
“Sr. Tether te receberá agora.”
Essa frase ecoa nas carteiras digitais dos investidores desavisados com o mesmo impacto emocional de Anastasia diante do elevador.
Mas, antes que os defensores do Tether venham me chicotear com suas cold wallets, vale lembrar: stablecoins bem estruturadas podem ser heroínas da inclusão financeira. Elas permitem transações internacionais rápidas, baratas e sem fronteiras — coisa que o sistema bancário tradicional ainda entrega com a eficiência de um fax. Além disso, funcionam como proteção contra inflação e volatilidade em países com moedas fracas, servem como base para DeFi e smart contracts, e são a ponte entre o velho mundo financeiro e o novo. O problema não é o conceito. O problema é colocar no mesmo quarto (sem regras), o P. Diddy e a dona Fátima, que leciona história para o ensino fundamental.
Stablecoins. Aparentemente confiáveis, promissoras e… possivelmente perigosas quando não têm um contrato bem definido. Se no cinema Christian Grey impõe cláusulas, limites e zonas seguras, no universo das criptos a coisa anda mais pro “aceita e reza”.
O Tether (USDT), estrela dessa relação abusiva, é a maior stablecoin do mundo — e também a mais envolta em mistérios do tipo:
“Onde estão mesmo as reservas?”
“Quem faz a auditoria disso aqui?”
“Por que o Fed tá nervoso?”
Na última semana, o Federal Reserve dos EUA emitiu um alerta quase maternal:
“Sem regulação, stablecoin não é porto seguro — é uma bomba-relógio com interface amigável.”
E quando parecia que a coisa ia andar… o Senado dos EUA fez o que políticos fazem de melhor: nada, com elegância. A votação sobre a regulação das stablecoins empacou mais uma vez esta semana. O projeto de lei que definiria as regras do jogo — quem emite, quem fiscaliza, e quem limpa a bagunça quando der ruim — simplesmente não avançou.
A ausência de regulamentação deixa as stablecoins no purgatório financeiro: nem moeda de curso legal, nem cripto de verdade. Uma espécie de “ficante séria”, que você apresenta pros amigos mas sabe que pode te deixar na mão a qualquer momento.
O darkroom das finanças
Segundo o Fed, stablecoins como o Tether podem comprometer a segurança nacional, facilitar lavagem de dinheiro, e pior: criar zonas cinzentas (ou cinquenta tons delas) onde o dinheiro flui sem rastreio.
Parece exagero? Só até você descobrir que mais de US$ 83 bilhões circulam via Tether todos os dias.
É tipo permitir que o Christian Grey jogue poker com a Receita Federal.
E o Brasil? Bom, o Brasil está descobrindo o USDT da pior maneira: nos bastidores de apostas esportivas, transações ilegais e operações de câmbio informal. O Tether virou o real paralelo da deep web, e estamos todos fingindo que não é com a gente.
A questão central é: será que dá pra confiar em um ativo que se diz “estável” e não tem nem código de trânsito próprio?
Se queremos um mercado de criptomoedas saudável, precisamos criar regras.
É urgente regulamentar stablecoins como o Tether antes que o mercado vire um grande “Quarto Vermelho”.
A falta de regulamentação nas stablecoins não é apenas uma dor de cabeça para os bancos centrais — é uma ameaça real à integridade do sistema financeiro global.
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