Francisco: 12 anos de pontificado

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Pontífice é termo oriundo do latim para indicar quem constrói pontes: no caso, a ponte simbólica entre pessoas humanas e as divindades do Império romano. Para o Cristianismo, é inadequado dizer que alguém faz o papel de ponte entre Deus e as pessoas que Ele ama como filhos e filhas, mas Francisco merece esse título porque tem construído outras pontes.

Com efeito, nesses 12 anos de ministério como bispo de Roma, muitos muros foram derrubados e muitas pontes foram estabelecidas por ele. Haja vista a acolhida a imigrantes enxotados na Europa, a abertura a casais em segunda união ou em relação homoafetiva, o diálogo respeitoso com outras religiões ou tradições espirituais e, com grande destaque, a ponte entre a Igreja e a grande comunidade de vida da Terra, nossa casa comum. Assim, ele cumpre o que disse e repete “é preciso construir pontes que unem, e não muros que separam”.

Aqui, destacamos outra ponte de grande importância para o futuro da Igreja católica: a recuperação da sinodalidade como legado precioso do Concílio Vaticano II.

Como sabemos, o Concílio abriu novos caminhos para a Igreja católica ao promover a volta às suas fontes: retomar a experiência das primeiras comunidades cristãs, anteriores à forma de cristandade, para nelas se inspirar e colocar-se em dia e em diálogo com o mundo moderno. Inspirado pelo princípio filosófico que afirma a importância de ativar processos, mesmo sendo difícil prever seus resultados e o tempo necessário para alcança-los, Francisco se ocupou menos com normas, nomeações e decretos do que em promover eventos que fossem pontos iniciais de processos duradouros, cujos resultados só aparecerão no futuro. O principal deles é, sem dúvida, o processo que visa imprimir o caráter de sinodalidade – todos caminhando juntos, na direção apontada pelo Evangelho – como marca da Igreja católica.

É impossível, hoje, prever com certeza quais serão os resultados desse processo. Francisco e nós esperamos que dele surja um novo formato de Igreja: participativa, igualitária, dinâmica, em sintonia com a população sofredora e com a Terra, promotora da Justiça e da Paz no mundo, como é o projeto delineado na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho. Nada garante, contudo, que será assim. Esse projeto pode ser abortado pela estrutura clerical, há séculos presente nas instâncias de direção da Igreja, e ainda em vigor apesar de Francisco sempre denunciar e combater o clericalismo.

Por isso, nós católicos leigos e leigas não podemos nos limitar a celebrar e agradecer a Deus esses 12 anos de pontificado de Francisco, embora ele mesmo peça que se reze sempre por ele. Mantendo-nos firmes na oração – especialmente neste momento em que Francisco está com a saúde abalada – temos que ser firmes também no combate ao clericalismo e na construção de uma Igreja realmente sinodal, capaz de anunciar a Boa Notícia do Reinado de Deus a esse mundo em tempo de trevas e catástrofes.

 

 

 

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