
O Grupo Casino, de forma discreta, avança mais um passo em seu processo de retirada das operações do Brasil, especialmente no GPA (PCAR3), Grupo Pão de Açúcar, dono das redes Pão de Açúcar e Extra.
Isso por que nesta segunda-feira (14), a varejista brasileira informou que o grupo francês comunicou oficialmente que retiraria as garantias financeiras que havia prestado em processos fiscais envolvendo a Receita Federal.
Esse movimento ocorre em meio a uma disputa bilionária de R$ 2,6 bilhões entre o GPA e a Receita Federal, relacionada à dedução fiscal de ágio — valor pago em aquisições de empresas — em transações realizadas entre 2007 e 2013.
A Receita questiona a validade dessas deduções, o que tem gerado a possibilidade de cobranças adicionais de impostos. Até agora, o Casino atuava como fiador do GPA, garantindo eventuais perdas no processo. Se o grupo francês seguir com seu afastamento, o GPA precisará buscar uma nova forma de garantir os débitos fiscais.
Essa movimentação do Casino representa mais de metade das contingências fiscais do GPA, que somam R$ 4,8 bilhões, segundo o último balanço da empresa.
O grupo brasileiro reagiu à retirada das garantias financeiras e, em comunicado, declarou que “discorda da posição” do Casino, considerando as garantias “plenamente válidas” e prometendo adotar as medidas necessárias para defender seus interesses. Apesar do revés, o GPA afirmou que já obteve vitórias em parte dos processos e não há impacto imediato em sua liquidez.
A situação lembra o caso do Assaí, ex-braço de atacarejo do GPA, que, após ser cindido do grupo em 2021, enfrentou cobranças fiscais relacionadas às contingências históricas do GPA. O Assaí contestou as cobranças, alegando que se tornou independente após a cisão.
Afastamento do Grupo Casino e reestruturação do GPA
A retirada das garantias financeiras pelo Casino é apenas mais um sinal do afastamento gradual e silencioso do grupo francês do Brasil, uma estratégia que vem sendo adotada com precisão desde 2023, quando o grupo reclassificou o GPA em seu balanço como “ativo para venda”.
O Grupo Casino iniciou sua participação no GPA em 1999 e, após diversos aumentos de participação, passou a controlar completamente a empresa em 2012.
Em março de 2024, o Casino viu sua participação diluída de 40,9% para 22,5%, após um aumento de capital realizado pelo GPA, perdendo, assim, o controle da companhia. Hoje, sua participação vale cerca de R$ 237,5 milhões.
Com o Casino se afastando, o empresário Nelson Tanure começa a ocupar o espaço deixado, juntamente com investidores como o Banco Master e Ronaldo Iabrudi.
Tanure, especializado em reestruturações e aquisições de empresas em dificuldades, propôs a destituição do atual conselho do GPA e a formação de um novo colegiado com nove membros, sendo dois indicados por ele, dois pelo Casino e dois por Iabrudi.
Disputas e movimentações no GPA
O movimento de Tanure e seus aliados, que não passou despercebido pelo mercado, também atraiu a atenção de Rafael Ferri, ex-sócio do TC e fundador da GTF Capital.
Ferri, com aproximadamente 1,2% do capital do GPA, formou alianças com outros fundos para alcançar cerca de 8% de participação, visando garantir uma posição de destaque na assembleia marcada para 5 de maio. O movimento é coordenado com o grupo Coelho Diniz, que possui supermercados no interior de Minas Gerais.
O GPA, que está em processo de recuperação e reestruturação financeira, enfrenta desafios típicos do setor varejista, como juros altos e o controle de sua dívida.
O grupo registrou prejuízo líquido de R$ 2,41 bilhões no ano passado, superando o prejuízo de R$ 2,27 bilhões em 2023. Embora seus papéis tenham registrado uma alta de 36,2% nos últimos 12 meses, no longo prazo, a queda acumulada nos últimos cinco anos supera os 90%.
Neste cenário, o papel de Tanure se torna cada vez mais crucial para o futuro do GPA, com o empresário mirando uma possível reestruturação do grupo e uma entrada estratégica no processo de turnaround.
O post Tanure mira oportunidade com o distanciamento do Casino do GPA apareceu primeiro em BPMoney.