Pedra ornamental extraída em cidade mineira recebe certificação inédita

A união de uma história rica, o desejo de valorização do comércio local e a pesquisa científica rendeu à Pedra São Thomé e a Minas Gerais o primeiro certificado de Indicação Geográfica (IG) – Denominação de Origem (DO) de uma pedra ornamental. O reconhecimento reforça sua importância, qualidade superior e autenticidade como produto exclusivo do estado e do Sul de Minas, mais precisamente dos municípios de São Thomé das Letras, Luminárias e Três Corações.

A certificação demandou uma força-tarefa para a coleta de dados históricos, econômicos e sustentáveis, bem como a adequação do modelo de extração e venda.

O processo para obtenção da IG junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) foi conduzido pela Associação de Mineradores da Pedra São Thomé (Amist) e contou com o apoio do Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG).

Também envolveu o Sebrae Minas e pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), que realizaram uma série de estudos técnicos, além de testes químicos e geográficos, para comprovar a singularidade da pedra.

De acordo com José Cristiano Vilas Boas, associado da Amist e representante da empresa Mineração Serra do Carimbado, a mobilização nasceu da vontade de mostrar ao mercado a diferença em termos técnicos e de qualidade da Pedra São Thomé frente a outras pedras disponíveis.

“Sofríamos com a desvalorização e a vulgarização do nosso produto, que é diferenciado na qualidade e na exclusividade, mas era vendido como equivalente a outros produtos de menor qualidade e sem procedência”, destaca.

O presidente da Fapemig, Carlos Arruda, destaca a importância do trabalho conjunto entre empresas, universidade e governo para o alcance da certificação. “Essa colaboração gera resultados importantes. Nesse caso, temos a valorização de um produto característico de Minas, o que fortalece a identidade regional e a competitividade do Estado no cenário nacional e internacional”, comenta.

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Quartzito encontrado em São Thomé das Letras possui cores claras que vão do branco ao amarelo (Foto: Agência Minas)

A Pedra São Thomé é um quartzito formado por rochas metamórficas de cerca de 1,7 bilhão de anos. Ela possui cores claras que vão do branco ao amarelo e podem conter ainda traços verdes e rosas. A pedra se destaca no revestimento de pisos, principalmente em áreas descobertas e de piscina, por conter propriedade antiderrapante e refletir a luz solar, o que evita o seu aquecimento. Essas propriedades conquistaram o público e movimentam, em 2024, de acordo com a Amist, cerca de US$ 7,8 milhões no mercado exterior.

Para o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, a valorização do produto mineiro através da IG vai projetar o Arranjo Produtivo Local (APL) para outros mercados.

“O reconhecimento do APL de quartzito de São Thomé já foi um grande avanço para o setor produtivo da região. Essa política pública que proporciona oportunidades de inovação, incremento produtivo e mais competitividade para as empresas só se fortalece com a certificação da qualidade dos nossos produtos”, afirma.

Com a Indicação Geográfica, o mercado mineiro se movimenta de forma significativa, impulsionando não apenas a economia local, mas também projetando a Pedra São Thomé em outros mercados nacionais e internacionais. O selo de qualidade agrega valor ao produto e potencializa o desenvolvimento econômico da região, contribuindo para a geração de emprego e renda.

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Riqueza cultural e influência econômica da Pedra São Thomé

capela Pedra Sao Thome Pedro Fortini Agencia Minas
Um dos primeiro usos da Pedra São Thomé foi na construção da capela em homenagem ao santo que dá nome à cidade (Foto: Pedro Fortini/Agência Minas)

Historicamente, a Pedra São Thomé começou a ser explorada pelos moradores da região de São Thomé das Letras por volta de 1860, segundo Antônio Henrique Vilas Boas, associado da Amist.

“A pedra começou a ser extraída na época da corrida do ouro, e um dos primeiros usos foi para a construção da capela em louvor ao santo que dá o nome à cidade e ao quartzito. A Pedra São Thomé foi usada na sua estrutura, no cemitério e na praça do seu entorno. As fazendas e as casas da região também usavam a pedra como revestimento, mas foi a partir de 1940 que ela começou a ser explorada comercialmente”, conta o empresário.

Vilas Boas ainda destaca que a mineração da pedra tem uma grande riqueza cultural, mas ganhou relevância econômica na região de São Thomé das Letras. “Há uma grande importância também para Minas Gerais e para o Brasil, uma vez que grande parte do quartzito nacional exportado é oriundo de São Thomé. A partir de 1940, podemos considerar que foi o primeiro momento que a pedra ganhou mercados no Brasil. Por volta de 1980, ela começou a ganhar o mercado externo por ser um produto único no mundo”, completa.

A cidade de São Thomé das Letras está inserida em um Arranjo Produtivo Local (APL) de base mineral que abrange dez municípios. Dessa forma, o foco de influência da atividade reverbera por toda essa região, com a movimentação do comércio, a geração de empregos, além da parte cultural.

Apenas em 2021, o APL movimentou cerca de R$ 3,5 milhões em Minas Gerais, e as atividades mineradoras da Pedra São Thomé, em 2024, já geraram 636 novos postos de trabalho nas cidades de São Thomé das Letras, Luminárias e Três Corações, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

“A área certificada é restrita e gerenciada pelas empresas que compõem a Amist por causa dos estudos técnicos de georreferenciamento, a licença para minerar obtida via Agência Nacional de Mineração (ANM) e as boas práticas legais obrigatórias”, explica a consultora técnica do projeto, Anna Flávia Lourenço. Nesse contexto, a IG sintetiza as exigências legais para a mineração, certificando que o processo de comercialização da Pedra São Thomé atende de forma satisfatória também os critérios ambientais e trabalhistas.

Base de conhecimento

O trabalho de pesquisa para a Indicação Geográfica da Pedra São Thomé foi inédito para a Agência de Inovação da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e contou com uma participação multidisciplinar de docentes e alunos dos cursos de Química e Geografia da Unifal. Contou, ainda, com o apoio de bolsistas dos programas de capacitação da Fapemig. “Agora estamos em uma terceira etapa, que é agregar novas tecnologias ao produto. A certificação do Inpi é fundamental para validar o nosso trabalho”, afirma Antônio Henrique Vilas Boas.

A Indicação Geográfica de um produto, no caso da Pedra São Thomé, é um certificado que acompanha a comercialização da pedra e possui um QRcode em que os compradores poderão acessar especificamente a área reservada para a mineração e a empresa que foi responsável, além dos dados históricos, geográficos, técnicos e tecnológicos envolvidos.

“O Inpi preza que a indicação geográfica possua os registros de padronização daquelas pedras muito bem especificados e, para isso, foram feitos estudos físico-químicos, que analisam as propriedades das rochas e do solo da região, e estudos para delimitar a área – basicamente toda a cidade de São Thomé das Letras”, explica a professora Márcia Paranho, responsável pela coordenação da certificação no início do processo.

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