
O impeachment de Augusto Melo, aprovado pelo Conselho Deliberativo do Corinthians nesta segunda-feira (26), expôs um esquema milionário de desvio de recursos.
A decisão representa o ápice de uma crise institucional e financeira no clube, diretamente relacionada ao contrato com a ex-patrocinadora máster Vai de Bet, rescindido em junho de 2024.
O afastamento de Melo, que ocorre de forma imediata, é o desfecho de um processo iniciado em janeiro.
O presidente foi indiciado pela Polícia Civil por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
A acusação envolve ainda o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e o empresário Alex Cassundé.
Impeachment de Augusto Melo envolve contrato de R$ 360 milhões
Assinado no início da atual gestão, o contrato com a Vai de Bet previa R$ 360 milhões em três anos.
No entanto, 7% de cada parcela — cerca de R$ 700 mil mensais, totalizando R$ 25,2 milhões ao fim do vínculo — seriam pagos à intermediária Rede Media Social Ltda., empresa registrada em nome de Alex Cassundé.
Esse valor, que deveria remunerar a intermediação do acordo, seguiu parte para a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda., empresa “laranja” com CNPJ no nome de Edna Oliveira dos Santos, uma mulher de origem humilde de Peruíbe (SP).
De acordo com o relatório da Polícia Civil, a empresa servia como fachada para repasses ao braço financeiro do PCC, por meio da UJ Football Talent Intermediação.
Corinthians teve recursos desviados para o crime organizado
A Polícia Civil confirmou que o clube repassou dinheiro do próprio caixa para a Rede Media Social, que depois transferiu os valores para contas ligadas ao crime.
Ou seja, recursos do Corinthians financiaram, ainda que indiretamente, o crime organizado.
A diretoria do clube nega qualquer contrato com a UJ Football Talent, mas os registros bancários comprovam os repasses.
Além disso, a gestão de Augusto Melo já enfrentava outros três pedidos de impeachment — um deles relacionado à reprovação das contas do exercício anterior e ao aumento do passivo financeiro do clube.
Embora Melo alegasse que não teve direito de defesa no processo, a Justiça negou seu pedido para anular a votação.
Posteriormente, o efeito suspensivo concedido foi derrubado, permitindo a continuidade do processo.
Falhas de governança e gestão temerária motivaram destituição
De acordo com o artigo 106 do estatuto do Corinthians, práticas de gestão temerária, crime infamante e prejuízos consideráveis ao patrimônio ou à imagem da instituição são motivos para destituição.
Nesse sentido, o caso Vai de Bet foi considerado um exemplo claro de negligência e omissão, já que os recursos desviados saíram diretamente das contas do clube.
A falta de transparência e controle interno falho permitiram que os repasses ocorressem sem questionamento dos setores responsáveis.
Apesar das negativas da defesa, o Conselho Deliberativo entendeu que a gestão não apenas falhou nos processos, como também comprometeu a reputação do clube no mercado.
E agora? Impactos financeiros imediatos no Corinthians
Com a aprovação do impeachment, Osmar Stábile, primeiro vice-presidente, assume o comando do clube.
Agora, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., tem até cinco dias para convocar uma Assembleia-Geral de associados, que referendará ou não a destituição definitiva.
O prazo para essa votação pode se estender por até 60 dias.
Caso os sócios confirmem o afastamento, o Corinthians convocará nova eleição presidencial.
Apenas conselheiros poderão concorrer e votar.
Por outro lado, se a Assembleia rejeitar a destituição, Melo retornará ao cargo e o caso será arquivado.
Financeiramente, o clube vive momento delicado.
O rompimento com a Vai de Bet eliminou uma das principais fontes de receita, e a crise institucional afeta a atração de novos patrocinadores.
Além disso, os custos judiciais e as dificuldades operacionais aumentam a pressão sobre o caixa, que já sofre com o crescimento do passivo.
Clima tenso marca votações e pressiona futuro do clube
Desde o início do processo, o ambiente no Parque São Jorge tem sido marcado por tensão.
Em janeiro, a primeira parte da reunião teve bate-boca, confusão e protestos.
Na ocasião, a PM precisou intervir para garantir a segurança.
Faixas com dizeres como “Não vai ter golpe” tomaram o ginásio do clube.
Do lado de fora, membros da Gaviões da Fiel protestaram contra a direção do Conselho Deliberativo.
Com o indiciamento recente de Augusto Melo, no entanto, o clima mudou, e a pressão aumentou para que houvesse uma resposta institucional forte.
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