O agro e a água

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Uma pesquisa, divulgada recentemente pelo Instituto Serra Pilheira, comprova que as florestas das terras indígenas são as responsáveis pela chuva que rega as terras do agro. Não é ou não deveria ser novidade para ninguém que as matas são importantes para a vida coletiva, diferentemente do que pregam muitos por aí. Mas essa pesquisa talvez ajude a abrir a cabeça de quem ainda insiste em devastar as terras indígenas para dar lugar ao pasto e à agricultura. Acabar com as terras indígenas é como matar a galinha dos ovos de ouro.

Essas terras influenciam as chuvas que regam 80% da área das atividades agropecuárias brasileiras, transformando gotas de água em dinheiro, que é o que mais interessa a uma fatia da população. Conforme o citado instituto: em 2021, a renda econômica do setor agrícola nas áreas mais beneficiadas por essa dinâmica chegou a R$ 338 bilhões – 57% do total nacional.

Apesar das campanhas para o uso consciente da água, pouco se fala que os grandes consumidores são a agricultura e a pecuária. Isso significa que, sem chuva, o pasto e a plantação vão parar – ou melhor, viram em nada. Até porque o brejo é muito rico e importante para o ecossistema.

O estudo demonstra que há estados que dependem ainda mais dessas chuvas, como Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Porém, Rondônia e Mato Grosso são os estados que mais desmatam florestas desde 1985. É como se a galinha dos ovos de ouro, em vez de alimentada e cuidada, fosse torturada; em vez de agradecimento, recebesse ingratidão.

Já tratamos desse assunto aqui, no texto “Os rios voadores e a influência no ritmo das chuvas”, que explica como as florestas amazônicas, ou seja, terras indígenas, áreas que devem ser preservadas a todo custo, influenciam diretamente no índice pluviométrico do resto do Brasil, principalmente no Centro-Oeste e Sul.

A pesquisa, realizada por dez cientistas e respaldada por pesquisadores especializados no tema, inova ao transformar dados em números reais. Isso talvez ajude a justificar a existência e proteção das florestas, que ainda são encaradas como entrave ao progresso.

Criou-se um conceito no Brasil de que o agronegócio é relativo tão-somente aos grandes agropecuaristas e plantadores de grãos. Mas na origem da palavra está todo o segmento, seja o grande ou o pequeno produtor, todo setor interligado com a cadeia produtiva que envolve o cultivo de produtos agrícolas e pecuários, independentemente da proporção. Contudo, essa ideia já se arraigou, e temos a imagem de um agro que avança tanto em direção ao mercado internacional como nas áreas nativas. Não deveria ser. Mas é.

A água é um bem sagrado, de direito universal. Passou da hora de o agro cuidar dessa fonte de vida.

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