

Nesta terça-feira (13), será plantada na Escola Estadual Sebastião Patrus de Sousa uma flor. Quem irá plantá-la é uma ex-professora do colégio, e o motivo de fazer isso é o de, finalmente, deixar de viver esse arrependimento. Esse é um dos 115 relatos reunidos pelo “Projeto Moradores | Educação”, que organiza nesta terça-feira (13), às 19h, na instituição, a exibição de um documentário a partir da coleta de depoimentos de ex-alunos, professores e demais membros da comunidade acadêmica do colégio. A entrada é gratuita.
Além da exibição e uma visita guiada pela exposição de fotos realizada pelo projeto, que traça a trajetória dos envolvidos, o evento também conta com atividades culturais, distribuição de um catálogo impresso com as histórias de alguns personagens e imãs de geladeira. Quem participou do documentário será presenteado e poderá levar para casa a sua foto revelada, que também estará exposta em um “varal fotográfico”.
Mais que uma celebração
Mais do que uma festa ou celebração, a exibição será o fim de uma etapa de transformação que seguirá, durante vários anos, na vida de cada um que participou do projeto, segundo Gustavo Nolasco. Há treze anos, Gustavo criou o “Projeto Moradores – a humanidade do patrimônio”, do qual o “Moradores | Educação” é um desdobramento. Inicialmente, a ideia dele passava pela valorização dos moradores de Tiradentes, já que em sua visão e na do grupo de criadores que participa, um dos maiores patrimônios que uma cidade pode ter são as pessoas que vivem nela. “Tendo orgulho do lugar, as pessoas vão querer preservar, não deixando que aquele espaço seja destruído.”
Com o convite realizado pelo Ministério Público de Minas Gerais no ano passado, o “Moradores” ganhou um novo foco, que abarca um território ainda não explorado: as escolas. O objetivo, em certo sentido, segue sendo o mesmo: despertar orgulho naqueles que vivem e viveram aquele espaço. Por isso, toda a comunidade acadêmica é convidada a participar contando histórias marcantes vividas nas escolas.

Como é o caso de Dona Ieda, a ex-professora que será convidada a plantar uma orquídea no Patrus. De acordo com Gustavo, ela conta em seu depoimento que a mãe da ex-professora possuía um jardim lindo. Ao sair do colégio, a coisa que ela mais se arrependeu foi a de poder ter plantado essa planta no colégio, mas não ter feito. Foi como se tivesse perdido a oportunidade de marcar a escola para sempre – o que mudará nesta terça.
Outra história que está no documentário é a da aluna Mariana Barizon, que atualmente está no terceiro ano do ensino médio no Patrus. Foram várias as histórias contadas por ela para o projeto, mas uma, em especial, a emocionou mais durante o relato. Ao ser perguntada de onde vinha seu apreço pela arte, Mariana lembrou de sua mãe e seu avô. A mãe, por, como ela conta, ouvir boas músicas desde que estava em sua barriga. O avô, por sua vez, por ser uma figura acima da média, com inteligência ímpar, mesmo sendo cego e analfabeto. “Um tempo depois que a pessoa falece ela não é mais assunto. Dedico ‘Naquela mesa’, do Nelson Gonçalves para ele. Ele gostava muito. Fiz uma homenagem, ele nunca vai deixar de ser falado na nossa família. Fiquei bem emocionada no documentário”, conta a estudante.
Entretanto, não foi apenas contar a própria história que a emocionou. Mariana foi uma das alunas do Patrus que participou do projeto também na escuta e colheita dos depoimentos. Ela destaca que algumas, apesar de serem fortes, como no caso de um menino diagnosticado com TDAH que saiu da escola por ser visto como bagunceiro na década de 1970, são importantes para que a memória não se perca e eventos similares não aconteçam. Em outras, como no caso de uma aluna grávida que contou com o acolhimento de professores e colegas de classe, o próprio relato a emocionou, despertando em Mariana o desejo de trabalhar com algo similar que vivenciou ao participar do projeto. “Chega a ser bizarro o quanto isso vai influenciar na minha vida. Isso mudou completamente ela, abriu minha cabeça para várias possíveis profissões”, conta a aluna.
É exatamente esse trabalho de “sementinha” na transformação no cotidiano de cada um que Gustavo e os outros integrantes do “Projeto Moradores” têm como objetivo. “Essa é uma ação dentre várias outras que vem ocorrendo nesse sentido de tentar recuperar esse sentimento de que a escola é um lugar importante, que precisa ser valorizado, tendo investimento e ações para que ela se mantenha viva e pulsante, com capacidade de atrair os jovens.”
‘Moradores| Educação’
O “Moradores | Educação” é um desdobramento do “Projeto Moradores – A Humanidade do Patrimônio”, uma iniciativa com 13 anos de existência. Com o entendimento de que a escola é uma “cidade” com vida própria e vivências muito particulares, surgiu a ação, como um movimento cultural pela valorização das escolas de Minas Gerais sendo um território de pertencimento para toda a comunidade escolar e um lugar de memória para milhares de pessoas que passaram por elas ou que vivem no seu entorno.
O projeto é dividido em três etapas. Na primeira é realizada uma oficina com os alunos das escolas, trabalhando a importância da memória e do patrimônio; na segunda, a “Tenda de Ouvir Histórias” é montada, recolhendo depoimentos; e a terceira é a exibição dos resultados finais. O resultado final dos projetos pode ser conferido no Youtube do Moradores.
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*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy
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