Comunidade alemã em Foz do Iguaçu perseguida na 2.ª Guerra Mundial

comunida alema perseguida - foto nosso tempo

O ano de 2024 marca o bicentenário da imigração alemã no Brasil. Na história de dois séculos, um fato na fronteira destoa das celebrações oficiais, que foi a perseguição a alemães e a seus descendentes em Foz do Iguaçu, durante a 2.ª Guerra Mundial, na década de 1940.

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Acusações e delações infundadas, controle, ntos, prisões, proibição do idioma, perda de bens e desterro foram injustiças enfrentadas por essa pacífica comunidade, perseguição que também alcançava italianos. O resgate é do jornal Nosso Tempo, na edição n.º 48, de 1982.

O enfrentamento ao nazifascismo no mundo unia o Brasil aos países “Aliados” contra o “Eixo” – que era capitaneado pela Alemanha de Adolf Hitler. O governo brasileiro estabeleceu regras mais duras de segurança nacional na faixa fronteiriça, caso de Foz do Iguaçu.

A lei dava “total autonomia para as autoridades policiais e militares agirem no controle e repressão das colônias alemãs”, reportou o jornal. “A dura aplicação dessa lei estava ligada às informações coletadas pelos organismos policiais do governo.”

Os colonos alemães em Foz do Iguaçu, expôs a reportagem, foram vítimas de atos injustos, cometidos por quem estava mais interessado em “estar bem com as autoridades”. Possíveis atos de “espionagem” eram preocupações secundárias da deduragem, citou o Nosso Tempo.

Rememorou o semanário que a colonização alemã em Foz do Iguaçu começou nas primeiras décadas de 1900. Essas famílias chegaram utilizando a chamada “rota do sul”, muitas delas estabelecendo-se em pequenas propriedades rurais.

Injustiça, confinamento e roubo

As circunstâncias da época foram terreno fértil para a atuação, por exemplo, de um escrivão e um agrimensor da prefeitura. Esses dois personagens, pontuou o Nosso Tempo, foram apontados por relatos como figuras centrais para o início das perseguições.

“Apesar de todos os cuidados, por exemplo, não falar alemão na frente de estranhos, muitas denúncias chegaram aos ouvidos das autoridades”, reportou o impresso. Parte dos moradores da colônia sequer sabia falar português; já o idioma alemão era transmitido familiarmente.

Vieram as primeiras prisões e o medo tomou conta da pequena comunidade alemã. “Tudo leva a crer que muitos se aproveitaram da situação em que se encontravam os colonos alemães para comprar suas terras e animais”, contou a matéria.

“Inclusive, dizem que muitas denúncias eram fabricadas somente com o objetivo de ‘meter a mão’ naquilo que custou tanto trabalho e sacrifício aos imigrantes”, lê-se no texto. A escalada de medo e perseguição só cresceu.

Moradores da cidade, alemães, “foram presos e mandados para centros de confinamento. Prova disso é o caso de Rodo Sekart, que mesmo tendo esposa em adiantado estado de gravidez, foi mandado para Guarapuava juntamente com ela”, denunciou o Nosso Tempo.

Em outro caso destacado pelo jornal, o padre Manuel Konner fora acusado, pelo citado escrivão, de esconder armas e munições na casa paroquial. Em batida policial, foram encontrados alguns materiais, provavelmente deixados por membros da família real da Áustria, hospedados no local, em viagem às suas propriedades no Paraguai.

“Dom Manoel Konner foi enviado, então, a Guarapuava em total incomunicabilidade”, ditou o jornal. A matéria de cunho histórico elencou várias situações de perseguições, prisões e expulsões.

Contradições daqueles tempos, o jornal fez saber, a partir de depoimentos, que os alemães na fronteira questionavam o fato de a polícia persegui-los, mas não coibir o contrabando de pneus. O produto valioso chegava à Argentina para, depois, ser enviado para a Alemanha em guerra.

Terminada a 2.ª Guerra Mundial, momento de balanço. “Colonos alemães injustiçados durante o período guardam ate hoje [1982, ano da reportagem] as tristes lembranças, que são cicatrizes na história de Foz do Iguaçu”, sublinhou o jornal.

“Muitos foram e não voltaram”, enfatizou a reportagem. “Outros, ao voltarem encontraram suas propriedades ocupadas por oportunistas ou então faltando animais e com as plantações devastadas”, concluiu o Nosso Tempo.

Acesse a edição do Nosso Tempo com a reportagem

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