Árvores em Juiz de Fora: Bombeiros registram quase 350 ocorrências em 2024

Árvores em Juiz de Fora: Bombeiros registram quase 350 ocorrências em 2024

Árvores em Juiz de Fora: Bombeiros registram quase 350 ocorrências em 2024
(Foto: Felipe Couri)

A forte chuva registrada em Juiz de Fora no último dia 5 de janeiro  traz más lembranças para a estudante de Medicina Veterinária, Anna Carolina Tavares. “Naquele dia, chovia muito, e parecia mais forte do que o normal para Juiz de Fora”, relembra. Natural de Petrópolis, ela conta qu ficou apreensiva pelo trauma da chuva de 2022 em sua terra natal. Anna e o namorado já haviam notado que a árvore no quintal de sua casa balançava bastante durante chuvas e ventos fortes, mas como não aparentava estar podre ou velha, sentiam tranquilidade.

“Estávamos no quarto, conversando e esperando a chuva passar e a luz voltar (o que aconteceu 22 horas depois), quando ouvimos um barulho extremamente alto vindo do telhado da cozinha, que é feito de madeira e vidro. Levei um susto enorme, e minha primeira reação foi querer sair de casa, mas, como a chuva estava muito forte, seria arriscado.” Seu namorado pediu para que ela ficasse no quarto, já que o telhado é de alvenaria e mais seguro. Naquele momento, não conseguiram ver exatamente o que havia acontecido.

No dia seguinte, tiraram a dúvida: a árvore tinha caído por inteira. Ela atingiu parte do telhado e ficou atravessada entre o muro do quintal e a casa. “Uma telha do telhado convencional chegou a quebrar, mas por sorte o estrago não foi maior”, relata a estudante. Dois dias depois, com o tempo mais estável, as equipes responsáveis foram retirar a árvore caída.

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), só em 2024 foram registradas 348 ocorrências relacionadas a corte de árvores em Juiz de Fora, que englobam: corte/poda de árvore com risco iminente de queda; corte de árvore caída em via pública; corte/poda de árvore mediante ordem de serviço; corte/poda de árvore caída sobre residência; e corte de árvore caída sobre veículo.

Só no dia 5 de janeiro, a Defesa Civil da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) contabilizou mais de 70 quedas de árvores na cidade, conforme informado à Tribuna na ocasião.

Árvores podem cair por diversos motivos

O professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cristiano Resende, explica que, sobre fatores que causam a queda de árvores, é possível considerar dois casos: as saudáveis e as acometidas por algum problema de crescimento excessivo, como poda ou corte irregular de copa ou raízes, doenças e parasitas. “Como os eventos climáticos extremos são cada vez mais comuns, ainda que as árvores estejam saudáveis, o risco aumenta: ventos muito fortes podem quebrar galhos e levar à queda, o que ocorre tanto em áreas bem florestadas, quanto em ambiente urbano.”

Segundo Cristiano, quando uma árvore de grande porte é plantada em uma calçada – ou quando a urbanização ocorre ao redor de uma que já estava ali há décadas -, sua copa cresce e, muitas vezes, a parte aérea não acompanha as raízes. Além disso, quando o solo é pobre em nutrientes, sofre compactação e impermeabilização por camadas de asfalto e concreto na superfície. “As raízes não crescem bem nessa situação e, para piorar, em alguns casos são cortadas. Isso enfraquece a sustentação da parte aérea e leva a situações em que um vento forte pode inclinar tanto a copa da árvore, que ela chega a tombar”, esclarece.

“Uma árvore cuja poda tenha sido feita de forma irregular também representa risco. Isso favorece o crescimento em uma direção, causando tendência de ela tombar para aquele lado, já que o centro de gravidade da copa fica deslocado. Árvores inclinadas em encostas são ainda mais problemáticas.”

Outra possibilidade é de árvores mortas ou com doenças que diminuem o vigor da parte aérea e enfraquecem as raízes, mas que permanecem em pé. Cristiano acrescenta que são considerados diversos tipos de doenças, causadas por vírus, bactérias e fungos, por exemplo, além de ataques de insetos, como lagartas e besouros, e vermes nematódeos. A presença de plantas parasitas (como erva-de-passarinho) também pode enfraquecê-la e aumentar o peso dos seus galhos, que podem correr mais risco de quebrar.

ARVORES SANTA TEREZINHA FELIPE COURI 6
(Foto: Felipe Couri)

Importância nos centros urbanos

A moradora do Bairro Santa Terezinha, Ana Maura Nascimento, conta à Tribuna sobre uma árvore perto de sua casa, plantada há cerca de 40 anos. “Há um ano, os galhos começaram a despencar, e eles são bem grossos. No momento, ela só tem sustentação por um lado. Ou seja, pode cair. Sentimos muito medo.”

De acordo com Ana Maura, nas vezes em que os galhos caíram, não havia ninguém por perto. “A raiz está para cima. Mesmo que cuidemos bem, todos os moradores em volta dela estão bastante preocupados. Queríamos plantar outra que não cresça tanto”, diz. Segundo ela, já foi solicitada a poda diversas vezes para a Empresa Municipal de Pavimentação e Urbanidades (Empav). Entretanto, a equipe “só comparece ao local quando o galho está prestes a cair”.

A arborização dos centros urbanos rende incontáveis benefícios, segundo Cristiano Resende. “As árvores são organismos que fazem fotossíntese, ou seja, usam o carbono do gás carbônico para fabricar os carboidratos que fazem parte do seu corpo e, com isso, formam ‘estoques de carbono’. Isso contribui para a descarbonização do ar, o controle do efeito estufa e a redução das mudanças climáticas. Na fotossíntese, também liberam oxigênio (O2) que todos nós usamos na respiração. Sendo assim, contribuem para a melhoria da qualidade do ar dos ambientes urbanos.”

Além disso, a sombra de uma árvore é mais fresca do que a de um prédio, por exemplo, pois não se trata apenas de evitar com que o sol atinja a superfície: as árvores transpiram, perdendo água na forma de vapor. Com isso, resfriam o ar ao redor. Dessa forma, é fundamental para um clima mais ameno, o que se agrava nos centros urbanos, que tendem a formar ilhas de calor – ambientes mais quentes do que as regiões periféricas. Isso contribui para a redução de gastos com energia elétrica.

Essas plantações absorvem a água do solo e a mantém no seu corpo (eventualmente perdendo grandes volumes para a atmosfera). Também favorecem a permeabilidade do solo por meio do crescimento de suas raízes. Ou seja, onde há cobertura vegetal, os solos ficam menos encharcados e há menor risco de enchentes.

Cristiano conclui reforçando que, quando uma árvore fica isolada, maior é a chance de uma ventania derrubá-la. “O ideal é que, numa região urbana, elas tenham uma boa cobertura: isso forma um “cobertor” que reduz a velocidade do vento. Ainda que uma ou outra sofra queda de galhos ou eventualmente caia, os benefícios de médio e longo prazo da manutenção dessa vegetação superam em muito esses problemas esporádicos.”

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Atuação de órgãos

A atuação do Corpo de Bombeiros, nesse tipo de ocorrência, é focada na ação de resposta. “As árvores são ‘estruturas’ naturais que carecem de cuidado e de responsabilidade do proprietário do terreno onde elas estão, seja do município ou de propriedades privadas. Fazemos a poda ou o corte de árvores única e exclusivamente quando elas estão representando um risco iminente de queda”, informa a corporação. 

Além disso, fazer o corte sem o devido cenário de risco é uma ação contra a flora e pode ser penalizada pelos órgãos responsáveis. Por isso, antes de efetuar o corte, os militares realizam uma vistoria. Nela, são observados aspectos como saúde, exposição de raízes, inclinação da maneira correta, avaliação da espécie e retirada de amostragem do casco para descobrir se há corrosão.

A vistoria é solicitada pela população. Em caso de suspeita de risco de queda, os bombeiros recomendam contato com o 193 para que uma guarnição vá ao local. Em relação à prevenção, a orientação é não furar, não cortar galhos, não cimentar raízes ou as bases da árvore, não utilizar produtos químicos sem orientação profissional, não queimar vegetação próxima e, sempre que necessário, procurar um profissional da área para fazer a manutenção ou a avaliação. Em caso da árvore encostar em fiação, atingindo a rede elétrica, é necessário solicitar à Cemig o desligamento. 

A PJF afirma que, somente em 2024, foram realizadas 11 mil podas de árvores na cidade. Outra medida  para garantir a conservação da arborização urbana é o programa “Cultivar o Futuro”, que planta, em média, 15 árvores por semana em áreas públicas como canteiros e praças. Elas são de espécies nativas e respeitam critérios técnicos, considerando tanto o porte, quanto o impacto em seu entorno.

Enquanto isso, os cortes são autorizados por avaliação dos profissionais habilitados que atestam as condições de saúde, segurança e impacto ambiental da árvore. “A Empav conta com equipes de poda de árvores de segunda a segunda, das 7h às 22h. O monitoramento é feito de forma constante pela Prefeitura, Corpo de Bombeiros, órgão e conselhos ambientais, entre outros agentes públicos e da sociedade civil. Em caso de risco iminente de queda, entre em contato com o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193. Para encaminhamento de demandas preventivas, entre em contato por WhatsApp (32) 3690-7984.”

* sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

 

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