Os maiores bancos privados não estão liderando os empréstimos do programa Crédito do Trabalhador, mostram dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) obtidos pela IstoÉ Dinheiro. Especialistas consultados apontam como motivos o alto patamar de juros. Ao mesmo tempo, o consignado CLT tem uma importância maior para a estratégia de empresas financeiras menores.
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Entre os grandes bancos analisados, o Itaú Unibanco apresenta o maior valor em empréstimos aprovados, com cerca de R$ 314,8 milhões.
Para efeito de comparação, a instituição financeira líder no consignado CLT é pública, o Banco do Brasil, com R$ 2,9 bilhões, seguido pelas fintechs Parati CFI (R$ 1,6 bilhão) e Facta Financeira (R$ 1,2 bilhão). O ranking dos bancos que lideram a modalidade foi publicado neste link.
Ao todo, o programa Crédito do Trabalhador já conta com mais de R$ 10,8 bilhões em empréstimos.
Valor de empréstimos aprovados pelos bancões:
- Itaú Unibanco – R$ 314.843.529,29
- Bradesco – R$ 11.357.460,05
- BTG Pactual – R$ 10.916.317,52
- Nubank – R$ 4.591.824,68
- Santander – R$ 2.564.860,72
Somadas, as cinco instituições assinaram cerca de R$ 344,2 milhões em empréstimos consignados CLT, com a maior parte concentrada no Itaú Unibanco.
Bradesco, Itaú e Santander afirmaram que irão expandir modalidade, como está descrito nos posicionamentos exibidos mais abaixo no texto. BTG e Nubank não se manifestaram.
Especialistas consultados pela IstoÉ Dinheiro, no entanto, avaliam que os bancões possuem menos interesse no programa Crédito do Trabalhador do que vários de seus concorrentes.
“Outras instituições menores que estão posicionadas nas primeiras posições estão aproveitando para ganhar share, para ganhar participação no mercado de crédito à pessoa física”, resume Robson Gonçalves, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No caso da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, seu posicionamento em prol do consignado CLT está alinhado com seus status de banco público.
Já para os grandes bancos privados, que possuem carteiras de clientes bem estabelecidas e participação consolidada no mercado de crédito, há menos motivo para expandir empréstimos com o programa. “Eles não emprestam mais porque não têm interesse”, analisa Carlos Honorato, professor da FIA Business School.
Sobre a liderança do Itaú entre os bancões, os especialistas destacam que ele já é um dos líderes em crédito para pessoa física no Brasil. “Ele mantém uma posição que é a posição dele, não a posição do mercado”, diz Honorato.
O impacto da Selic no Consignado CLT
Os especialistas consultados apontam que o alto patamar dos juros no país agrava o desinteresse por oferecer empréstimos do programa. “Com juros em quase 15%, é melhor emprestar para título do governo do que para consumidor”, diz Honorato.
Em sua última decisão de política monetária, o Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 14,75% ao ano, o maior patamar desde 2006.
Como contam com uma alta liquidez (ou seja, volume financeiro adequado para arcar com um grande fluxo de entradas e saídas), os bancões podem manter grandes quantias investidas em títulos públicos, mesmo que isso signifique deixar o dinheiro parado nesses papéis por um período mais longo.
“O apetite de crédito em geral desses bancos, ainda mais por esse crédito ‘picadinho’, de pequenos valores, diminui”, comenta Gonçalves.
A segurança maior de pagamento do consignado CLT — que conta com desconto automático na folha de pagamento e FGTS e multa rescisória como garantias — muda pouco este cenário para essas instituições. “Que os grandes bancos estejam oferecendo alguma coisa nessa modalidade é sinal de que sim, tem boas garantias, mas não o suficiente para peitar a Selic”, comenta Gonçalves.
Já para os menores e as fintechs, a oportunidade de emprestar com mais segurança brilha aos olhos. “A atratividade é sempre relativa”, conclui Gonçalves.
Bradesco, Itaú e Santander negam desinteresse
Na contramão da análise dos especialistas, Bradesco, Itaú e Santander retornaram pedidos de comentário feitos pela IstoÉ Dinheiro afirmando que desejam ampliar empréstimos da modalidade.
Em suas respostas, atribuíram suas posições tímidas à novidade do consignado CLT. O programa foi oficialmente lançado em 21 de março, mas as instituições financeiras só tiveram permissão para oferecer empréstimos da modalidade em suas plataformas próprias a partir do dia 25 de abril. Até então, as solicitações de crédito eram feitas pelo aplicativo da Carteira de Trabalho digital.
O Bradesco disse entender “que o crédito consignado privado é uma ótima oportunidade de negócio”. A instituição disse planejar “intensificar as operações em breve, na medida em que os sistemas estiverem mais ajustados para absorver a demanda dos clientes”.
O Itaú afirmou que “o Crédito do Trabalhador terá um papel importante no estímulo à economia do país”. “Como ocorre na oferta de qualquer novo produto financeiro, o banco avalia cuidadosamente os riscos, os aspectos regulatórios e os desafios operacionais, e está crescendo gradualmente na oferta do novo consignado privado, com uma estratégia sustentável e com disciplina”, conclui.
Já o Santander disse enxergar “com bons olhos” o consignado CLT. “O produto tem espaço para se consolidar como uma alternativa relevante aos consumidores. Contudo, a Instituição entende que a expansão do produto será gradual. O foco do Santander é atuar com eficiência e responsabilidade, garantindo as melhores soluções tanto para empresas quanto para os trabalhadores.”
O Nubank não retornou ao pedido de manifestação. Recentemente, no entanto, seu CFO, Guilherme Lago, admitiu que o banco não está entre os maiores e disse que a instituição espera acelerar seu crescimento.
O BTG Pactual tampouco se manifestou. A instituição no entanto é acionista majoritária da fintech Pan, que aparece entre as maiores emprestadoras da modalidade. A divergência entre ambas as instituições favorece a impressão de uma falta de interesse de atuar no programa com a marca BTG, deixando os empréstimos consignados para seu braço fintech.
Veja ranking completo das financeiras com empréstimos do Consignado CLT
# | Instituição | Valor total de empréstimos contratados |
1 | BANCO DO BRASIL S A | R$ 2.990.391.446,26 |
2 | PARATI CFI S A | R$ 1.618.182.027,54 |
3 | FACTA FINANCEIRA S A | R$ 1.253.477.386,46 |
4 | PICPAY BANK | R$ 1.151.724.313,20 |
5 | CAIXA ECONOMICA FEDERAL | R$ 1.030.108.370,44 |
6 | PAN FINANCEIRA | R$ 790.548.590,85 |
7 | BANCO INTER SA | R$ 446.802.234,38 |
8 | BANCO AGIBANK SA | R$ 320.068.160,65 |
9 | BANCO ITAU SA | R$ 314.843.529,29 |
10 | BRP – BANCO RIBEIRAO PRETO S.A. | R$ 254.232.496,34 |
11 | 321BANK SOCIEDADE DE CREDITO DIRETO S.A | R$ 140.381.676,44 |
12 | BANCO SAFRA S A | R$ 140.378.440,69 |
13 | BANCO MERCANTIL DO BRASIL S A | R$ 103.961.789,02 |
14 | NEON | R$ 62.854.811,00 |
15 | BANCO COOPERATIVO SICOOB S.A. | R$ 56.633.663,77 |
16 | QI SOCIEDADE DE CREDITO DIRETO S A | R$ 45.327.300,09 |
17 | CREDITAS | R$ 40.854.389,83 |
18 | CREDIFIT – SOCIED CRÉDITO DIRETO SA | R$ 15.525.666,60 |
19 | UP.P | R$ 14.735.215,74 |
20 | BANCO BRADESCO S A | R$ 11.357.460,05 |
21 | BANCO BTG PACTUAL S.A. | R$ 10.916.317,52 |
22 | ZIPDIN – SOLUÇÕES DIGITAIS SOCIED CRED | R$ 7.205.892,23 |
23 | NU FINANCEIRA | R$ 4.591.824,68 |
24 | BANCO COOPERATIVO SICREDI S A | R$ 4.066.755,38 |
25 | BANCO SANTANDER OLE | R$ 2.564.860,72 |
26 | COOPERFORTE | R$ 2.378.223,32 |
27 | BANCO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SA | R$ 1.964.096,49 |
28 | BANCO DIGIO | R$ 1.920.396,77 |
29 | BANCO C6 CONSIGNADO S A | R$ 1.793.781,89 |
30 | BANCO PAN S A | R$ 1.647.975,55 |
31 | BANCO VR | R$ 645.879,27 |
32 | BANCO PINE S A | R$ 613.341,73 |
33 | BANCO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO | R$ 523.192,76 |
34 | SOCINAL S.A. | R$ 184.185,74 |
35 | CREDIGENTE | R$ 91.070,93 |
36 | UY3 | R$ 19.606,30 |
37 | CAPITAL CONSIG | R$ 9.004,30 |
38 | EMPRESTA CAPITAL | R$ 5.135,24 |
39 | BANCO DO NORDESTE DO BRASIL SA BNB | R$ 508,44 |
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