Crítica | ‘Thunderbolts*’ explora temas profundos e traz o MCU de volta à boa forma

Crítica livre de spoilers.

É um fato dizer que a Marvel Studios vem passando por mais altos que baixos nos últimos anos – entregando produções das Fases 4 e 5 que falharam em conquistar a crítica e o público e que começaram a denunciar a fadiga das produções inspiradas em HQs de super-heróis. E, depois do frustrante ‘Capitão América: Admirável Mundo Novo’, os executivos da companhia tinham mais uma chance para finalizar a mais recente Fase do Universo Cinemático Marvel com o ambicioso e aguardado ‘Thunderbolts*’. Felizmente, o longa-metragem reuniu uma equipe criativa e técnica de peso para dar origem a um dos melhores filmes da Marvel nesta década – reacendendo nosso interesse por esse universo em contínua expansão.

A trama se inicia com a representação de Yelena Belova (Florence Pugh), personagem que foi treinada na Sala Vermelha para se tornar uma Viúva Negra e que fez sua estreia oficial no longa-metragem de 2021. Aqui, ela trabalha como uma espécie de agente lateral a Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), a corrupta diretora da CIA que enfrenta uma série de acusações jurídicas que podem mandá-la para uma prisão federal e destruir os planos que tinha em mente de proteger seu país e seus conterrâneos – o que incluía experimentos ilegais em facilidades escondidas para construir um super-humano indestrutível que substituiria os agora não mais existentes Vingadores.

Sentindo-se vazia e sem propósito, Yelena pede um pouco mais de aparições públicas a Valentina e, como sua última missão às escondidas antes de se tornar parte da mídia, ela é mandada a um cofre subterrâneo extremamente protegido onde deve exterminar um alvo. Porém, o que ela não imaginava é que outros anti-heróis também estariam lá, cada qual com o objetivo de abater o outro: John Walker/Agente Americano (Wyatt Russell), Antonia Dreykov/Treinadora (Olga Kurylenko), Ava Starr/Fantasma (Hannah John-Kamen) e o misterioso Bob (Lewis Pullman), que parece ter caído de paraquedas em um campo de batalha prestes a explodir. Não demora muito até eles perceberem que estão em uma armadilha e que Valentina queria se livrar de cada um deles como forma de destruir provas que poderiam incriminá-la. E é claro que, ao saírem de lá ao lado de Bob, o improvável grupo resolve se vingar com a ajuda de Alexei Shostakov/Guardião Vermelho (David Harbour) e de Bucky Barnes/Soldado Invernal (Sebastian Stan).

Dirigido por Jake Schreier, que ficou conhecido por adaptar o romance ‘Cidades de Papel’ para as telonas, o longa é um frescor de originalidade a erros constantes que vinham manchando a estrutura de inúmeras produções anteriores – com exceção, é claro, da elogiada série ‘Agatha Desde Sempre’. Unindo forças com um habilidoso time artístico, a narrativa introduz inúmeros personagens e elementos que serão explorados em capítulos futuros, mas funcionando por conta própria através de um enredo com começo, meio e fim que discorre sobre temas como isolamento, autossabotagem, depressão e solidão.

Dizer que este é um dos capítulos mais obscuros do MCU pode ser um longo tiro no escuro e um exagero em certos aspectos – ainda mais considerando a forte dose de humor que acompanha produções similares. Porém, o brilhantismo do roteiro assinado por Eric Pearson e Joanna Calo insurge ao permear quebras de expectativas com uma austeridade mascarada que delineia arcos complexos e bem-vindos a um gênero que costuma se manter preso a arquétipos cansativos. Nesse tocante, Pugh faz um trabalho magnífico ao singrar pela perturbada mente de Yelena, que se sente sozinha no mundo, aceitando missão após missão, mas sem a presença de sua falecida irmã adotiva, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), e do pai, Alexei; recusando-se a se render a incursões novelescas ou excessivas, ela reitera seu status como uma das grandes atrizes da atualidade – e nos engolfa em uma performance irretocável do começo ao fim.

Dividindo os holofotes, temos Louis-Dreyfus retornando como a capciosa Valentina, navegando entre o drama e a comédia com facilidade invejável, roubando os holofotes e mostrando que sua personagem ainda tem muito a contar – principalmente no tocante às artimanhas que arquiteta para se livrar das consequências de seus atos. E, para além do comprometimento notável do restante do elenco, Pullman encarna um papel duplo que dialoga com a própria psique humana, unindo o lado bom e o lado ruim na explosiva interpretação do Sentinela e do Vazio, dando o nome a um potencial que será explorado em ‘Vingadores: Apocalipse’.

Um dos elementos que mais nos chama a atenção é a variedade de aspectos imagéticos, sonoros e estéticos que se afastam de outras produções da Marvel – algo muito positivo e que reflete o sopro de originalidade mencionado alguns parágrafos acima. A fotografia assinada por Andrew Droz Palermo drena cores brilhantes e aposta em uma sobriedade que navega entre tons monotônicos, entrando em um espetacular conflito com a dissonante trilha sonora da banda experimental Son Lux; o design de produção pega elementos de filmes de ação e espionagem para caracterizar tanto os grandiosos cenários quanto as vestimentas robustas dos protagonistas e coadjuvantes. E, para se manter fiel à identidade de títulos predecessores, temos duas cenas pós-créditos que preparam terreno para os fãs inveterados do estúdio.

‘Thunderbolts*’ é um bom retorno à forma da Marvel e apoia-se no talento nato de um elenco de peso e de um time por trás das câmeras que tem plena ciência do que está fazendo. Funcionando por si só e abrindo espaço para explorações muito interessante, o longa-metragem é um bem-vindo acerto do MCU e mostra que quaisquer erros podem ser reparados quando as responsabilidades estão definidas e ajustadas.

The post Crítica | ‘Thunderbolts*’ explora temas profundos e traz o MCU de volta à boa forma first appeared on CinePOP Cinema.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.