Varejistas tentam sobreviver à disputa por vendas com salto dos preços

Foto: CanvaPro

Carrinhos de compras mais vazios, alimentação mais precária e supermercados faturando menos. Esse é o ambiente que espreita as varejistas e tem causado sua desvalorização na Bolsa de Valores desde que a Selic (taxa básica de juros) sofreu uma elevação.

Especialistas consultados pelo BP Money apontaram que a redução de custos segue sendo um ponto que as varejistas tendem a explorar para se manterem competitivas, mas acreditam que o impulso do setor demanda outras iniciativas.

O foco em eficiência operacional, otimização da logística para reduzir custos, bem como parcerias com produtores locais e o uso de tecnologia para melhorar a cadeia de suprimentos são alternativas viáveis, na visão de Sidney  Lima, analista da Ouro Preto Investimento.

Mas há também outras fontes de atração que as empresas podem fortalecer em sua atuação cotidiana, explicou.

“Uma outra solução, pode ser os programas de fidelidade, promoções e descontos que também podem ajudar as empresas a se manterem competitivas, mantendo a clientela e compensando a alta nos custos de operação”, comentou.

No variação entre as sessões do Ibovespa que ocorreram desde o a quarta-feira (18) até a segunda-feira (23), as principais ações do setor de varejo sofreram forte devalorização.

O Carrefour (CRFB3) caiu 2,79%, o Assaí (ASAI3) recuou 10,17%, enquanto a Magalu (MGLU3) desvalorizou 13,62%. Enquanto isso, a Americanas (AMER3) e a Casas Bahia (BHIA3) e a tiveram as maiores perdas, em 17,85% e 14,29%, respectivamente.

Essa avaliação foi reforçada por Felipe Queiroz, Economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), no entanto, ele acredita que a redução de custos não é a única via disponível e que as varejistas têm a sua frente um quadro paradoxal de recuperação. 

“Há uma ideia difundida que a competitividade de uma empresa se dá única e exclusivamente pela redução dos custos, mas a teoria econômica mostra que o aumento da competitividade, de modo saudável e consistente, ocorre quando há investimento”, afirmou.

“Mas observe o paradoxo: com a taxa selic nesse patamar [de 10,50% ao ano], o nível de investimento geral da economia tende a diminuir”, avaliou.

Sem investimentos, as varejistas vão tentar reduzir os custos, como explicado, para se manter de pé, porém, segundo Queiroz, os custos e as margens do setor já são muito baixas, pois ele opera em um nível de competição “elevadíssimo”.

“Diferente de outros setores da economia, o setor supermercadista não é oligopolizado, muito menos monopolizado. A concorrência é quase perfeita, por isso ele já opera num nível de competição elevadíssimo. E a única forma é tendo fontes de crédito que favoreçam o investimento de médio e longo prazo do setor”, pontuou Queiroz.

Selic acima de 11% em 2024 causará perdas em escala aos investimentos, crédito e dívidas das varejistas

A taxa Selic foi elevada em decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) na última reunião do dia 18 de setembro. Os membros votaram por um aumento de 0,25 ponto porcentual, levando os juros a 10,50% ao ano.

A perspectiva do mercado é que o colegiado do BC siga mantendo o ritmo restritivo e leve a Selic a um nível superior a 11% a.a. no final de 2024. Os agentes econômicos viram na ata da reunião, divulgada na terça-feira (24), uma confirmação dessa tese.

Ambos os analistas consultados pelo BP Money reiteraram que a taxa de juros nesse patamar impacta os custos de investimento, a captação de crédito pelas varejistas, a rolagem de dívidas e, consequentemente, chegam aos consumidores pela alta nos preços dos alimentos e bens essenciais.

“Outro ponto, é que a alta dos juros reduz o poder de compra e pode limitar o consumo, principalmente de produtos não essenciais, devido ao encarecimento do crédito em toda a cadeia de suprimentos”, disse Lima.

“Na escala macro, o aumento da Selic visa não apenas arrefecer o ritmo de atividade, mas produzir desemprego. Não por acaso, o setor financeiro tem enfatizado muito que o grande problema é que o mercado de trabalho está muito aquecido”, destacou Queiroz.

Apostar em fidelização e qualidade para vender itens mais caros

De programas de pontuação e prêmios às promoções em dias específicos da semana, campanhas bem planejadas de marketing e negociações, existem algumas estratégias – bastante comuns – que as varejistas devem seguir utilizando para manter os números de consumidores.

“Investir em campanhas de marketing que destaquem a qualidade e a durabilidade dos produtos pode justificar o preço elevado”, disse o analista da Ouro Preto Investimentos.

Já o economista-chefe da APAS vê outros possíveis caminhos, no caso dos mercados de menor porte, no agrupamento e criação de centrais de negócios.

“Tudo isso visando melhorar a relação com a indústria e trazer ao consumidor final produtos mais baratos, numa condição melhor e que tem a possibilidade de, em um cenário de juros alto, manter ainda minimamente a competitividade e o nível de venda aos consumidores”, afirmou.

Além disso, satisfazer os clientes e manter um alto padrão de avaliação podem ser um ponto diferencial para que as varejistas – individualmente – se mantenham como principal escolha da população.

“Proporcionar uma experiência de compra diferenciada e personalizada, seja no online ou físico, pode ser uma maneira de atrair e reter consumidores, mesmo em um ambiente de crédito mais caro”, finalizou Lima.

O ciclo de aumento da Selic tem sido justificado, tanto pelo BC quanto pelo mercado financeiro, por conta da inflação, que ainda não convergiu à meta de 3% e é alvo de constantes revisões de projeções, que geralmente apontam para cima.

Nesse aspecto, Queiroz destacou que, ao passo que as varejistas sofrem com a Selic mais alta, há dois grupos que se beneficiam do ambiente: os especuladores e o setor financeiro.

“Aqueles que especulam com a Selic, esses querem sempre que ela esteja elevada, não obstante, nós temos uma das maiores taxas reais de juros do mundo”, disse o economista.

“No setor financeiro, o custo do crédito aumenta, o spread bancário aumenta e o custo de rolagem de dívida também. Então, nesse sentido, são segmentos que acabam ganhando”, avaliou.

A expectativa do consenso de economistas consultados pelo BC no último Relatório Focus indicou que a Selic deve finalizar este ano em 11,50% a.a., enquanto o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve fechar em 4,37%.

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