Diabetes tipo 2: triagem agora começa aos 35 anos; entenda por quê

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teste de diabetes tipo 2
Recomendação é para que todos adultos com 35 anos ou mais devem ser submetidos à triagem (Foto: Pixabay)

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) divulgou uma atualização nas orientações para rastreamento e diagnóstico do diabetes tipo 2 no Brasil. Entre as principais alterações estão a diminuição da idade recomendada para iniciar a triagem em adultos assintomáticos, a inclusão de um alerta específico para investigar a doença em crianças e adolescentes e a revisão de alguns critérios nos exames utilizados para diagnosticar o problema. O novo documento foi publicado em março na revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome.

Essa atualização é especialmente importante diante do crescimento constante nos casos de diabetes tipo 2, impulsionado principalmente pelas altas taxas de sobrepeso e obesidade observadas globalmente. De acordo com a 11ª edição do Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF), aproximadamente 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos convivem com a doença no mundo. No Brasil, a SBD estima que cerca de 20 milhões de pessoas tenham diabetes, o que equivale a aproximadamente 10,2% da população.

Uma das mudanças mais relevantes nas novas diretrizes diz respeito à ampliação da faixa etária e dos critérios para iniciar o rastreamento da doença. Agora, todos os adultos com 35 anos ou mais devem ser submetidos à triagem, mesmo que não apresentem sintomas ou fatores de risco conhecidos — antes, essa recomendação era feita apenas a partir dos 45 anos.

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Abaixo dos 35 anos 

Para indivíduos com menos de 35 anos, a triagem também é indicada se houver sobrepeso ou obesidade associados a pelo menos um fator de risco adicional. Entre esses fatores estão: histórico familiar de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, pressão alta, níveis baixos de HDL (menores que 35 mg/dl), triglicerídeos altos (acima de 250 mg/dl), síndrome dos ovários policísticos, acantose nigricans (manchas escuras na pele) e sedentarismo. Também entram como critérios a presença de pré-diabetes identificada em exames anteriores ou histórico de diabetes gestacional.

O endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta a relevância dessas mudanças. “Cada vez mais vemos jovens com alterações na glicemia ligadas à obesidade e ao estilo de vida sedentário. O diabetes é silencioso e, quando os níveis de glicose começam a subir, o risco de problemas cardiovasculares já está presente. Diagnosticar cedo é essencial para evitar complicações”, afirma.

No caso de crianças e adolescentes sem sintomas, a recomendação é começar a triagem a partir dos 10 anos de idade ou no início da puberdade — o que acontecer primeiro — se houver sobrepeso ou obesidade e pelo menos um fator de risco adicional, como histórico de diabetes gestacional na mãe.

Diagnóstico 

As novas orientações mantêm os testes de glicemia em jejum e hemoglobina glicada (A1c) como padrão inicial para triagem. A recomendação é que esses dois exames sejam realizados juntos para confirmação do diagnóstico.

“Se a hemoglobina glicada for igual ou superior a 6,5% e a glicemia em jejum for de 126 mg/dl ou mais, não é necessário fazer outros exames — esses valores já indicam diabetes. No entanto, se apenas um dos resultados estiver alterado, é preciso repetir os testes para confirmar”, explica a endocrinologista Melanie Rodacki, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Departamento de Diretrizes da SBD, além de uma das autoras da nova versão.

Ela também destaca que, em casos com sintomas — como sede em excesso, urinar com frequência, aumento da fome e perda de peso sem explicação —, a presença de glicemia a partir de 200 mg/dl (mesmo sem jejum) já basta para o diagnóstico, sem necessidade de novo exame. Quando os níveis de glicose em jejum e a A1c estão alterados, mas ainda não caracterizam diabetes, a diretriz recomenda o teste oral de tolerância à glicose (TTGO).

E é justamente nesse exame que está uma das principais inovações: anteriormente, a segunda coleta de sangue era feita duas horas após a ingestão de glicose. Agora, essa etapa passa a ser realizada uma hora depois. O objetivo é detectar precocemente casos de pré-diabetes, seguindo as recomendações da Federação Internacional de Diabetes. O exame ainda exige jejum prévio e uma coleta inicial. Depois, o paciente ingere uma solução com 75g de glicose diluída em água, e uma nova coleta de sangue é feita após uma hora.

“Não estamos descartando o teste com duas horas — ele continua válido como critério diagnóstico. A diferença é que a versão com uma hora é mais simples, rápida e tem custo menor, facilitando sua aplicação em centros de saúde e ampliando o acesso. Essa abordagem antecipa a identificação de risco em pessoas mais vulneráveis, por isso foi incorporada às diretrizes brasileiras”, explica a especialista da SBD.

Sobre essa mudança no TTGO, Rosenbaum reforça que o novo protocolo pode elevar em até 40% a detecção de casos de pré-diabetes. “Mesmo antes do diagnóstico de diabetes, quando a glicemia já está discretamente elevada, há um processo inflamatório em andamento que favorece doenças como a aterosclerose, aumentando o risco de infarto, AVC e outras complicações. Detectar essas alterações sutis permite iniciar medidas preventivas desde cedo, especialmente as não medicamentosas, como mudanças na alimentação e prática de atividade física. São intervenções simples que podem evitar a progressão da doença e seus impactos a longo prazo”, destaca o endocrinologista.

Outra novidade importante é a criação de um fluxograma clínico para guiar os profissionais de saúde quanto aos exames que devem ser solicitados, em que momento e para quais perfis de pacientes. “Sempre houve dúvidas sobre como conduzir o rastreamento. Por isso, elaboramos um material baseado em evidências científicas, para apoiar médicos em todo o país a agir com segurança, no tempo certo, e de maneira prática. Isso facilita o diagnóstico precoce em diferentes realidades do sistema de saúde”, conclui Rodacki.

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