Nada de aperto de mãos público, fotografia, vídeos para as redes sociais ou mesmo comunicado oficial conjunto. Depois de o presidente Donald Trump impor ao mundo seu jeito histriônico de negociar, a trégua temporária de 90 dias na guerra comercial entre Estados Unidos e China veio bem ao estilo chinês. E, agora, o mercado financeiro e empresários se perguntam se a tarifa de 30% sobre vendas dos chineses para os americanos será “o novo normal”. Na primeira gestão Trump, uma tentativa de acordo entre as duas potências não avançou por anos e a questão foi parar na OMC (Organização Mundial do Comércio).
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Enquanto os americanos se esforçam para fazer valer que politicamente prevaleceu o padrão do presidente americano de fazer negócios, o mercado faz as contas para tentar mensurar os prejuízos até agora e com a nova medida, na certeza de que o mundo segue incerto. O foco é o impacto que isso terá especialmente para os consumidores americanos, motor da economia de uma das maiores potências do planeta.
Estimativas do Budget Lab da universidade de Yale apontam que a perda média no poder de compra das famílias da classe média americana, ao longo de um ano, reduzirá de cerca de US$ 3,4 mil para US$ 2,2. “Tarifas de 145% eram o caos, 30% é algo difícil de absorver pelo mercado consumidor americano”, diz uma analista internacional especializada no comércio China-EUA. “Como uma família irá desembolsar entre US$ 2 e US$ 3 mil a mais por uma mesma cesta de consumo, numa sociedade com taxa de poupança de 3% e as pessoas endividadas?”, questiona.
Segundo a analista, o custo dessa guerra vai além do valor imposto como tarifa porque há toda uma logística de distribuição ao longo da cadeia produtiva que é afetada. Nos cálculos do mercado, a última leva de produtos com preços pré-tarifaço está chegando ao fim. A partir de agora, todas as importações que chegarem aos portos americanos já terão o novos impostos.
“Só que o navio que leva a carga para os EUA não tem mercadoria para transportar, voltará vazio. Com isso, os volumes passarão a ser redimensionados e o preço dos contêineres deve subir”, avalia a analista, destacando que são esses distúrbios na cadeia produtiva que ainda não estão na conta. “Esse é o valor da guerra comercial que a gente ainda não sabe, e isso impacta preços e o bolso dos consumidores americanos em especial”.
A expectativa é que a partir do final deste mês e início de junho, essa realidade comece a ficar mais clara e seja possível identificar se o varejo estará disposto a cortar margem de lucro para continuar vendendo, ou não. É certo que, mesmo com a trégua, ficou mais difícil para os empresários planejarem sem saber se vale comprar maior quantidade de mercadorias com tarifas de 30%, porque lá na frente elas podem voltar a subir, ou se é melhor esperar porque elas podem cair.
Para o analista de um grande banco americano, o mundo está vendo exatamente o que se esperava de Trump: “A estratégia dele é jogar os preços lá para cima e, aí, começar a negociar”. Segundo ele, algo bateu na economia chinesa para Pequim começar a negociar. “O encontro ocorreu ao estilo chinês. Eles nunca jogam pelas regras do jogo, fazem sempre escondido. Mas está claro que a coisa a coisa começou a apertar lá”, diz.
Ele argumenta que a economia americana não deve sofrer tanto quanto o mercado imaginou inicialmente. “Houve muito ruído, mas incerteza não leva a recessão. Com esse recuo, perigamos acordar e a economia dos EUA estar bombando sem ter sentido nada dessa recessão estimada”.
Lula em Pequim
Enquanto a guerra comercial Estados Unidos-China promete uma trégua de 90 dias, Pequim segue negociando alternativas e fortalecendo as relações comerciais e investimentos com outros países. O Brasil comemora o anúncio de mais de R$ 26 bilhões em investimentos que vão do setor automotivo, à plataforma de delivery, passando por energia renovável, mineração, bebidas, semicondutores e insumos farmacêuticos.
O anúncio da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações) foi feito, esta semana, durante a terceira viagem do presidente Lula à China. A comitiva de Lula conta com 11 ministros, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), vários parlamentares, além de cerca de 200 empresários. Nesta terça, 13, Lula e o presidente chinês Xi Jinping devem se encontrar. O foco da visita oficial é a ampliação da relação comercial e, com isso, redução da dependência do mercado americano.
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