Entrevista | Fernanda Faya – Diretora do documentário ‘Neirud’, exibido no Bonito CineSur, conversou com o CINEPOP

fernanda faya neirud

No Bonito CineSur 2024, uma série de documentários interessantes levou até o público filmes que emocionam de muitas formas diferentes. Um desses projetos é o longa-metragem brasileiro Neirud, de Fernanda Faya, que a partir de um resgate sobre os tempos circenses da própria família, nos leva até décadas atrás, com o objetivo de documentar uma história muito próxima que se apresenta aos poucos através do que não tem mas existe.

Durante o festival, conseguimos conversar a diretora sobre esse projeto que é a sua estreia na direção de um longa-metragem:

 

Qual a importância de mais um festival de cinema no Brasil, o Bonito CineSur, chegando na sua segunda edição? Tá gostando?

Fernanda Faya: “Como realizadora, esse momento de festivais é gratificante, onde o projeto consegue se ampliar. Fazer esse filme foi um processo solitário e ao longo de muito tempo. Quando o filme chega no coletivo pode ressoar ao público ganhando uma dimensão política e social, podendo se expandir de um jeito que não acontece se não for por um festival de cinema. Essa experiência coletiva de assistir ao filme numa sala de cinema é única. Não só pela divulgação mas como experiência social. É um privilégio exibir um filme num festival. O Bonito CineSur está incrível! Fui super bem recebida, o festival está muito bem organizado, com uma programação fantástica.”

Fernanda Faya - Diretora de 'Neirud'. Foto: Divulgação Bonito CineSur
Fernanda Faya – Diretora de ‘Neirud’. Foto: Divulgação Bonito CineSur

Pelo que pesquisei, o projeto ao todo durou cerca de uma década. Nesse enorme período você pensou em desistir algumas vezes? E qual foi o maior desafio ao longo de toda essa caminhada?

Fernanda Faya: “Na verdade nunca pensei em desistir, por alguma razão teve alguma obstinação, uma paixão que me fez continuar. Mas sinto que me deparei com obstáculos da minha própria capacidade, esse é meu primeiro longa-metragem, sinto que me tornei diretora e realizadora através desse filme, junto com ele. Os principais desafios foram artísticos, me deparar com as limitações, ter que estudar, me aprofundar e insistir em desafios que eram muito difíceis de lidar. Teve momentos que quis um momento para me afastar e depois voltar para o projeto com um olhar descansado. Em outros, me distanciei por estafe emocional, quando me sentia muito insegura fui buscando diálogos e interações de outras naturezas que acabaram me encorajando a voltar pro filme.”

fernanda faya neirud
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Neirud ganhou um importante prêmio lá no Festival Internacional de Curitiba (Olhar de Cinema). Como está sendo sua percepção com a sua obra pelos festivais que passou? O que está sentindo de reações do público? Tá tendo muita emoção?

Fernanda Faya: “Essa tem sido uma experiência unânime em todos os festivais. Algumas sessões não reagem tão emocionadamente mas de uma forma geral as pessoas tem se emocionado bastante. É um filme que tem soado muito na comunidade LGBT, fomos para alguns festivais de nicho, o MixBrasil por exemplo, fomos premiados lá como o melhor roteiro. Então é interessante ver que o filme está encontrando público. Tem tido muita troca depois das exibições.”

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Neirud

Seu pai é uma figura muito presente no projeto. Após o filme estar pronto e vocês assistirem, surgiram mais lembranças por parte dele sobre o passado da sua família?

Fernanda Faya: “Como você falou, ele é um personagem muito importante no filme, do ponto de vista pessoal ele é o grande responsável por ter me transmitido esse amor, essa conexão com a história circense, pois ele poderia ter ignorado essa herança. Ao longo do processo ele foi se conectando com outras histórias a partir do meu olhar e da minha insistência em enxergar outros protagonistas nas narrativas familiares. Foi interessante de vê-lo se reconectando com outros aspectos dessas histórias e como ele mesmo foi se transformando ao longo do processo.”

Neirud
Neirud

Como você vem lidando com a visão da crítica de cinema em relação a sua obra? Você corre atrás pra ler tudo ou prefere uma distância disso?

Fernanda Faya: “Eu gosta da crítica que dialoga com o filme que existe, não com o filme que deveria ser ou poderia ser. Eu gosto da crítica que se propõe a enxergar o filme que existe e dentro das possibilidades que o projeto mostra e das questões que a obra levanta, construir um diálogo através disso. A maioria das críticas tem sido positivas mas claro que tem outras percepções. Eu acho sempre interessante de ler. Gosto também de conversar com os críticos, se existir essa possibilidade, até para que a conversa se expanda e seja mesmo um diálogo mais do que uma afirmação, uma percepção única e fechada dentro da subjetividade dela.”

 

O filme já tem distribuidora e data de estreia pra circuito?

Fernanda Faya: “A gente já tem uma distribuidora aqui no Brasil, a Descoloniza Filmes e também um agente de vendas internacionais. Como sonho de qualquer pessoa que se formou em cinema, que faz filme, eu idealizo muito a obra indo para as telonas, entrando no circuito comercial. Ao mesmo tempo, ao longo do processo, aprendi sobre as possibilidades de distribuição de um projeto tão artesanal de baixíssimo orçamento, um longa-metragem que foi feito com poucos recursos. Fui aprendendo também sobre a indústria e o estado das coisas, do monopólio dos filmes de maior orçamento, e como é difícil para as distribuidoras conseguirem distribuir os filmes da forma como eles merecem serem distribuídos. Neirud deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem.”

 

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