Milho: demanda deve sustentar preços nos próximos meses

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Foto: Wenderson Araujo/Trilux / Arquivo CNA

O mercado do milho tem estado com preços altos, sustentado por uma forte demanda do produto, e as perspectivas são otimistas, avaliam especialistas.

A saca de 60 kg do grão estava cotada a R$ 83,62 na última quinta-feira (20), segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Isto representa uma alta mensal de 11,51%.

Já no mercado futuro da B3, as cotações chegaram a R$ 84,75 para o vencimento março/25 nesta sexta-feira (21), o que representa alta de 2,36%. Por sua vez, a Bolsa de Chicago, nos EUA, exibia um resultado negativo para o mesmo vencimento, a US$ 4,93, queda de 4,50 pontos.

No Brasil, os players do mercado de proteína animal fecharam 2024 com altas margens, o que tem viabilizado o incremento na demanda por milho, e novas fábricas de etanol de milho estão entrando em operação, o que também sustenta os preços, destaca o gerente de relacionamento na Hedgepoint Global Markets, Rodrigo Lamberti.

Os produtores do grão também têm boas perspectivas para o mercado internacional no futuro, uma vez que há forte demanda pelas exportações dos EUA, o que deve causar uma redução nos estoques finais do milho do país norte-americano e sustentar os preços em Chicago.

“Atualmente, os fatores altistas têm pesado mais sobre as cotações do que os fatores baixistas”, destaca Lamberti.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê alta de 5,5% na safra de milho, para 122 milhões de toneladas. Já nos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a projeção é de 126 milhões de toneladas.

Enquanto isso, a consultoria StoneX projeta uma produção total de 129,4 milhões de toneladas, na 1ª, 2ª e 3ª safras. Apenas na safrinha (2ª safra), são esperadas 101,7 milhões de toneladas.

O cenário também envolve preocupações com o clima, que pode prejudicar o final da safra na Argentina e a semeadura na janela ideal para a safra de inverno no Brasil.

“Como o plantio dessa safra ainda está em andamento, acompanhar o clima daqui em diante no centro-oeste brasileiro será essencial para determinar o potencial produtivo deste ano”, destaca o analista de inteligência de mercado de milho da StoneX, Raphael Bulascoski.

Fatores baixistas para o preço do milho

Do lado baixista, pressionam cotações as quedas do dólar ante o real; um possível aumento tanto na área plantada dos EUA na safra 2025/26 (já que os preços do milho têm estado mais atraentes que os da soja para os produtores do país) quanto na safrinha brasileira; e uma produção total mais alta que o esperado no Brasil.

“As expectativas da Hedgepoint são de que pode haver realmente um aumento de área de última hora, por parte dos produtores, considerando que os preços e as margens estão ficando atrativas. É bem possível ter uma safra perto dos 130 milhões de toneladas, se correr tudo bem com o clima”, diz Lamberti.

O especialista destaca que há boa umidade para a semeadura, como resultado das chuvas, mas lembra que o momento crítico para o potencial produtivo da safra de inverno ocorre entre abril e maio. “Portanto, monitorar o clima nesses meses é de suma importância” considera.

O desafio, agora, é ter uma produção brasileira suficiente para rentabilizar o produtor e abastecer a demanda aquecida da indústria.

Cenário pode mudar

Com a demanda sustentada e estoques reduzidos no Brasil e nos EUA, os preço devem se manter elevados nos próximos meses, mas isso pode mudar a partir do meio do ano, com a chegada da safra de inverno no Brasil e a safra 2025/26 nos EUA.

O mercado também tem acompanhado a política, atento às decisões tarifárias dos EUA. Se houver tarifas mais severas e consequentes retaliações por parte de grandes compradores de milho dos EUA, como o México e a Colômbia, pode haver lentidão para as exportações do país, lembra Bulascoski.

Um cenário de guerra comercial dos EUA com a China também poderia contribuir para uma demanda aquecida ao longo do ano, uma vez que parte da demanda chinesa poderia ser desviada para importações do Brasil.

Porém, Lamberti lembra que o milho dos EUA está com um dos preços mais competitivos, enquanto os do Brasil estão entre os menos competitivos e não se sabe o quanto as tarifas poderiam mudar essa situação.

Também não há certezas sobre a implementação das tarifas. “Cabe pontuar que esse é um cenário em que haja uma política tarifária agressiva e uma consequente retaliação contra os produtos agropecuários norte-americanos, o que não se concretizou até o momento”, destaca Bulascoski.

Além disso, a China espera uma produção de quase 295 milhões de toneladas de milho, o que já tem reduzido as importações. Enquanto o país asiático importou 10,6 milhões de toneladas do grão no último trimestre de 2023, no mesmo período de 2024 foram apenas 0,8 milhão de toneladas.

Segundo Bulascoski, o grande desafio para o Brasil é o clima e, com os atrasos iniciais no plantio, os risco são maiores. “Mas não vemos cenário ainda que determine cortes produtivos de monta até o momento”, pondera.

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