Trump x Fed: radar dos próximos anos capta tensão e conflitos

Donald Trump e Jerome Powell / Foto: RS/ Fotos Públicas

Caminhando para o final do ano, o mercado financeiro está avaliando uma série de fatores que devem se destacar no cenário econômico de 2025. Entre eles, a relação entre o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e o Fed (Federal Reserve) – banco central do país – que promete ser conflituosa, com tentativas de limitar o poder da autoridade.

Após a confirmação da vitória de Trump, que anteriormente já havia dito que deveria ter uma opinião nas decisões do Fed, o presidente do banco, Jerome Powell, afirmou que não renunciará ao cargo se lhe for solicitado. 

“Acho que tenho instintos melhores do que, em muitos casos, as pessoas que fazem parte do Fed ou o presidente”, disse Trump em agosto.

Para o especialista em investimentos e matemático, Guylherme Mattos, essas declarações acendem um alerta e despertam especulações de que o presidente dos EUA poderia tentar limitar a autonomia do Fed, conduzindo, assim, as decisões conforme seus interesses.

“Ainda assim Powell já falou que não deixará a presidência do Fed caso Trump peça, nesse sentido o Trump não tem o poder de demiti-lo ou rebaixá-lo, mas todo esse embate gera um cenário de incerteza e instabilidade na economia dos EUA”, afirmou. 

Como o mercado já tem projetado há um tempo, os projetos de Trump para a economia dos EUA – com medidas mais protecionistas no comércio, principalmente – gere um efeito inflacionário.

Cenário reforçado por Mattos dentre os efeitos que podem recair sobre o trabalho do Fed e virar a trajetória da política monetária. O mercado também já projeta que na última reunião deste ano, em dezembro, o Fomc (Comitê de Mercado Aberto) do Banco Central decida manter a taxa de juros inalterada.

“Caso seja confirmado [as políticas econômicas] isso impacta na posição do Fed em relação ao corte da Taxa de Juros, já que frente a uma pressão inflacionária mais alta, eles podem ter que virar a chave de estar indo para um pouso suave para, até talvez, uma elevação na taxa de Juros”, disse o especialista.

O professor da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Hudson Bessa, lembrou do primeiro mandato do republicano, de 2016 a 2020, precisamente quando o Fed precisou elevar a taxa de juros em 2018, a pressão de Trump sobre Powell não surtiu efeito.

“Agora, mesmo voltando mais empoderado, a pressão com certeza existirá, mas o Banco Central está em uma redução de taxas, então a princípio não teria essa pressão. Porém, a situação fiscal dos EUA é bastante desconfortável. Nesse sentido, pode ser que o ciclo de redução pare”, projetou Bessa.

No entanto, o professor ponderou que podem haver efeitos indiretos à economia norte-americana, com um ambiente mais tumultuado e aumento na percepção de risco dos investidores. 

“Não existe risco do Powell ser leniente, ou que ele seja demitido, mesmo como maioria trumpista no Senado e tal, mas de forma indireta pode haver um aumento da percepção de risco no mercado que pressione taxa de juros e inflação, tornando, obviamente, a economia mais difícil”, finalizou Bessa.

Entenda como funciona o Fed:

  • Assim como no Banco Central do Brasil, o presidente do Fed é indicado pelo presidente dos EUA e precisa passar por aprovação no Senado Federal
  • O mandato corre pelo período de 4 anos, porém, há a possibilidade da pessoa ser indicada novamente e seguir no comando da autoridade monetária;
  • Isto foi o que aconteceu com Jerome Powell, indicado pela primeira vez por Donald Trump, em 2018, e reconduzido a uma segundo mandato por Joe Biden, em 2022. Sendo assim, seu mandato finda em 2026;
  • Além do conhecido Fomc (Comitê de Mercado Aberto do Fed), que decide sobre a trajetória da política monetária, o Banco Central norte-americano também é formado pelo Conselho de Governadores e pelos Bancos Regionais;
  • No caso do Conselho, os governadores também são indicados pelo presidente da República e aprovados pelo Senado, porém seus mandatos são de 14 anos, sem chance de renovação;
  • Quanto aos Bancos Regionais, há 12 deles, dirigidos por presidentes distintos, escolhidos pelos seus próprios Conselhos de diretores e aprovados pelo Conselho de Governadores; O mandato de cada um é de 5 anos, podendo ser renovado.

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