‘Moonwalker’ – Clássico de Michael Jackson estreia na Max

Michael’, biografia do rei do pop Michael Jackson, é um dos filmes mais aguardados de 2025. O filme passou por problemas de bastidores e precisou ter trechos regravados, o que terminou por adiar o lançamento. Novos boatos apontam inclusive que o longa será dividido em dois, e que um deles – ou ambos – serão adiados novamente para 2026. Enquanto nada disso é confirmado e o filme não chega, que tal relembrar ou conhecer o único filme realmente protagonizado pela lenda da música? A Max se adianta e traz para o seu streaming ‘Moonwalker’, a ambiciosa aposta de Michael Jackson para os cinemas.

O ano era 1988, e Michael Jackson já era o maior fenômeno da música no mundo. A esta altura, sucessos como ‘Beat It’, ‘Billie Jean’ e, principalmente ‘Thriller’ (do álbum homônimo ‘Thriller’, 1982) já faziam parte do imaginário da cultura popular mundial. Tal estouro foi seguido pelo álbum ‘Bad’, de 1987, no qual constavam as igualmente icônicas ‘Smooth Criminal’, ‘The Way You Make Me Feel’ e ‘Bad’. Ou seja, o nome de Michael Jackson era provavelmente o nome mais famoso do planeta, como em épocas passadas haviam sido os de Elvis Presley e os Beatles. E o intitulado “rei do pop” usou esse prestígio para lançar nos cinemas uma superprodução que era a sua cara.

O astro mais popular do mundo, Michael Jackson revolvia criar seu próprio filme com ‘Moonwalker’.

Vale dizer também que antes de ‘Moonwalker’, Michael Jackson já havia estrelado um filme para os cinemas. Falo de ‘O Mágico Inesquecível’, de 1978, adaptação do clássico dos clássicos ‘O Mágico de Oz’ (1939) para o universo da música negra norte-americana (Soul, R&B, hip-hop). Não por acaso, a superprodução foi uma ideia da Motown, gravadora especializada em lançar cantores negros ao estrelato, como o próprio Jackson e a cantora Diana Ross (grande amiga do cantor).

Em ‘O Mágico Inesquecível’, Diana Ross vive uma versão um pouco mais madura de Dorothy, enquanto Michael Jackson é o espantalho. O filme contou ainda com o comediante sensação da época Richard Pryor no papel do Mágico. O longa, apesar dos elementos mágicos e fantásticos, se passa numa realidade alternativa de Nova York, adaptando o clima urbano da cidade e a vivência de afro-americanos ao teor lúdico do conto original. Apesar do potencial, o longa não foi um sucesso em seu lançamento nas telonas, e terminou ressurgindo como cult alguns anos depois. Vale ressaltar também que nesta época Michael Jackon ainda não era considerado o Rei do Pop, e nem mesmo seu primeiro álbum mais maduro (‘Off the Wall’) havia lançado.

Michael e seu alter-ego Coelho compartilham um “dance-off”.

Dois anos antes de ‘Moonwalker’ chegar às telonas, e ainda surfando no sucesso assombroso que havia sido ‘Thriller’, Jackson era dirigido por ninguém menos que Francis Ford Coppola, o diretor da trilogia ‘O Poderoso Chefão’ e de ‘Apocalypse Now’. O projeto, no entanto, não era um longa-metragem para os cinemas e sim uma atração dos parques da Disney em 3D, exibida no EPCOT Center. ‘Captain EO’ era uma espécie de ‘Star Wars’ tendo Michael Jackson como protagonista. Não é coincidência ter como produtor George Lucas, o pai da saga da família Skywalker. A aventura espacial de Jackson tinha 17 minutos de duração e trazia naves espaciais, criaturas alienígenas de todo o tipo e uma grande vilã interpretada por Anjelica Huston. A atração fez parte do parque de 1986 até 1997 – e após a morte do cantor em 2009, voltou como atração especial.

De certa forma ‘Captain EO’ serviu como base para as ideias alucinadas contidas em ‘Moonwalker’. Mas enquanto o primeiro saiu da mente de George Lucas, visando capitalizar em cima da figura “maior que a vida” de Jackson, o longa-metragem foi inteiramente pensado pelo próprio cantor, em uma viagem megalomaníaca (e por que não, egocêntrica).

O clipe clássico da canção ‘Smooth Criminal’, que traz Michael como mafioso, foi tirado de ‘Moonwalker’.

É claro que algo desta magnitude precisava ser bancada pelo próprio Michael Jackson, e um dos astros da música mais ricos de todos os tempos investiu seu próprio dinheiro na aventura como produtor, e lançou o filme através de sua própria produtora. Michael também escreveu a história e só não se atreveu a dirigir. Lançado através da Lorimar Motion Pictures ‘Moonwalker’ é na verdade uma antologia relativamente desconexa entre seus contos, que usa o cantor como ponto central em todas as suas subtramas e, principalmente, serve de companhia para o álbum ‘Bad’, lançado no ano anterior. É como se Jackson tivesse criado um “super videoclipe” para impulsionar mais ainda as vendas de ‘Bad’.

Isso fica claro com o trecho dos “mafiosos” que terminou sendo usado como o videoclipe da música ‘Smooth Criminal’, presente no disco ‘Bad’. A música está presente no filme ‘Moonwalker’ e a cena contida no filme seria editada mais tarde para se tornar o clipe da mesma música. A ideia de Michael é que uma coisa estivesse automaticamente ligada à outra. Existe uma trama central em ‘Moonwalker’, que traz Michael Jackson ajudando um grupo de crianças carentes, exploradas pelo traficante Mr. Big para serem pequenos criminosos nas ruas. Jackson combate o vilão para livrar as crianças de suas garras. Mas vindo da mente do eterno Peter Pan, o longa ganha contornos de fantasia extrema, que no fim das contas soam como uma grande viagem lisérgica.

Efeitos caprichados na cena em que Michael se transforma em um grande robô.

Os primeiros 20 minutos de ‘Moonwalker’ são apenas trechos de shows, apresentações e clipes, que recapitulam a carreira de Michael Jackson para o espectador. É só depois destes primeiros vinte minutos que temos uma ideia do que será o filme, como se ele só começasse realmente a partir daí, quando Michael deixa de ser criança e se torna o Michael que conhecemos. Na saída da gravação de seu clipe ‘Bad’, ele dá de cara com um grupo de visitantes em um tour pelo estúdio de Hollywood. Os fãs o reconhecem e se inicia uma longa perseguição. Neste momento, o filme faz uso da técnica de stop-motion e “claymation” (aquele tipo de animação que parece criado com “massinha”).

Os fãs são criados em animação e Michael Jackson, após correr muito para fugir dentro do estúdio, acaba se disfarçando de coelho e também vira animação. Mais um longo trecho de perseguição com músicas, e ganhamos mais um recorte que mistura as canções de Michael com a arte de imagens abstratas. Justamente por isso, muitos críticos na época acusaram ‘Moonwalker’ de ser um teste de paciência e uma egotrip do músico.

O menino Brandon Quintin Adams vive a versão mirim de Michael durante as gravações do clipe ‘Bad’.

E bem, o que Michael Jackson tinha em mente para ‘Moonwalker’ ao que tudo indica não conseguiu preencher nem mesmo um filme de uma hora e meia de projeção. Se formos parar para pensar, só temos dois segmentos cuja narrativa se assemelha a uma história sendo contada. A primeira, citada, da fuga de Michael e sua transformação em coelho, depois dos vinte primeiros minutos – que deve durar algo em torno de 10 a 15 minutos. E é só após 37 minutos de projeção do longa, que ganhamos o tópico “principal” – o mencionado resgate das crianças aliciadas pelo traficante.

Nesse segmento, que é o mais duradouro e que deveria ser o centro do filme: Michael Jackson fica abismado ao descobrir que um traficante conhecido como Mr. Big está pretendendo aliciar e viciar crianças em drogas. Esse vilão é interpretado por ninguém menos que o vencedor do Oscar Joe Pesci – que dois anos depois estrelaria ‘Esqueceram de Mim’ e ganharia uma estatueta dourada da Academia por ‘Os Bons Companheiros’, de Martin Scorsese. Em meio à fuga, Michael encontra tempo para cantar e dançar ‘Smooth Criminal’, um dos momentos mais icônicos do longa – que serviu como videoclipe para a música.

Joe Pesci viveu o vilão Mr. Big e seu visual continua um rabinho de cavalo que desafiava a gravidade.

Encontrado e cercado pelo vilão e seus capangas, Michael parece derrotado. Porém, eis que nosso herói se ergue e… se transforma em um robô gigante (do nível de um Transformer). Sim, é isso mesmo. É tal robô que derrota os inimigos e salva o dia. Os efeitos especiais nessa parte impressionam para a época (é preciso levar em conta que este era 1988, antes do uso de CGI em ‘O Exterminador do Futuro 2’). Dá para ver e entender que ‘Moonwalker’ é muito mais uma experiência visual e sonora, do que uma experiência coerente ou uma história. Não existe arco ou narrativa. ‘Moonwalker’ é apenas um amontoado de imagens, muitas delas bonitas e impressionantes – tudo acompanhado ao som das músicas do astro. Para seus fãs mais ardorosos, podemos dizer que não fica muito melhor do que isto.

Essa investida custou ao bolso de Michael 22 milhões de dólares. É dito que nos EUA o longa recebeu lançamento direto em vídeo, mas estreou nos cinemas por muitos países do mundo. Na Inglaterra recebeu um lançamento limitado. Como esse era um produto com a cara de Michael Jackson, acompanhando o longa, todo tipo de merchandising em cima do filme foi criado. Dentre os mais notórios está o videogame homônimo, lançado pela empresa SEGA. O jogo estreava em 1990, com lançamentos em Arcade (os chamados fliperamas) e também em consoles para a casa, vide o Mega Drive e o Master System. Todas as crianças que cresceram na época, certamente conhecem ou jogaram e puderam ser Michael Jackson por alguns momentos.

Todas as crianças da época passaram horas jogando ‘Moonwalker’, o videogame onde podíamos ser Michael Jackson.

Moonwalker’ é claro virou cult instantâneo um tempo depois, e fez sucesso nas locadoras de vídeo. E depois nas reprises da TV aberta – onde sempre era exibido pelo SBT. Agora o filme chega pela primeira vez nos streamings brasileiros – com a estreia no Max, onde uma nova leva de fãs poderá conhecer essa obra para lá de curiosa levando o nome do maior astro da música pop a ter passado pelo nosso planeta. E que sirva de aquecimento para a sua tão aguardada cinebiografia.

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