Eu Sei Onde o Governo Gastou no Verão Passado

No clássico “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, alguns adolescentes tomam juntos uma decisão “pouco inteligente”, tentam esconder as consequências, e depois passam um ano sendo caçados por alguém que sabe exatamente o que eles fizeram.

Agora troque os adolescentes pelo governo, troque o erro por gasto público desenfreado, e o verão passado pelo ano de 2024. Pronto: temos o roteiro fiscal do Brasil.

E o vilão mascarado que vai bater na porta em 2027? Chama-se rombo nas contas públicas.

O susto começou com a promessa

Lá em 2023, o governo chegou com aquela energia de protagonista que promete tudo: “Vamos zerar o déficit”, “Vamos manter o arcabouço fiscal”, “Confia em mim, bebê, vai dar tudo certo”.

A plateia (também conhecida como mercado) até acreditou. Afinal, todo filme de terror começa com uma ilusão de normalidade, certo?

Mas 2024 chegou e o roteiro desandou.

Entre isenção de imposto para montadora, salário do funcionalismo subindo e um gasto social que parecia o Silvio Santos jogando aviãozinho, o governo foi torrando o caixa como se não houvesse… 2027.

O monstro apareceu na projeção

Eis que, em abril de 2025, surge a cena de terror: o próprio governo admitindo que não vai ter dinheiro em 2027. Não foi uma análise da oposição, não foi um furo de jornalista, não foi nem o economista de coletinho da Faria Lima. Foi o Tesouro Nacional.

O aumento contínuo das despesas obrigatórias, o peso das emendas parlamentares — que consomem boa parte dos recursos livres — e o impacto dos precatórios, que são dívidas judiciais do governo, pressionam fortemente o orçamento. Embora atualmente estejam fora da meta fiscal por decisão do STF, esses pagamentos voltarão a ser considerados no cálculo do resultado primário.

O monstro fiscal, que estava escondido atrás do PIB satisfatório, rasgou a cortina do teatro e deu um grito:

“Se não mudar nada, vai faltar grana em dois anos.”

E agora, quem vai pagar a conta?

Os economistas já estão dizendo que as projeções do governo são “irrealistas”, que o cenário é “insustentável”, e que o Brasil está indo na direção de outro filme (O dia em que a Terra parou) com final anunciado: alta de juros, corte de investimento, e até risco de calote nas promessas sociais.

Quem vai pagar a conta é o pobre, a não ser que ele tenha plano de saúde, escola particular, dividendos a receber e uma viagem marcada para o Ushuaia.

A responsabilidade fiscal

Sabe aquele personagem que ninguém dá moral no começo, mas que no final é o único que sobrevive? No filme da economia brasileira, ela atende pelo nome de responsabilidade fiscal. E está sendo ignorada no fundo da sala, com cara de “eu avisei”.

Segundo as estimativas do governo, os gastos discricionários — que bancam investimentos e garantem o funcionamento da máquina pública — devem chegar a R$ 208 bilhões no próximo ano. No entanto, a previsão é de queda para R$ 122 bilhões em 2027, patamar considerado insuficiente para sustentar os serviços básicos.

Ou seja, se a irresponsabilidade fiscal continuar prosperando, a gente não vai nem chegar ao final do filme com luz acesa. Vai ser tudo cortado: verba, crédito e energia elétrica.

Moral da história: não adianta fugir do passado

O problema das contas públicas não começou agora. Foi construído a cada desoneração mal explicada, a cada rombo empurrado pra frente, a cada promessa feita sem planilha.

E em 2027, quando a máscara cair de vez, não vai adiantar dizer que “ninguém sabia”. Porque nós sabemos. Sabemos o que foi gasto no verão passado, e sabemos também quem vai pagar o preço.

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