Leia na íntegra a homilia da missa de início do pontificado de Leão XIV

O papa Leão XIV celebrou neste domingo, 18, na Praça São Pedro, a missa de início do seu pontificado diante de milhares de fiéis e uma centena de delegações estrangeiras, compostas por chefes de governo, vice-presidentes, chanceleres, enviados especiais e representantes de organismos internacionais.

A homilia de Leão XIV foi marcada por referências a Santo Agostinho, um dos mais importantes pensadores do cristianismo, e por um pedido de unidade pela paz. “Esta é a hora do amor”, clamou.

“Como afirmou Santo Agostinho, a Igreja é composta por todos aqueles que estão em harmonia com seus irmãos e que amam o próximo. Irmãos e irmãs, eu gostaria que esse fosse o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado.”

Leia a homilia completa

Caros irmãos cardeais, irmãos no episcopado e no sacerdócio, distintas autoridades e membros do corpo diplomático! Saúdo os peregrinos que vieram em ocasião do Jubileu das Confrarias!

Irmãos e irmãs, saúdo todos vocês, com o coração cheio de gratidão, no início do ministério que me foi confiado. Santo Agostinho escreveu: “Fizeste-nos para ti, [Senhor,] e o nosso coração não encontra repouso enquanto não repousa em ti” (Confissões, 1, 1.1).

Nestes últimos dias, vivemos um tempo particularmente intenso. A morte do papa Francisco encheu de tristeza o nosso coração e, naquelas horas difíceis, sentimo-nos como aquelas multidões de que o Evangelho fala, que estavam “como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). No entanto, justamente no dia de Páscoa, recebemos sua última bênção e, na luz da Ressurreição, enfrentamos esse momento com a certeza de que o Senhor jamais abandona seu povo, reúne-o quando disperso e “guarda-o como um pastor guarda o seu rebanho” (Jr 31,10).

Nesse espírito de fé, o Colégio dos Cardeais reuniu-se para o Conclave; vindos de diferentes histórias e caminhos, colocamos nas mãos de Deus o desejo de eleger o novo sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, um pastor capaz de preservar o rico patrimônio da fé cristã e, ao mesmo tempo, lançar o olhar ao longe, para enfrentar as perguntas, inquietações e desafios de hoje.

Acompanhados pela vossa oração, sentimos a obra do Espírito Santo, que soube harmonizar os diversos instrumentos musicais, fazendo vibrar as cordas do nosso coração em uma única melodia.

Fui escolhido sem mérito algum. Com temor e tremor, venho a vocês como um irmão que deseja ser servo da vossa fé e da vossa alegria, caminhando com vocês no caminho do amor de Deus, que nos quer todos unidos em uma única família.

Amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão confiada a Pedro por Jesus.

O trecho do Evangelho nos leva ao lago de Tiberíades, o mesmo onde Jesus havia iniciado a missão recebida do Pai: “pescar” a humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte. Passando pela margem daquele lago, ele chamou Pedro e os primeiros discípulos para serem, como Ele, “pescadores de homens”; e agora, após a ressurreição, cabe a eles continuar essa missão, lançar a rede sempre e de novo para mergulhar nas águas do mundo a esperança do Evangelho, navegar no mar da vida para que todos possam se encontrar no abraço de Deus.

Como Pedro pode cumprir essa tarefa? O Evangelho nos diz que é possível apenas porque ele experimentou na própria vida o amor infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da negação. Por isso, quando Jesus se dirige a Pedro, o Evangelho usa o verbo grego agapao, que se refere ao amor que Deus tem por nós, ao seu doar-se sem reservas e sem cálculos, diferente daquele usado para a resposta de Pedro, que descreve o amor de amizade que trocamos entre nós.

Quando Jesus pergunta a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo 21,16), Ele se refere ao amor do Pai. É como se Jesus lhe dissesse: somente se conheceste e experimentaste esse amor de Deus, que nunca falha, poderás apascentar os meus cordeiros; somente no amor do Pai poderás amar os teus irmãos com um “algo a mais”, ou seja, oferecendo a vida por eles.

A Pedro, portanto, é confiada a tarefa de “amar mais” e de dar sua vida pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado justamente por esse amor oblativo, pois a Igreja de Roma preside na caridade e sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata jamais de capturar os outros com a imposição, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas sempre e somente de amar como Jesus amou.

Ele, afirma o próprio Apóstolo Pedro, “é a pedra que foi rejeitada por vós, os construtores, e que se tornou a pedra angular” (At 4,11). E se a pedra é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe acima dos demais, fazendo-se dono das pessoas a ele confiadas (cf. 1Pd 5,3); ao contrário, é-lhe pedido que sirva à fé dos irmãos, caminhando junto com eles. Todos nós, de fato, somos constituídos como “pedras vivas” (1Pd 2,5), chamados pelo nosso Batismo a construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades. Como afirma Santo Agostinho: “A Igreja é formada por todos aqueles que estão em harmonia com os irmãos e que amam o próximo” (Sermão 359, 9).

Esse, irmãos e irmãs, eu gostaria que fosse o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e de comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado.

Em nosso tempo, ainda vemos muita discórdia, muitas feridas causadas pelo ódio, pela violência, pelos preconceitos, pelo medo do diferente, por um paradigma econômico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres. E queremos ser, dentro dessa massa, um pequeno fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade. Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: olhem para Cristo! Aproximem-se d’Ele! Acolham sua Palavra, que ilumina e consola! Ouçam sua proposta de amor para que nos tornemos uma única família: em Cristo, somos um só. E este é o caminho que devemos percorrer juntos, entre nós, mas também com as Igrejas cristãs irmãs, com aqueles que seguem outros caminhos religiosos, com quem cultiva a inquietude da busca por Deus, com todas as mulheres e homens de boa vontade, para construir um mundo novo onde reine a paz.

Este é o espírito missionário que deve nos animar, sem nos fecharmos em nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo.

Irmãos, irmãs, esta é a hora do amor! A caridade de Deus, que nos torna irmãos entre nós, é o coração do Evangelho e, com meu predecessor Leão XIII, hoje podemos nos perguntar: se esse critério “prevalecesse no mundo, não cessariam imediatamente todas as dissensões e não voltaria a paz?” (Encíclica Rerum novarum, 21).

Com a luz e a força do Espírito Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade.

Juntos, como um único povo, como irmãos todos, caminhemos ao encontro de Deus e amemos uns aos outros.

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