Como um componente de US$1 pode condenar um HomePod de US$300

Conserto do HomePod

Depois de um bom tempo sem escrever posts e participando principalmente dos nossos podcasts, estou de volta! Quem me acompanha há mais tempo aqui no MacMagazine sabe que, apesar de eu ser um apaixonado pelos produtos da Apple, quando resolvo escrever algo, não é necessariamente para elogiar a empresa. E isso é algo que adoro no MM: nossa liberdade de opinião, independentemente de qual seja, sempre baseada na nossa experiência pessoal.

Sem mais delongas, vim aqui relatar como quase precisei jogar fora cerca de C$800 (algo em torno de US$600, ou R$4.500) em produtos da empresa, tudo por conta de um problema que “custa” menos de C$1 para consertar (cerca de US$0,70 ou R$4).

O problema

Como grande entusiasta da Maçã, possuo praticamente todos os produtos — e, é claro, o HomePod não poderia ficar de fora. Estava nos Estados Unidos quando comprei meu primeiro par de HomePods, na cor preta. Com o tempo e em outras viagens para lá, adquiri também outro par, na cor branca.

Ambos funcionaram perfeitamente por muito tempo e eu sempre me impressionei com a capacidade de resposta aos comandos de voz, mesmo com o volume alto, além da qualidade de som ao reproduzir músicas — não vou nem comentar sobre a Siri, pois todos sabemos onde isso pode parar. 😛

Certo dia, um dos meus HomePods brancos simplesmente parou de funcionar; não acendia nenhuma luz. Estávamos no meio da pandemia e eu estava no Brasil. Liguei para a Apple (EUA), expliquei a situação e eles anotaram no sistema para que eu pudesse fazer a troca no meu próximo retorno aos EUA (coisas que encantam na Apple, quando você fala com a pessoa certa). Só que eu não tinha planos de ir para lá tão cedo, então quem resolveu esse “B.O.” para mim foi o Breno Masi, que gentilmente levou o HomePod estragado e trouxe outro novo. Ufa, par estéreo restabelecido!

Não muito tempo depois, me mudei para o Canadá e deixei o par preto com um amigo no Brasil, trazendo o branco comigo. Quase na mesma época, uma das unidades de cada par apresentou o mesmo problema: simplesmente parou de ligar, uma aqui no Canadá e outro lá com meu amigo, no Brasil. Tentei contato com a Apple, mas, como já fazia bastante tempo desde a compra e o AppleCare havia expirado, a “melhor” solução que me ofereceram foi uma substituição fora de garantia. O preço, porém, beirava o de comprar um HomePod novo. Em resumo: eu devolveria meu aparelho para ser reciclado, pagaria praticamente o valor cheio e ainda ficaria sem nada até o novo chegar. Achei um absurdo.

Voltei com o HomePod para casa e, se quisesse voltar a usá-lo como um par estéreo, teria que:

  • Comprar um HomePod da primeira geração (em uma substituição na Apple) pelo preço do novo de segunda geração.
  • Comprar dois HomePods de segunda geração.
  • Trazer o outro que ainda funcionava do Brasil (mas aí eu ficaria com um de cada cor).

Diante desses cenários nada favoráveis, acabei deixando o HomePod parado por um tempo. Passados quase dois anos e meio, após várias tentativas de usar apenas o HomePod que funcionava e sempre me irritando de não ter um parzinho pra ele funcionar em estéreo, decidi pesquisar se existiam empresas no Canadá que consertassem esse tipo de problema. Já tinha ouvido falar de algumas nos EUA, mas aqui não achei nada concreto. Se fosse algo em torno de C$70 a C$100, ainda valeria a pena só para voltar a ter o par estéreo.

Procurando uma solução

Não encontrei ninguém e resolvi então me aventurar no YouTube. Foi quando descobri o site e canal do Nic’s Fix. Cheguei a cotar o envio para eles nos EUA, mas, entre frete de ida, conserto e frete de volta, o custo seria praticamente o mesmo de comprar um novo. Resolvi, então, explorar melhor os vídeos que mostram como resolver o problema. Pelas características do meu caso e experiência do Nic’s Fix consertando HomePods, tudo indicava que o defeito estava em um diodo que custa menos de US$1 — e que seria responsável por cerca de 95% dos casos de HomePods que não ligam.

A Apple oferece diversos programas e opções de reparo para os seus dispositivos, mas, definitivamente, o HomePod ficou fora dessa lista. Confesso que, enquanto escrevo este post, estou me segurando para não demonstrar todo o meu sarcasmo, pois os maiores problemas do HomePod, na minha experiência e de pessoas próximas, surgiram logo depois que a garantia de fábrica ou o AppleCare expiraram — coincidência?…

Depois de muito relutar, resolvi abrir a minha caixa de ferramentas. Pelo vídeo do Nic’s Fix, percebi que já tinha quase tudo o que precisava para tentar o reparo. Eu tinha uma espécie de espátula da iFixit, a chave específica para os parafusos (no HomePod, todos usam o mesmo tipo), uma chave de fenda comprida e um testador de circuito para ver se o diodo estava ou não em curto. O que me faltava era um soprador de calor para remover o diodo em si, mas isso eu explico como resolvi mais para frente.

O vídeo (em inglês) do Nic’s Fix mostra o passo a passo em detalhes:

Abaixo, comento como foi minha experiência:

  1. Abrir a tampa superior com a espátula: tive receio no começo, mas até que foi bem simples.
  1. Remover os primeiros parafusos: tranquilo; só é bom mantê-los bem organizados para não trocar a ordem na hora de remontar.
  1. Soltar os fios que prendem a malha de tecido (mesh): bem fácil, mas é preciso cuidado porque o local onde eles estão amarrados pode quebrar facilmente.
  2. Remover a placa lógica: é essencial prestar atenção à dica do vídeo para inserir a espátula no lugar certo; caso contrário, você pode danificar o suporte.
  3. Soltar os flat cables: é delicado, mas nada impossível de fazer com cuidado.
  4. Retirar a malha em mesh: também bem simples.
  5. Remover a coroa superior (depois de soltar todos os parafusos da parte superior): para mim, essa foi a parte mais difícil. Parece que você está quebrando todo o HomePod. É preciso atenção para não colocar a chave de fenda longa no lugar errado e acabar danificando o subwoofer, que já fica exposto. Essa peça é bem colada e justa, então é normal precisar fazer força.
  6. Seguir removendo parafusos e placas internas: aqui é “mais do mesmo”, tirar mais alguns parafusos e remover duas ou três camadas de placas até chegar ao circuito problemático, conforme ele vai explicando no vídeo.

Uma vez removida a placa, constatei que o tal diodo estava mesmo em curto.

Fiquei empolgado, pois isso poderia significar que o conserto seria rápido. Fui pesquisar o preço do soprador de calor e do diodo na internet. O diodo foi fácil de encontrar: comprei um pacote com cinco unidades por C$5; já o soprador de calor custava cerca de C$90, um valor alto para algo que eu provavelmente só usaria uma vez.

Esperei o diodo chegar e, em seguida, procurei alguma loja de eletrônicos por perto. Acabei achando um rapaz que trabalhava em casa, numa pequena oficina, e ele fez a substituição em minutos. Dei C$40 pelo serviço, pois ele me atendeu tarde 1 — se eu tivesse tido paciência ou negociado mais, provavelmente faria por um valor ainda menor.

Remontar o HomePod foi razoavelmente tranquilo, exceto na hora de encaixar novamente a coroa superior. Mencionei que foi a parte mais difícil de remover, e, na hora de colocar de volta, os parafusos não encaixavam 100%. Acho que errei alguma coisa ali. No vídeo do Nic’s Fix, parece ser bem simples esse processo. Além disso, a parte final (aquela “tampa” que é colada) achei que não ficou 100%, pois é difícil de reencaixar ou recolar, depois que você descola. Ainda assim, somente alguém muito detalhista perceberia.

Fechei tudo, liguei na tomada e…

FUNCIONOU! 🥳🎉

O diodo novo resolveu o problema e o HomePod, que estava parado há dois anos e meio, voltou à ativa. Ele ainda estava na versão 16 de software, então precisei atualizar. Depois disso, consegui recriar o par estéreo e voltei a assistir meus filminhos. Isso me lembrou o quanto o HomePod mini é legal, mas não chega aos pés da qualidade de som do modelo original — e agora, da segunda versão (que é quase a mesma coisa).

Se você tem um HomePod encostado — ou conhece alguém que esteja na mesma situação —, talvez essa seja uma alternativa. Vale ressaltar que, por algumas etapas envolverem fazer um pouco de força, me parece sempre ter um risco envolvido de se machucar, mas com cuidado é possível de ser feito — afinal, é um produto de quase C$400.

Eu não compraria um soprador de calor específico só para isso, a menos que você mexa bastante com esse tipo de reparo. No Brasil, se alguém lhe cobrar de R$30 a R$50 para trocar o diodo, será um valor bem gasto (embora, em muitos casos, acredito que seja bem mais em conta). Se não for esse o defeito, aí fica mais complicado, mas ao menos você terá tentado — no site Nic’s Fix tem diversos pré-diagnósticos.

Não existe aqui neste post nenhuma collab, patrocínio, nem nada do tipo: existem outros vídeos no YouTube que ensinam também, mas gostei desse em especifico pois além do problema mais comum de “morte” de um HomePod, eles se preocuparam em mostrar outros possíveis problemas e fizeram um site bem amigável, tanto pra vender o serviço deles quanto para quem quer se aventurar e fazer sozinho, como eu fiz.

O mais interessante é ver, por meio dos vários vídeos do Nic’s Fix, que ele foi aperfeiçoando cada vez mais o processo ao longo do tempo, tornando-o ainda mais prático. Então, se você tem um HomePod praticamente “condenado” em casa, vale a pena arriscar — afinal, o pior que pode acontecer é ele continuar do jeito que já está.

Boa sorte a todos que se aventurarem nesse conserto! Vou repetir o processo agora com o HomePod preto, que ficou lá no Brasil. Se você fizer e der certo, economizará uma bela grana, e ainda evitará jogar fora um produto caro e que pode voltar a trazer toda a qualidade de áudio que a gente tanto ama. Espero que minha segunda tentativa seja mais fácil que a primeira. 😄


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Notas de rodapé

1    Para os padrões canadenses, depois das 19h30 já é considerado “noite avançada”.
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