
No dia 1º de abril de 2025, o mundo se despediu do ator Val Kilmer. Embora pareça uma brincadeira de mau gosto devido à data, o ator realmente nos deixou cedo demais aos 65 anos. Kilmer fez parte do movimento inesquecível que foram as produções cinematográficas dos anos 1990 – segundo muitos, a melhor década do cinema de todos os tempos, em especial para os nostálgicos que cresceram naquele tempo.
É verdade que Val Kilmer estreou nos cinemas ainda na década de 80, onde estrelou produções cult e icônicas como as comédias ‘Top Secret’ e ‘Academia de Gênios’, a aventura de fantasia ‘Willow – Na Terra da Magia’ e, claro, principalmente um dos longas mais emblemáticos da época com ‘Top Gun – Ases Indomáveis’. Mas podemos afirmar também que Kilmer se tornaria um astro na década seguinte, em especial com seu primeiro trabalho nos anos 90, ‘The Doors – O Filme’ (1991), o qual muitos consideram seu melhor desempenho nas telas.

Foi sua atuação na cinebiografia musical, somada ao desempenho no faroeste ‘Tombstone – A Justiça está Chegando’ (1993), considerado um dos mais cults do gênero, que elegeram Val Kilmer como o novo Batman do cinema – isso há 30 anos, em 1995. Nenhum outro personagem gera tanta expectativa sobre seu intérprete no cinema quanto Batman – bem, talvez apenas o maior espião de todos os tempos, 007.
Após a saída de Michael Keaton (o primeiro Batman do cinema) – alguns dizem que foi pela substituição do diretor Tim Burton, outros pelo valor alto que o ator pediu na época, ou a junção das duas – a vaga estava aberta. Ela logo seria preenchida por Val Kilmer. O excêntrico ator viu na oportunidade uma nova escalada em seu estrelato, mas as filmagens não seriam tão divertidas quanto aparentavam. Em seu documentário intitulado ‘Val’ (2021), Kilmer deixa claro que a empolgação juvenil de viver no cinema o maior herói dos quadrinhos foi por terra uma vez que encarou as dificuldades impostas pelo traje – entre outras coisas o ator não conseguia escutar nada, já que tinha os ouvidos cobertos por uma grossa camada de borracha da máscara.

Fora o distanciamento causado pelo uniforme do herói, o clima de tensão se instaurou entre o protagonista e o comandante da obra, o cineasta Joel Schumacher, que não estavam na mesma página em relação a muito no que dizia respeito ao produto final. Kilmer teve altercações acaloradas com o diretor, alguns alarmam inclusive brigas físicas. É claro que eles nunca mais trabalharam juntos. Kilmer não gostou nada do resultado e não cansava de definir o filme como ruim. É claro também que, apesar do sucesso que o longa de estreia de Schumacher no universo de Batman conquistou financeiramente e de crítica, Kilmer não se sentiu nem um pouco impelido a retornar como protagonista.
As tretas de bastidores em ‘Batman Eternamente’ não pararam por aí. Isso porque Tommy Lee Jones, que viveu o vilão Duas Caras no longa, deixou claro para o colega de cena Jim Carrey (o vilão Charada) que o odiava. Em entrevista anos depois, Carrey coloca a culpa de tal comportamento no sucesso de ‘Ace Ventura’ (1994) e de seus filmes no mesmo ano (‘O Máskara’ e ‘Debi e Loide’), que se tornaram um divisor de águas em sua carreira, o transformando em um astro do time A de Hollywood. Acontece que no mesmo ano de 1994, Jones lançava seu projeto de paixão ‘Cobb – A Lenda’, sobre o jogador de baseball Ty Cobb. O filme de Jones se tornou um fracasso de bilheteria. O qual, segundo Carrey, foi devido ao sucesso de seus filmes. Com isso, Jones ficou amargo em relação ao recém astro Carrey, já que ‘Ace Ventura’, lançado na mesma época, terminou por eclipsar ‘Cobb’ nas bilheterias.

Nada disso, é claro, transparece em tela e na época nem desconfiávamos de tantos problemas nos bastidores do longa – muitos dos quais só foram revelados recentemente. O fato é: a Warner finalmente tinha o sucesso que pretendia em mãos e tinha também um filme mais aprazível para todo tipo de público. Um filme de herói que finalmente poderia incluir os milhões de garotos menores de idade pelo mundo inteiro, que se sentiam excluídos, de certa forma, pelos mais sérios, sombrios, violentos e mais adultos dois primeiros filmes de Tim Burton. Em especial ‘Batman – O Retorno’ (1992) não atingiu o sucesso financeiro do original, e causou boicote dos pais de crianças menores – além do desligamento do McDonald’s de sua campanha publicitária, com produtos relacionados. ‘Batman Eternamente’ trouxe tudo isso de volta.
‘Batman Eternamente’ é um filme mais colorido e mais domado em relação aos anteriores. Sentimos o clima de um filme mais família, um longa com temas e cenas mais infantilizados. Com o estúdio feliz, foi dado o sinal verde para uma continuação novamente orquestrada por Joel Schumacher. Porém, a seguir o cineasta pesaria muito a mão e a franquia sairia dos trilhos com ‘Batman & Robin’ (1997). É curioso pensar que ambos Tim Burton e Joel Schumacher cometeram o mesmo pecado, uma vez que o estúdio lhes deu “carta branca” após um primeiro sucesso. Burton obteve sucesso com ‘Batman’ (1989) e ao ser solto das amarras mergulhou de vez na escuridão com ‘Batman, o Retorno’ (1992). Já Schumacher, após o sucesso de ‘Batman Eternamente’ (1995), ao estar cheio de si, mergulhou de vez no clima cartunesco com ‘Batman & Robin’, colocando um fim nessa iteração do Homem Morcego no cinema.

Para termos uma ideia do investimento que a Warner fez em ‘Batman Eternamente’, na época ele foi o segundo filme mais caro da história, custando os mesmos US$100 milhões de orçamento de ‘True Lies’ no ano anterior. O terceiro filme do Batman bateu também o recorde de maior arrecadação no fim de semana de estreia. Com US$53 milhões em bilheteria nos EUA, o filme se tornava o mais lucrativo de todos os tempos (à época), quebrando os números de ‘Jurassic Park’ (1993) – que por coincidência havia derrubado os números de ‘Batman – O Retorno’ (então o campeão). ‘Batman Eternamente’ foi também o primeiro longa a arrecadar mais de US$50 milhões em um único fim de semana.
‘Batman Eternamente’ é parte do acervo do streaming Max.
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