Datena: ‘Não me candidato nem a presidente de time de botão se perder a eleição’

Candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena afirmou nesta quinta, 26, durante sabatina do Estadão, que não disputará mais eleições caso não vença o pleito em outubro. “Nem a presidente de time de botão”, disse ele. O apresentador ainda se recusou a citar nominalmente o candidato Pablo Marçal (PRTB), em quem deu uma cadeirada durante o debate da TV Cultura, no último dia 15. “Não me arrependo do ato que tive para parar o agressor.” A sabatina foi mediada pelo colunista Ricardo Corrêa, com participação do repórter especial Marcelo Godoy.

Gostaria que fizesse uma análise da campanha, que chega ao final. Pesquisas não têm ajudado o senhor.

Claro que eu não vou meter o pau em pesquisas. Quando eu saí em primeiro lugar nas pesquisas, eu comemorei. Foi antes do primeiro debate da Band, onde o comunicador não apareceu e, por consequência, as ideias do candidato ficaram em segundo plano. Tive dificuldade em me colocar perante o relógio do debate. Essa dificuldade de transformar a linguagem que sempre tive como jornalista, com liberdade total de tempo, me afetou. Apareceu uma figura nefasta (Pablo Marçal) que atrapalhou completamente os caminhos da democracia. O cidadão que veio não trouxe uma linguagem diferente. Porque a internet é uma coisa maravilhosa. Do mesmo jeito que tem canalhas, bandidos, idiotas, imbecis, tem gente genial. Quando houve a primeira pesquisa, eu não tinha participado do debate na Band. Apareci com 14% no Datafolha, ao lado desse cidadão (Marçal). Já na próxima pesquisa, que foi dois meses anterior ao debate da Band, eu estava em primeiro lugar: o Ricardo Nunes (MDB) com 20%, e eu e o (Guilherme) Boulos (PSOL) com 19%, na pesquisa da Quaest.

Não se arrepende absolutamente da cadeirada?

É claro que me arrependo. O que eu quis dizer foi que precisava parar uma série de agressões. Eu não fui o agressor; fui o agredido ali. Fui chamado de estuprador. Tentei manter o pragmatismo e a fleuma, explicando que era um assunto que foi investigado e arquivado pelo Ministério Público, que era um factoide. Eu não me arrependo do ato que cometi para parar um agressor. Tentei responder de forma civilizada. Ele continuou com os ataques, e aí eu não vi outra maneira a não ser tomar aquela atitude.

O senhor fala muito sobre escola em tempo integral. Qual é a meta?

É a meta nacional. A meta é de 25% de escolas integrais. Uma escola em tempo integral de verdade, com a criança bem alimentada, bem protegida e, principalmente, alfabetizada. A ideia é que, nesse tempo extra na escola, as crianças adquiram conhecimento. Nós temos a promessa de entregar a criança alfabetizada às famílias por volta dos sete anos de idade, o que seria o ideal. Acho difícil, dada a situação de São Paulo hoje, mas, entre sete e oito anos de idade, preferencialmente aos oito, com as possibilidades que temos hoje. Sabe quanto a Prefeitura gasta por aluno? R$ 22 mil. O Ceará, que está muito à frente da gente, gasta R$ 5 mil. O Rio melhorou e gasta R$ 8 mil. Goiás também está na frente da gente.

Quantos professores seriam contratados e quanto isso custaria?

Eu preciso entrar na Prefeitura para saber o tamanho do buraco que existe. Não adianta conjecturar e entregar promessas que não cabem dentro do plano de governo.

O que o senhor pretende fazer para tentar diminuir a quantidade de mortes no trânsito em São Paulo?

As campanhas educacionais são fundamentais. Tem que começar na escola. Sou contra essa história de homicídio culposo para quem bebe e pega um carro e mata uma pessoa. Homicídio sem intenção de matar? Como? Você acabou com publicidade de cigarro porque mata as pessoas de câncer? Por que não acaba com a publicidade bebida? É uma coisa cínica.

O senhor fala em aumentar a Guarda Civil Metropolitana, o ensino integral e fazer as UBSs funcionarem duas horas a mais, mas, ao mesmo tempo, afirma que tem o compromisso de reduzir impostos. A conta fecha?

Claro que fecha. A conta fecha não é em São Paulo, é no Brasil. Você usando São Paulo como laboratório, você vai ajudar muito o País. Vou explicar como é que começa a conta. Usando de novo o método socrático. Qual o pior problema que existe hoje no Brasil? Evasão fiscal. Se você resolver o problema de trocar, que é a minha proposta, imposto por emprego, o cara vai ter vontade de pagar menos imposto porque ele vai ser aliviado. Boa parte da carga tributária vai ser aliviada. Muita gente não paga imposto, ou porque é bandido ou porque não tem aqui um sistema como nos Estados Unidos, que cobra imposto pra caramba, mas te devolve em forma de tudo, de serviço. No Brasil não é assim. Muita gente prefere não pagar imposto porque acha que é injusto. Então, você trocando imposto por emprego, quem tiver oportunidade de oferecer emprego à população vai pagar menos imposto, vai ter a sua carga tributária diminuída e vai pelo menos pagar imposto. Só com isso você resolve boa parte do problema da evasão fiscal. Senão é a Receita Federal em cima, acabou. Aí você já tem um ganho monumental. A gente pretende criar esses territórios de emprego. Quem construir ali vai ter a contrapartida, isenção de IPTU. Mas tem que contratar 20% da mão de obra pra erguer esses territórios de trabalho que vão ajudar a atrair empresas. Por exemplo, empresas de logística. E outras, startups, audiovisual. Você pode fazer com Nova York, por exemplo. É um sonho? Não. São Paulo tem potencial e tem verba pra isso. E o principal ponto, aí sim, combater a corrupção. Até que ponto o crime organizado está infiltrado dentro da Prefeitura? O quanto de dinheiro esses bandidos estão levando do dinheiro público? O quanto dessas obras que não tiveram licitação porque entraram em período emergencial?

O prefeito é responsável por tudo isso?

Não, mas como autoridade da maior cidade do País, você pode ajudar, e muito, a ter conversas e contato com quem resolve. Você pode falar com o Lula, com o governador. Enquanto você não souber o quanto está sendo roubado de São Paulo, você não pode ter noção de quanto vai ter de usar e acrescentar no orçamento. Conversando com um delegado, cheguei a uma conclusão um pouco diferente da que eu tinha. O PCC está louco para sair dessas companhias de ônibus. Sabe qual é o negócio do PCC? É contrabando de armas e, principalmente, tráfico de drogas. O ônibus, quando começou a aparecer a infiltração do PCC, começou a dar ruim para o PCC. Ele está começando a tirar as suas garras dessas companhias de ônibus porque não é interessante, ficou muito exposto. O negócio é tráfico de drogas e isso a gente pode ajudar a combater também.

Esta eleição, se não vencer, é a última ou ainda pretende se candidatar?

Nem a presidente de time de botão. Meu grande sonho era ser candidato ao Senado, por isso disse que era a eleição errada. Vamos esperar a urna falar. Acho que cumpri o meu papel durante essas eleições porque o nosso partido é o que menos tem dinheiro para gastar e estão gastando enormidades.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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