Americanas (AMER3): o que está por trás da alta acima de 50% em julho?

Foto: Freepik / Ações

Uma das maiores varejistas do mercado brasileiro, a Americanas (AMER3) passou por um período conturbado desde a descoberta do rombo de R$ 23 bilhões no ano passado. Justamente por esse cenário, as ações chegaram a acumular alta acima de 50% no mês de julho após o fechamento de segunda-feira (29).

Uma das razões que lançou ânimo sobre os investidores para o papel foi a aprovação de aumento de capital pela Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), no início do mês.

O órgão permitiu que a Americanas realizasse a operação referente à compra compra de participação societária minoritária pelos bancos Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11), Itaú (ITUB4), Safra e BTG Pactual (BPAC11). 

Além disso, houve a aquisição de controle pelos “acionistas de referência”, ligados a Jorge Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

“Havendo capital novo, a perspectiva é a de que a empresa continue operando e gerando lucros, mesmo que apenas para pagar os débitos”, afirmou Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia (CORECON-SP), ao BP Money.

No entanto, ele analisou que a reação da Bolsa às ações da varejistas ainda ainda parece “mal calibrada”, pois “faltam muitas informações sobre o verdadeiro estado patrimonial da empresa”.

Para o presidente da Corecon-SP, a “queda repentina, em maio, não se justificava, a não ser por boatos que não se mostraram corretos, apenas por pressa demais dos acionistas minoritários em se livrar das ações”.

Quanto à aprovação do Cade ao aumento de capital, a busca dos bancos citados pode ser pela recuperação de parte de suas dívidas existentes, avaliou André Vasconcellos, vice-presidente do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e Professor da Escola de Negócios Trevisan.

“Ao converterem parte das dívidas em participação acionária, eles ganham uma posição melhor para recuperar seus investimentos à medida que a empresa se recupera financeiramente. Além da posição de influência na gestão da recuperação da Americanas” afirmou.

Por outro lado, as mudanças na administração, com possibilidade de novos planos estratégicos e aumentar a confiança dos investidores, também recai positivamente sobre essas ações, disse Vasconcellos.

“A aprovação do Cade pode ser interpretada como um voto de confiança na gestão da empresa. Isso significa que os reguladores acreditam que a Americanas está tomando medidas adequadas para sua recuperação e crescimento”, indicou Vasconcellos.

A chance de parcerias estratégicas também não é descartada. Isto porque, mesmo em meio a dívidas e RJ, a Americanas ainda é uma das varejistas de maior participação no mercado, com um espaço de negócios consolidado em seu plataforma e-commerce.

Americanas (AMER3) mostra chance de se recuperar de dívidas

A fraude contábil no montante de R$ 25,3 bilhões chegou ao conhecimento do Brasil em janeiro de 2023. Mais de um ano depois, em junho deste ano, uma operação da PF (Polícia Federal) rendeu 2 mandados de prisão preventiva e outros 15 mandados de busca e apreensão, inclusive contra o ex-CEO Miguel Gutierrez, que chegou a ficar foragido.

Ainda em janeiro do ano passado, a Americanas protocolou seu pedido de recuperação judicial, que foi homologado em fevereiro de 2024. Atualmente, o curso do processo já concluiu o pagamento a alguns grupos de credores, como os trabalhistas.

Sendo assim, segundo Eduardo Terashima, sócio de contencioso do NHM Advogados, as obrigações estão sendo cumpridas e, considerando o aporte de capital relevante, há expectativas de que o cenário siga assim.

No exterior, a gestão da Americanas pediu proteção judicial contra os credores, em Nova York, o que foi reconhecido pela Justiça e terminou a validade dos efeitos do plano de RJ nos EUA, o que “abre caminho” para que os credores estrangeiros aceitem as cláusulas de renegociação, explicou o vice-presidente do IBRI.

“Desde que a nova gestão assumiu, a Americanas, em recuperação judicial, também decidiu priorizar a rentabilidade e reduzir o comércio eletrônico próprio para aumentar a presença de lojas oficiais de grandes marcas dentro de seu “shopping virtual”, sinalizando para um futuro do negócio com protagonismo da Ame Digital, da inteligência artificial e do machine learning” analisou o executivo.

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