Pacote do governo não vai cobrir o buraco na economia, diz especialista

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O anúncio, ainda preliminar, feito pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com as principais medidas planejadas para compor o ajuste fiscal do governo, feito na noite da quarta-feira (27), gerou frustração entre economistas. 

Economistas consultados pelo BP Money avaliaram que o pacote não apresentou mudanças significativas na meta de contenção de gastos.

“Acredito que o pacote demonstrado por Haddad não vai cobrir o buraco na economia que essas medidas vão deixar. Só se a proposta viesse com um pacote muito maior, acima dos R$ 70 bilhões que estimaram”, avaliou Jeff Patzlaff, especialista em mercado de capitais e Planejador Financeiro CFP.

Para o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, o pacote anunciado têm dimensões inferiores às necessárias para recobrar credibilidade e alcançar equilíbrio fiscal.

Em compasso com a análise de Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital, que avaliou o anúncio falhou em passar uma mensagem robusta de que “o governo realmente leva a sério a contenção de gastos como uma engrenagem crítica para o crescimento robusto da economia e redução responsável das taxas de juros”.

Surpresa com a mudança no IR

Felipe Vasconcellos, analista econômico, destacou que o anúncio trouxe novidades, mas deixou lacunas importantes. 

“O ajuste fiscal de R$ 70 bilhões não passou de uma manchete para tentar preservar a imagem do governo e deixou a desejar em muitos aspectos. A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a tributação de rendas superiores a R$ 50 mil foram surpreendentes, mas não houve detalhamento sobre como essas medidas se compensam e quais seriam seus impactos na economia como um todo.”

Vasconcellos também enfatizou que a percepção do mercado em relação ao anúncio foi negativa desde antes da divulgação oficial. 

“O mercado já começou a precificar um anúncio aquém do esperado, o que levou o dólar a fechar na sua máxima histórica, cotado a R$ 5,91. Além disso, como a implementação de parte das medidas depende de aprovação no Congresso, é necessário mais clareza para avaliarmos os reais impactos.”

Incerteza para o mercado

Patzlaff acredita que a reação negativa deve se intensificar. “Existe grande chance de o mercado abrir de forma negativa, com grande oscilação, já que as medidas não fizeram jus ao objetivo principal, que é minimizar ou zerar o déficit primário.”

Vasconcellos criticou a ausência de uma mensagem clara sobre austeridade fiscal. “O governo falhou em passar uma mensagem robusta de que realmente leva a sério a contenção de gastos como uma engrenagem crítica para o crescimento robusto da economia e a redução responsável das taxas de juros.”

Principais medidas fiscais anunciadas

Limitação no reajuste do salário mínimo

O ministro propôs alinhar a correção do salário mínimo às regras do Novo Arcabouço Fiscal (NAF), restringindo aumentos que possam comprometer o equilíbrio fiscal.

Controle das emendas parlamentares

As emendas parlamentares terão um crescimento inferior ao estipulado pelo NAF, como forma de controlar gastos discricionários.

Alterações no abono salarial

A concessão do abono salarial será limitada a quem recebe até R$ 2.640, alinhando-se gradualmente ao equivalente a 1,5 salário-mínimo.

Regras para aposentadorias militares

Entre as mudanças, está a introdução de uma idade mínima para aposentadorias militares, além de limites para concessões de pensões.

Recursos prioritários para a Saúde

Metade das emendas destinadas às comissões parlamentares será obrigatoriamente aplicada na área da Saúde.

Reformulação no Imposto de Renda

A faixa de isenção do Imposto de Renda será ampliada para até R$ 5 mil, com compensação fiscal através de alíquotas mais altas para rendas acima de R$ 50 mil.

Rigor no teto remuneratório

O governo reforçará o cumprimento do teto remuneratório no serviço público, buscando coibir excessos e garantir maior controle sobre os gastos com pessoal.

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