De um modo geral, os investidores super-ricos do Brasil tem uma alocação no exterior maior e, no mercado local, tem predileção por renda fixa por conta do patamar considerado relativamente elevado da taxa básica de juros, a Selic. O relato é de Bruno Barino, atual Country Manager da BlackRock no Brasil. Antes de liderar a gigante dos investimentos em solo brasileiro, o executivo liderou a área de multi-family office no UBS, onde passou 12 anos.
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“O perfil de investimentos depende, como tudo na vida, do apetite a risco, da necessidade, nível de operação, mas via de regra…..um ponto que acho muito comum – fora casos específicos quando a pessoa literalmente não quer nada – é que geralmente esse tipo de cliente [super-ricos], como ele tem muita liquidez, ele vai ter uma alocação internacional maior. É um dinheiro de longo prazo, que ele não vai precisar no dia a dia”, comenta o executivo da BlackRock.
“A alocação local [no Brasil] vai depender muito do apetite ao risco, com mais ou menos ações. Mas com o patamar da taxa de juros brasileira, acaba sempre tendendo mais a renda fixa no mercado local. No mercado internacional [o cliente super-rico] consegue ter um nível de apetite a risco maior “, completa.
Barino ainda relata que esses clientes demandam um planejamento financeiro mais detalhado e que envolve mais variáveis.
“Vai além da liquidez, do dinheiro disponível. Tem que entender os ativos fixos. Ele [cliente] geralmente tem casa, fazenda, empresa. A vida financeira vai além do que você tem disponível na conta para investir. O trabalho do multi-family office vai do tijolo ao dinheiro. Vai inclusive até depois da vida, pensando na sucessão. Cobre de ponta a ponta, é um nível de complexidade muito grande”, explica.
‘Tentar acertar tempo de mercado é pior coisa a fazer’
Além disso, frisa que o atendimento – por ser mais customizado, com cifras maiores e maior liquidez – dá menos margem para que o cliente queira sempre ‘acertar o alvo’ nas decisões de investimento, comprando e vendendo ativos em lapsos curtos de tempo tentando sempre ‘vender na alta e comprar na baixa’.
“Qualquer estatística mostra isso. Você vê que tentar acertar o tempo de mercado é a pior coisa que você pode fazer”, relata.
O a estratégia, chamada de market timing, com o investidor tentando prever os movimentos do mercado, é refutada amplamente por estudos e estatísticas.
O exemplo mais emblemático é o da gestora Fidelity, do investidor Peter Lynch, que constatou em levantamentos internos que os cotistas dos fundos que tinham tido os melhores resultados eram os que deixavam o dinheiro parado nos fundos da gestora porque esqueceram que tinham investimentos lá – incluindo contas de investidores falecidos, pessoas que haviam perdido o acesso à conta ou simplesmente não se lembravam que tinham recursos aplicados.
O que é um family-office, que atende famílias de super-ricos
Um family office é, na prática, como um escritório particular que administra o dinheiro de uma família que possui um patrimônio muito elevado. O negócio funciona como um gestor exclusivo, pensando no longo prazo, na proteção e no crescimento do patrimônio familiar.
Como um exemplo célebre, a família Moreira Salles, que é vinculada ao Itaú e tem como membros o diretor Walter Salles, de Ainda Estou Aqui, tem um family office próprio, a a Brasil Warrant Gestão de Investimentos (BWGI), com mais de R$ 54,1 bilhões sob gestão, segundo dados de 2024.
Já um multi-family office, como o que Barino liderava dentro do UBS, é um escritório que cuida do patrimônio de várias famílias de super-ricos ao mesmo tempo – de forma personalizada, mas dividindo a mesma estrutura e expertise.
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