A Eleição de Trump – A Era do Vulgarismo e da Superficialidade

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Na aurora do século XXI, um episódio assombroso se desenhou nas terras da América do Norte, com o desfecho da mais recente eleição presidencial dos Estados Unidos. O nome, que ressoou no mundo inteiro, é o de Donald Trump. Um homem cuja ascensão política não apenas desafia, mas subverte, o entendimento de como um país deve ser conduzido. O triunfo de Trump exibe, de maneira cristalina, a decadência de certos valores que, durante séculos, foram tidos como imunes à pressão das massas, ao histrionismo das imagens e à fúria das redes sociais. Trata-se de uma vitória do espetáculo sobre a substância, da ruidosa superficialidade sobre a reflexão profunda.

Ah, se pudéssemos imaginar o que seriam os antigos ideais de um governo elevado, digno de suas instituições! O espírito democrático, que um dia foi uma ânfora de sabedoria, parece ter sido desvirtuado, derramado sem cerimônia nas valas do vulgarismo. O populismo, essa força primitiva que se alimenta da insatisfação das massas e da desesperança dos que já não acreditam nas estruturas tradicionais, tornou-se a força política hegemônica. O que se vê agora não é mais a busca pela verdade, pelo bem comum, mas o culto da personalidade, o triunfo da emoção sobre a razão. O político, antes um erudito e estadista, agora é substituído por um ator de comédia, alguém cujo maior talento reside na capacidade de manipular, de emocionar, de provocar.

Em Trump, portanto, não há mais um político racional e comprometido com o futuro, mas um ser que, como um novo Nero, governa com a máscara de um showman. É difícil não pensar que, diante da monumental importância dos Estados Unidos como potência mundial, seu futuro seria entregue nas mãos de alguém cuja experiência política se resume a esquemas de marketing e programas de televisão. Um “empresário” que, de um império de fachada, lança-se à política, revestido de uma aura de pseudo-celebridade, como um novato a dar ordens a um palco que desconhece. O império de Trump não se baseia em ideias consistentes, mas na manipulação das emoções coletivas, no apelo aos sentimentos mais imediatos, mais rasteiros.

Mas o verdadeiro escândalo dessa ascensão não reside apenas na figura de Trump, mas no fenômeno que ele representa. A eleição de um homem cujas promessas são vazias, cujas palavras se limitam a chavões e jargões, é um reflexo de uma sociedade que se afasta cada vez mais dos princípios elevados que sustentaram suas grandes instituições. O povo, que outrora lutava por liberdade e justiça, agora se contenta com promessas fúteis de grandeza e prosperidade, sem questionar os meios pelos quais tais objetivos seriam alcançados. E, no entanto, o que mais causa perplexidade não é o fato de que Trump tenha vencido, mas o fato de que sua vitória tenha sido, para muitos, um triunfo da democracia.

De fato, a vitória de Trump é a vitória do superficial, do raso. O cidadão moderno, que uma vez se orgulhou de ser portador da razão iluminada e do discernimento, agora se vê envolto em um espetáculo vazio, em que o importante não é o que é dito, mas como é dito, e quem o diz. O debate público, que antes deveria ser um espaço de elevação das mentes e do espírito, tornou-se um terreno fértil para as fake news, para as mentiras e manipulações que alimentam a bruta emoção popular.

E o mais alarmante, caro leitor, é que esse fenômeno não se restringe aos Estados Unidos. Não se trata apenas de uma anomalia americana, mas de uma doença que ameaça as democracias do mundo inteiro. A ascensão de líderes que se apresentam como salvadores, mas que não possuem nenhum compromisso com a verdade ou com a justiça, está em todos os continentes. O populismo, longe de ser um sintoma passageiro, tornou-se uma regra, e a resistência a ele, uma exceção. O que antes era visto como um risco à razão e à prudência se tornou, aos olhos de muitos, uma nova normalidade. A lógica da vitória eleitoral sobrepujou a ética, a reflexão e o bom senso.

E, mais assustador ainda, é que esta mudança não é apenas política, mas cultural. A intelectualidade, aquela que deveria ser o farol a guiar a sociedade, parece mais preocupada em se ajustar às novas realidades do que em refletir profundamente sobre os rumos que estamos tomando. Onde estão os grandes pensadores? Onde estão as vozes que, no passado, erguiam-se contra o populismo e as falsas promessas? A crítica que antes poderia vir das altas esferas da cultura e do pensamento, agora encontra-se abafada, muitas vezes negligenciada por aqueles que preferem viver à sombra da popularidade momentânea. O mundo intelectual, ao invés de levantar as questões necessárias, muitas vezes se curva à lógica da aceitação e da complacência.

E assim, o futuro da grande democracia americana parece incerto, ameaçado por um momento em que a razão foi deixada de lado em nome da emoção. O que restará ao mundo diante de uma presidência que desrespeita os princípios do bom senso, que opta pela ruidosa simplicidade em detrimento da eloquência e da profundidade? O que nos espera, senão o reinado da aparência, do espetáculo e da banalidade? A resposta, temo, será dada pelo próprio tempo, que, implacável, mostrará se, diante do vulgo e da superficialidade, conseguiremos reconquistar a dignidade da política e da cultura.

Que possamos, ao menos, olhar com olhos críticos para esse espetáculo de vulgaridade, e refletir sobre os caminhos que trilhamos, antes que a sombra do populismo se espalhe ainda mais, obscurecendo o que restou de luz em nossa civilização. Pois, como bem sabem aqueles que ainda se importam com a arte de pensar, os piores inimigos da verdade não são apenas os mentirosos, mas aqueles que se contentam com a mentira como se ela fosse verdade.

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