Quem era o motoboy que morreu atropelado por motorista de Porsche: ‘Menino cheio de sonhos’

Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos, voltava de moto da casa da irmã na madrugada desta segunda-feira, 19, quando foi atingido por uma Porsche, e morreu após a colisão na Avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo. Entregador de comida por serviços de aplicativo, ele deixa um filho de três anos e a viúva, com quem havia acabado de se casar, em janeiro.

Segundo a família, ele costumava trabalhar seis dias por semana. Quando não estava fazendo entregas de moto, auxiliava o pai, Alex Lúcio Figueiredo, em serviços de van escolar. O rapaz tinha planos de comprar um imóvel próprio com a mulher. “Estou vendo meu mundo desmoronar”, disse o pai.

O motorista da Porsche foi identificado como o empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, segundo o boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso. A namorada dele, Marielle Aparecida de Oliveira Campos, também estava no veículo e machucou as mãos na colisão. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Sauceda.

Segundo o BO, Sauceda relatou aos policiais que Figueiredo passou de moto (uma CG 125) junto à Porsche (modelo Cayman, de cor amarela, e ano 2018) e chutou o retrovisor esquerdo do veículo. O empresário afirma que seguiu motociclista na avenida quando Figueiredo trocou de faixa de forma abrupta, e foi acertado pelo carro.

Sauceda disse à PM que tentou desviar, mas a moto e seu carro bateram em um poste e nas árvores próximas à via. O empresário diz, conforme o boletim, não saber o motivo que fez Figueiredo golpear o retrovisor.

Marielle, segundo a polícia, corroborou a versão dada pelo namorado. O casal afirma ter recebido a ajuda de populares para sair da Porsche. A polícia diz não ter identificado testemunhas para descrever a perseguição e vai buscar câmeras de vigilância na região. O motorista fez o teste do bafômetro e não foi identificada embriaguez.

A capital registrou no 1º semestre deste ano o maior número de mortes no trânsito desde 2015. Entre as vítimas, estão quatro em cada dez são motociclistas e um em cada quatro são jovens (20 a 29 anos), assim como Pedro Kaique Figueiredo.

‘A vida do meu filho não vai voltar’

“A folga do meu filho era ontem (domingo) e ele estava junto da irmã (a auxiliar de compras Jenifer Ventura Figueiredo, de 23 anos) passando, porque eles quase não se veem. Ela trabalha de segunda a sexta. Ele só tem uma folga na semana”, narrou o pai, o motorista Alex Lúcio Figueiredo, de 45 anos.

“Era difícil de se verem. Quando ele tem o final de semana, ele vai para lá (na casa da irmã no Jardim Consórcio, na Avenida Interlagos) para passarem mais tempo. Ele ainda passou passou lá em casa e falou comigo”, acrescentou. “Era um menino cheio de sonhos.”

Alex Lúcio conta que a motocicleta estava em dia, reforçando que o filho era muito responsável. “Ele não é um vagabundo, não é um ‘jogado’ que não tem condição”, afirmou.

Na porta do 48º DP (Cidade Dutra), onde a ocorrência foi registrada, a família do entregador cobra justiça. “Como ele não teve a intenção de matar? Então a intenção de matar é quando?”, questiona Alex Lúcio, que tentou agredir o condutor da Porsche quando ele era transferido de sala e machucou o ombro. “A vida do meu filho não vai voltar.”

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a autoridade policial do 48° DP, após colher depoimentos e analisar imagens de câmeras de segurança, autuou o motorista da Porsche por homicídio doloso (com dolo eventual – quando há intenção de matar). Ele responderá em liberdade. Os laudos periciais seguem em elaboração e serão analisados, assim que finalizados.

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