Crítica | Síndrome da Apatia – Drama Grego Ilustra Cruel Realidade de Refugiados na Europa [Festival de Cinema Europeu]

A realidade dos refugiados na Europa não é mais novidade para ninguém. Diariamente diversos veículos jornalísticos noticiam dezenas, centenas de pessoas arriscando suas vidas para atravessar o mar, o deserto, as fronteiras de maneira ilegal na busca de uma vida melhor ou para simplesmente sobreviver à realidade de seus países. Algumas dessas pessoas fogem da fome, outras fogem da guerra, outras, ainda, fogem de perseguições políticas ou ideológicas. Aquelas que conseguem fugir dessa realidade muitas vezes pedem asilo político, refúgio ou acolhimento humanitário, mas a maioria vive em condições ilegais. Os poucos que conseguem acolhimento e legalização invariavelmente recorrem ao pedido de cidadania e residência permanente – benefício concedido a pouquíssimos. Sobre esse dolorido e longo processo se trata o filme grego ‘Síndrome da Apatia’, que estreou em terras brasileiras através do Festival de Cinema Europeu.

Natalia (Chulpan Khamatova) e Sergei (Grigory Dobrygin) são pais das crianças Alina (Naomi Lamp) e Katja (Miroslava Pashutina). Atualmente a família vive em uma casa que abriga refugiados na Suécia e mantem uma vida simples: as meninas vão à escola todos os dias enquanto os pais cuidam do asseio da casa e outros afazeres. Quando eles recebem o resultado do pedido negado de cidadania sueca, Natalia e Sergei se desesperam com a ideia de terem que voltar para a Rússia, onde Sergei sofrera um atentado e quase morrera. O medo dos pais é sentido pelas filhas, e, num acesso de pânico, Alina acaba desmaiando e entrando numa espécie de coma. Com apenas dez dias para entrar com recurso no pedido de cidadania e tendo que cuidar da filha internada, Natalia e Sergei terão que buscar forças para driblar a burocracia do país estrangeiro.

Síndrome da Apatia’ é daqueles filmes que você torce para ser ficção, mas, quando acaba e as letrinhas sobem, entra aquela cartela em que diz que o longa é baseado em fatos reais. Aí sobe aquela dor, oriunda do absurdo que é vivermos numa sociedade em que esse tipo de ocorrência está cada vez maior, e, ao mesmo tempo, pouco se fala sobre isso.

A tal ‘Síndrome da Apatia’ é um fenômeno cada vez mais recorrente principalmente entre crianças e jovens refugiados, que, no ápice do estresse em que são submetidos à toda a situação de deixarem suas casas para irem viver forçadamente em outro país para sobreviver, acabam tendo uma espécie de colapso nervoso, em que o sistema cognitivo simplesmente se fecha e a criança entra numa espécie de coma, sem conseguir voltar à interação social. Um sistema de autoproteção involuntário que vem do absurdo da realidade. Talvez nem mesmo os melhores escritores de ficção científica elaborariam algo tão sutilmente cruel.

Desse espanto, surge o filme do diretor Alexandros Avranas, que, embora de ritmo bem lento e poucos acontecimentos agitados, ilustra bem a tensão das sensações extremas vividas pelos personagens: por um lado, o drama dos protagonistas russos que correm contra o tempo para terem a chance de sobreviver na Suécia; por outro, o cinismo, a burocracia e o ridículo que são as metodologias para lidar com as necessidades dos refugiados pensadas a partir de pessoas que sequer sentem empatia pela situação do que pedem refúgio.

Sem recorrer ao melodrama, ‘Síndrome da Apatia’ é um filme bem corajoso, que choca ao ilustrar o impacto desta absurda realidade que cresce a cada dia na Suécia.

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