Hollywood reage a proposta de Trump sobre tarifas: “Ele matará a indústria dos EUA”

A indústria cinematográfica global reagiu com forte preocupação ao recente anúncio do ex-presidente Donald Trump, que “autoriza” o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos a impor uma tarifa de 100% sobre “todas” as produções cinematográficas realizadas fora do território americano.

Segundo o Deadline, apesar da proposta ainda estar em estágio inicial e carecer de detalhes, o impacto foi imediato e significativo nos setores cinematográficos dos EUA e internacionais, gerando um clima de apreensão sobre as consequências para o mercado global.

“Que bomba”, expressou um dos principais produtores e distribuidores alemães.

“É insano”, acrescentou um produtor veterano do Reino Unido. “Então, as empresas dos EUA só poderão produzir filmes em território nacional? James Cameron não poderá mais filmar ‘Avatar’ no exterior? Quem arcará com as tarifas? Os distribuidores independentes seriam dizimados”.

Um produtor observou: “Não se pode impor aos criativos quais histórias eles podem contar”.

Estúdios e plataformas de streaming também seriam severamente afetados.

“Isso impacta profundamente as plataformas de streaming, cujo modelo de negócios se baseia em produzir localmente e explorar globalmente, incluindo o mercado central dos EUA”, afirmou um vendedor internacional experiente. “Uma produção filmada no exterior seria exibida nos EUA? Seria removida dos serviços de streaming americanos?”

Alguns analistas acreditam que a declaração de Trump visa gerar ansiedade e confusão como tática de negociação.

“Não vejo um objetivo claro além de confusão e distração”, disse um executivo de distribuição dos EUA. “Esperamos que isso apenas incentive aumentos nos incentivos fiscais estaduais dos EUA”.

Outros criticaram a medida, argumentando que ela prejudicaria a indústria dos EUA.

“Ele matará a indústria dos EUA mais rapidamente, pois aumentará o custo de filmes americanos que já não vendem bem internacionalmente”, afirmou um distribuidor francês. “Criar incentivos para filmar nos EUA seria mais inteligente, mas duvido que ele tenha essa inteligência”.  

Um veterano da indústria cinematográfica fez um comentário refutando a ideia de que a medida beneficiaria a produção nos EUA: “Quem celebra isso como se criasse empregos na produção dos EUA precisa entender que o efeito será o oposto. Tornará produções de baixo e médio orçamento inviáveis, destruindo empregos de assistentes de produção a roteiristas e pós-produção. Além disso, reduzirá a produção de filmes de grande orçamento devido ao aumento dos custos”.

A Screen Producers Australia (SPA) expressou preocupação em seu site:

“Neste momento, não está claro o que esse anúncio significa na prática ou como será aplicado. Há muitas incógnitas para nossa indústria, mas, até sabermos mais, é inegável que isso causará ondas de choque globais. Para a indústria australiana, reforça a necessidade de o governo se concentrar em construir uma indústria local resiliente que possa suportar choques globais como este”, disse o CEO da SPA, Matthew Deaner.

O produtor neozelandês John Barnett condenou a decisão do presidente: “É típico de tudo o que Trump fez, totalmente ilógico. Se aprendemos algo nos primeiros 100 dias, é que o que ele diz hoje não é necessariamente o que dirá amanhã”.

“Honestamente, poucas coisas abalaram nossa indústria dessa forma”, disse Evelyne Snow, chefe de comunicações da Aliança Quebecoise de Técnicos de Imagem e Som (AQTIS).

Uma grande empresa cinematográfica dos EUA que trabalha com produções nacionais e internacionais alertou: “As ações de Trump já afetam as vendas na China, mas isso reduziria todo o mercado global, com compradores relutantes em pagar garantias mínimas se houver uma taxa sobre filmes no mercado de Cannes ou sobre filmes já adquiridos. Afeta acordos de distribuição doméstica e investidores, pois seus filmes perderiam valor. Não poderíamos fazer filmes com os mesmos orçamentos, atores receberiam menos e a lista continua. Simplesmente, destruiria o setor independente”.

“Isso não é bom para Cannes”, disse um importante agente de talentos dos EUA. Um vendedor europeu acrescentou: “Que bomba na véspera de Cannes. A mera possibilidade de tal tarifa cria incerteza desnecessária no mercado”.

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Lembrando que o presidente Donald Trump emitiu uma ordem ao Representante Comercial dos Estados Unidos e ao Departamento de Comércio que iniciem o processo para impor uma tarifa de 100% sobre as importações de filmes produzidos em “terras estrangeiras” (via Deadline).

Chamando a produção descontrolada de “ameaça à segurança nacional”, os comentários de Trump seguem relatos de que um de seus “embaixadores especiais” em Hollywood, Jon Voight, estava elaborando um plano para “salvar” a indústria do entretenimento.

Através do Truth Social, Trump escreveu:

“A indústria cinematográfica americana está MORRENDO muito rápido. Outros países estão oferecendo todos os tipos de incentivos para atrair nossos cineastas e estúdios para longe dos Estados Unidos. Hollywood e muitas outras áreas dos EUA estão sendo devastadas. Este é um esforço conjunto de outras nações e, portanto, uma ameaça à segurança nacional. É, além de tudo, mensagem e propaganda! Portanto, autorizo ​​o Departamento de Comércio e o Representante Comercial dos Estados Unidos a iniciar imediatamente o processo de instituição de uma tarifa de 100% sobre todos os filmes que chegam ao nosso país e são produzidos em terras estrangeiras. QUEREMOS FILMES FEITOS NA AMÉRICA, NOVAMENTE!”.

Pouco depois, o presidente estadunidense disse aos repórteres:

“Outras nações têm roubado a… capacidade de produção cinematográfica dos Estados Unidos. Eu perguntei a algumas pessoas: ‘O que vocês acham?’. Fiz uma pesquisa muito aprofundada na última semana e estamos fazendo pouquíssimos filmes agora. Hollywood está sendo destruída. Agora temos um governador extremamente incompetente que permitiu que isso acontecesse, então não estou culpando apenas outras nações, mas outras nações, muitas delas, roubaram nossa indústria cinematográfica. Se elas não estão dispostas a fazer um filme dentro dos Estados Unidos, deveríamos ter uma tarifa sobre os filmes que chegam. E não só isso, os governos estão, na verdade, dando muito dinheiro. Eles os estão apoiando financeiramente. Então, isso é uma espécie de ameaça ao nosso país, em certo sentido”.

Voight se reuniu com vários dirigentes de sindicatos e executivos de estúdios nas últimas semanas, e havia alguma expectativa de um incentivo fiscal federal. Há muito tempo, há uma pressão na indústria por um incentivo fiscal federal mais robusto, em oposição às isenções fiscais estaduais, como forma de manter mais produção nos Estados Unidos.

Representantes sindicais vêm levantando a ideia de uma isenção fiscal federal para incentivar ainda mais a produção nacional há algum tempo, visto que as equipes de produção têm sofrido com a perda de empregos ao longo de muitos anos.

Mas entre os estúdios, também houve preocupações de que Trump tentasse impor restrições a qualquer filmagem no exterior, já que incentivos generosos no Reino Unido, Canadá e Austrália há muito tempo atraem a produção de estúdios de Hollywood. Os grandes estúdios de Hollywood passaram a depender desses incentivos estrangeiros como forma de tentar reduzir os custos de produção.

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