicado no Brasil. Dentre os principais desafios estão: 

  • Impossibilidade de investir por esse modelo em muitas das principais instituições financeiras do país. 
  • Falta de especialização do profissional de investimentos e das próprias assessorias para atuar no modelo. 
  • Pressão por resultado de curto prazo de diversas instituições financeiras, que acabam colocando maior peso no modelo de comissionamento por produto. 

Como os clientes podem utilizar essas informações para fazer escolhas mais informadas sobre seus investimentos? 

O mercado de investimentos vive uma grande transformação com a CVM 179, resolução que entra em vigor nesta sexta-feira, e altera o modelo de remuneração e as relações entre investidores e assessores. 

O modelo fiduciário traz a clareza necessária para que os investidores se tornem mais bem informados diante das decisões e essa forma de atuação, na verdade, é o que tem feito a marca crescer de maneira acelerada. Com o modelo fiduciário, não há comissão e sim fee-fixo, que prioriza a transparência e o alinhamento com os objetivos financeiros do cliente. 

Para o cliente/investidor consumir o produto financeiro mais adequado para os seus objetivos, a única forma é pelo modelo fiduciário. Entre financiamento imobiliário e consórcio, as remunerações para a instituição financeira são absurdamente diferentes, assim, o direcionamento dado pelo gerente banco tende a ter como foco o produto que traz mais receita para a instituição e não o que é melhor para o investidor. Ao trabalhar com uma taxa fixa, quando o cliente enriquece, o assessor de investimentos passa a ganhar mais, afinal ganha uma porcentagem sobre seu patrimônio. 

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