Problemas de infraestrutura dificultam projeto do Drex, diz CEO da Blox

Foto: Blox/Divulgação

O Drex, moeda que está sendo desenvolvida para ser a versão digital do real brasileiro, pode não ser lançado quando previsto por problemas de infraestrutura. Esta é a avaliação de Felipe Souto, CEO da Blox Investimentos, fintech de soluções para o mercado de capitais.

A empresa acompanha o desenvolvimento da moeda digital de perto. O lançamento do Drex está previsto para o início do segundo semestre de 2025.

Como o sucesso do Pix, que já chegou a mais de 200 milhões de transações por dia, há preocupações em relação à privacidade e escalabilidade da moeda. “Os testes indicam que, se a gente tiver uma adoção massiva do Drex, a atual infraestrutura não dá conta“, afirmou Souto ao BP Money.

A busca por soluções envolve empresas como IBM e Microsoft. “Então a gente espera que resolva, mas tudo pode acontecer. Ou seja, pode até ser que não saia Drex, quem sabe?“, pontuou.

Com um ecossistema que conecta investidores com empresas, a Blox está participando de uma chamada aberta pelo BC (Banco Central) para fazer parte do ambiente de testes do Drex.

A empresa tem se movimentado para se aproximar cada vez mais do projeto. Em maio deste ano, o banco digital BS2 anunciou investimentos na Blox. Souto destaca que uma das principais vantagens da aproximação é o acesso indireto da fintech aos bastidores do Drex, já que o BS2 faz parte do ambiente de testes da moeda digital.

Desenvolver soluções com o Drex também foi um dos objetivos da joint-venture da Blox com Bywise, anunciada em junho deste ano. Juntas, as companhias lançaram a ChainX, com o objetivo de oferecer soluções em blockchain, que é uma cadeia de informações por meio da qual funcionam o Bitcoin e outras criptomoeadas.

Confira a entrevista

O que faz a Blox?

A Blox existe há quase sete anos, ela nasce em 2018. Somos uma plataforma que facilita o acesso de empresas de pequeno e médio porte ao mercado de capitais, de uma maneira simples e digital. Hoje temos um pouco mais de R$ 7 bilhões em operações, com tíquete médio de R$ 35 milhões.

A gente tem hoje, no buy-side, 300 fundos institucionais e, no sell-side, 22 boutiques de investimentos credenciadas. Começamos o ano com 30 gestoras, então multiplicamos o buy-side por dez em 2024, e agora estamos trabalhando para ampliar o sell-side, que são 22. No início do ano tínhamos cinco. A perspectiva para o ano que vem é de crescimento de 20%

É como um “Ifood” do mercado de capitais, onde a gente tem, de um lado, os investidores institucionais, o buy-side, e de outro lado as empresas que buscam capital, o sell-side. A nossa visão é facilitar esse acesso. Assim como o Ifood facilita o acesso do pequeno restaurante ao consumidor.

Quais têm sido as oportunidades da área no Brasil?

Eu ousaria dizer que a gente passou por uma revolução regulatória nesses últimos dois anos. Mais de 15 normas mudaram as atividades que fomentam os capitais para melhor, diminuindo a burocracia. Outro componente de inovação é o Drex, a moeda em blockchain do BC.

Quando a gente soma o avanço regulatório a essa agenda de inovação do BC, considerando também o Pix, a gente tem muitos fatores que nos remetem a um 2025 de muita inovação no mercado. Este momento é extremamente importante, porque todos esses agentes que trabalham com inovação no mercado estão encontrando ambiente propício.

E quais têm sido os principais desafios?

    A gente tem um panorama favorável, mas nem tudo são flores. Dentro do mercado de capitais, o inimigo número um é a taxa Selic, que subiu mais uma vez. E a gente tem esse cenário bastante desafiador para qualquer empresário que está buscando crédito.

    Por outro lado, o mercado de capitais passa a ser uma opção muito viável uma vez que os bancos têm fechado a torneira e concedido cada vez menos créditos, por isso que o volume de emissões no mercado de capitais está batendo recordes. Este é o ano de maior volume de emissões de títulos de dívida no mercado.

    O que esperar para o mercado de capitais em 2025?

    Eu diria que a gente não deve ter tanta mudança do ponto de vista macroeconômico, deve ser sim um ano bastante interessante de aplicações dessas novas tecnologias, principalmente com a entrada em operação do Drex, que está marcada para o final do primeiro semestre e início do segundo semestre de 2025.

    O Drex tende a trazer uma movimentação interessante do ponto de vista do surgimento de novos produtos. Ele é uma plataforma, assim como o Pix, onde o BC, junto com vários outros players, estão colocando o Brasil como um dos primeiros a ter uma moeda digital.

    Todos os países do mundo estão colocando suas moeda on chain, ou seja, em cima do blockchain. O Drex muda tudo, porque a gente começa a ter transações programáveis. A rede blockchain está sendo para o mundo atual o que o “http//:” foi para a época do nascimento da internet.

    Aí há uma série de aplicações, por exemplo, eu posso usar um crédito em um banco brasileiro para fazer operações em Nova York. Porque se o Brasil e os EUA têm moedas digitais na rede, a coisa se torna muito mais fácil.

    Quais são os próximos passos para a Blox?

    Para desenvolver as nossas soluções e funcionalidades, temos o apoio de fundos de investimentos. A gente tem no nosso cap table a Domo, como nossa sócia, e mais recentemente a unidade de inovação do banco BS2 entrou no nosso cap table fazendo um aporte.

    Ao longo desse final de ano e início do ano que vem nós estamos com uma rodada aberta para trazer mais um sócio de peso. Queremos levantar algo em torno de R$ 10 milhões nessa pernada agora. E estamos bem disputados.

    O que a sociedade com a BS2 trouxe de inovação para a empresa?

    Vale destacar a utilização do Drex. O BC está em fase de testes da moeda. Foi feita uma chamada pública e houve consórcios que se candidataram para atuar no ambiente de testes. O BS2 faz parte de um desses consórcios, o que, indiretamente, nos dá acesso à plataforma do Drex. E é lá que a gente está testando várias das nossas soluções.

    Quais são as expectativas para a joint venture com a Bywise?

    Dentro desse contexto de testes com Drex no BC, não tínhamos tempo para construir capacidade técnica para atuar no processo, então fomos procurar empresas que tivessem essa infraestrutura.

    A Bywise é uma empresa brasileira, fundada em Brasília, com pesquisa dentro da UnB, então a gente trouxe para dentro de casa uma infraestrutura em blockchain para que pudéssemos jogar esse jogo em grande estilo. Está indo super bem em todos os testes que a gente vem fazendo.

    As aplicações construídas para o Drex estão sendo feitas em cima dessa rede da Bywise, que foi rebatizada para ChainX, para trazer o X do Pix e do Drex e se portar como uma rede mais adaptada ao mercado de capitais.

    A Blox está trabalhando em uma nova versão de sua plataforma. Quando ela deve ser lançada?

    A previsão é para o dia 8 de dezembro. A nova versão tem todas as funcionalidades que já temos, mas vai oferecer uma experiência inovadora, pensada do começo ao fim. São já 18 meses de trabalho na construção, no desenho, nos protótipos e nos testes. A gente está bem animado com esse marco.

    Tem também um fator importante, que não é perceptível aos olhos dos usuários: a nova estruturação da plataforma já nasce 100% em blockchain, ou seja, toda a tecnologia e soluções já nascem dentro da infraestrutura da ChainX.

    Quais ainda são os desafios no desenvolvimento do Drex?

    Há muitos desafios. Dentro do ambiente de testes ainda há dúvida em relação à privacidade e escalabilidade. Os testes indicam que, se a gente tiver uma adoção massiva, a atual infraestrutura não dá conta.

    Então existem vários testes e soluções sendo apresentados. Isso está envolvendo gente de peso, como a IBM e a Microsoft, para tentar resolver. Então a gente espera que resolva, mas tudo pode acontecer. Ou seja, pode até ser que não saia Drex, quem sabe?

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