Cinderela | Os 10 anos do MELHOR remake em live-action da Disney

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Já faz um bom tempo que a Walt Disney Studios vem investindo em remakes em live-action de suas clássicas animações inspiradas em contos de fada, como forma de reintroduzi-los a uma nova geração de espectadores que, talvez, não se encantassem com a estética das obras originais. E, enquanto grande parte dessas investidas falhou em capturar a magia das animações (como ‘Dumbo’, ‘Pinóquio’ e ‘O Rei Leão’), outras tiveram uma recepção bastante positiva por parte do público e da crítica – como foi o caso de ‘Cinderela’.

O longa-metragem dirigido por ninguém menos que Kenneth Branagh (que viria a ganhar o Oscar anos mais tarde por seu trabalho em ‘Belfast’) trouxe Lily James como a heroína titular, uma jovem que perdeu a mãe e o pai e agora vive à mercê de uma madrasta psicótica que a obriga a fazer todos as tarefas de casa sem qualquer ajuda, além de ser maltratada pelas duas meias-irmãs – sonhando com o momento em que poderá começar a viver a própria vida e encontrar o amor, mas não de uma forma submissa, e sim como algo a mais que a faça transbordar e que a prove que existe mais além de uma subserviência compulsória. O resultado da produção, que completa uma década este ano, foi bastante positivo, através de uma perspectiva um tanto quanto original de Branagh que trouxe elementos do conto assinado por Charles Perrault e da animação de 1950, à medida que expandiu esse incrível e inspirador universo.

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O primeiro elemento que nos chama a atenção é o trabalho de James como Cinderela: garantindo à atriz um reconhecimento mundial, ela condensou a conhecida personalidade da protagonista em uma cândida e apaixonante performance que ampliou os desejos e anseios de uma construção quase feminista e que não se sujeitou apenas aos caprichos do amor, e sim a um processo de autoconhecimento e de libertação que moderniza o enredo de forma bastante sólida. E, em um espectro oposto e complementar, Cate Blanchett foi escalada para interpretar Lady Tremaine, a odiosa madrasta que nunca se importou com nada além do status e do dinheiro – e, aqui, ela é instituída como uma força descomunal através de uma entrega magnífica e magnética da artista.

Enquanto James e Blanchett posam como centro principal das nossas atenções e roubam os holofotes com uma química aplaudível, o restante do elenco também garantiu ritmo e dinamismo à história, incluindo Richard Madden como uma versão mais pró-ativa do Príncipe Kit e Helena Bonham Carter como uma jocosa e atrapalhada versão da Fada Madrinha, cujo objetivo é ajudar Cinderela a alcançar seus objetivos. E, enquanto certos fãs da obra clássica torceram o nariz para a falta de canções, a ideia aqui não é traduzi-la em um musical, ainda mais porque isso não funcionaria em um escopo pautado no épico fantástico – afinal, caricaturar os animais em seres falantes de fato não combinaria com a ambientação assinada por Branagh.

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O diretor, inclusive, alia-se ao roteiro revisado de Chris Weitz para arquitetar uma jornada coming-of-age romântica que é muito bem detalhada e que consegue entregar tudo o que promete ao longo de breves cem minutos – incluindo uma clara distinção tônica entre o arco de Cinderela e de Lady Tremaine: de um lado, Branagh e o diretor de fotografia Haris Zambarloukos unem forças para eternizar tanto a melancolia inocente da heroína em enquadramentos que prezam por uma solidão enclausurada que pouco a pouco se transmuta em esperança e paz (apostando fichas em cores azuis muito bem colocadas); de outro, Tremaine emerge em uma ambição derradeira que prenuncia a própria ruína, engolfada no luxo efêmero de sua casa e de seus impulsos conforme é guiada por um uso constante do ambíguo verde-esmeralda.

Apesar de não trazer as icônicas músicas da animação, a trilha sonora de Patrick Doyle amalgama elementos atemporais da Casa Mouse e a transforma em entidade viva que dá moção ao longa-metragem e nos convida a mergulhar de cabeça nessa aventura incrível – sem cair em pedantismos exagerados que nos forçam a um determinado sentimento e emergindo como estrutura para que os personagens brilhem em seus respectivos arcos.

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Há dez anos, a Walt Disney lançava o que podemos encarar como seu melhor remake em live-action até os dias de hoje com uma adaptação quase irretocável de ‘Cinderela’. Compará-lo com a animação dos anos 1950 parece sem sentido, ainda mais porque é visível que a proposta de ambos é diferente; porém, como reintrodução a uma das histórias mais conhecidas do estúdio, é notável como Branagh e sua incrível equipe acertam em cheio em quase todas as notas.

Lembrando que o longa está disponível no Disney+.

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